Ângela Meyer eleita presidente da UPES

A presença das jovens mulheres no movimento estudantil paulista inicia mais um capítulo. No último domingo (13/04), em Americana, com mais de 500 delegados em urna, mais de 250 escolas de todas as regiões do estado envolvidas no processo eleitoral.

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Uma nova menina é eleita presidenta da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES), Ângela Meyer, de 19 anos que na gestão anterior ocupou o cargo de diretora de comunicação.

A líder estudantil que na última gestão acompanhou mais de 40 manifestações e paralisações que inseriram a juventude secundarista de São Paulo em momentos decisivos para educação brasileira traça a partir de agora as novas diretrizes para o movimento estudantil. Encerrando o último período em que esteve na linha de frente da greve dos professores da rede pública por mais investimento na educação, paralisações nacionais da UBES, Jornada de Lutas da Juventude, greve das ETEC’s e tantas outras manifestações contra o autoritarismo nas direções escolares, nas ruas contra o aumento das passagens e melhorias no transporte público na cidade, a UPES inicia um novo ciclo.

Movidos pelas transformações que levantam os grêmios estudantis nas escolas, as passeatas nos bairros e a organização das entidades municipais que cumprem firme seu papel de representar os secundaristas na “selva” que é a cidade grande. O representativo Conupes desse final de semana encerrou a gestão de Nicoly Mendes, outra jovem mulher que presidiu a UPES, abrindo os novos caminhos para combater o machismo, a homofobia, o racismo, o autoritarismo a falta de investimento, e por fim, como diz Ângela, “construir uma entidade do tamanho dos nossos sonhos”.

COmunicação da UPES

Entrevista com Ângela Meyer

Reconstruir nossas escolas e construir uma UPES do tamanho dos nossos sonhos

Como definir em poucas palavras a importância do 17º Congresso da UPES?

O 17º Congresso da UPES foi extremamente importante e representativo, debatemos a reserva de vagas, o passe-livre, a atuação do Movimento Estudantil e a questão do machismo nas escolas. Reunir 500 estudantes no estado de São Paulo apesar da presença das direções autoritárias nas escolas é uma grande vitória.

No último período, você acompanhou de perto os dois anos de gestão que marcaram muitas conquistas e o surgimento de novos caminhos de luta. Para você, qual foi o principal destaque para a entidade?

Nos últimos dois anos pulverizamos o trabalho da UPES e a atuação do Movimento Estudantil secundarista pelo estado, conseguindo dialogar com estudantes de muitas regiões do estado, o que resultou na construção de cerca de 40 manifestações e paralisações que trouxeram vitórias aos estudantes: a conquista do passe-livre em Suzano, a derrubada da carteira estudantil no Tonato em Carapicuíba, entre outras.

A greve das redes técnicas iniciada pelos servidores e professores evidenciou um grave cenário de sucateamento na modalidade de ensino em São Paulo. Os estudantes marcaram firme suas reivindicações, você saberia dizer qual delas é a mais central e responsável por unificar tantos estudantes?

A principal pauta dos estudantes das escolas tanto durante quanto posteriormente à greve é a construção de uma ETEC que seja igual a do comercial, precisamos acabar com essa falsa propaganda de que a escola técnica paulista é modelo e não apresenta nenhum problema! A greve foi a oportunidade de pontuar os problemas estruturais e educacionais que existem no Centro Paula Souza.

Durante as tradicionais jornadas de luta que a UPES constrói e as paralisações nas escolas em agosto de 2013, o enfrentamento às direções escolares autoritárias foi tema recorrente nos atos. De que maneira a repressão ainda atinge o dia a dia das escolas em São Paulo?

Os estudantes enfrentam cotidianamente os resquícios da ditadura nas escolas: são impedidos de se organizar no movimento estudantil, montar o Grêmio Estudantil e, até mesmo de entrar 5 minutos atrasado na aula devido ao trânsito ou o ônibus que atrasou. Essas são situações de intolerância que infelizmente existe em nossas escolas.

Como jovem secundarista, presidenta da UPES, mulher e feminista à frente da entidade de máxima representação de sua classe estudantil em uma grande cidade como São Paulo, na construção cotidiana do movimento estudantil, quais experiências mais te marcaram?

Ter sido responsável por acompanhar a cidade de São Paulo durante um período foi extremamente importante. Entender a realidade do estudante paulistano (que é ímpar) e poder viver toda a complexidade da capital com todas as dificuldades que são apresentadas no cotidiano com certeza contribuiu muito para a minha formação.

Em pleno ano de 2014, em que cada dia mais os secundaristas se levantam e se organizam para mudar a sua realidade, você saberia definir qual é a cara da escola paulista e de seus estudantes?

Pós-manifestações de junho, os estudantes tem um anseio maior que antes, eles querem mudar a sua realidade cotidiana. A juventude se apresenta mais ousada e disposta a lutar por uma nova escola, que apresente perspectiva real na vida do estudante, uma escola que tenha estrutura adequada, democracia e uma grade curricular atrativa.

Em um estado tão grande como São Paulo, como discutir a diversidade de gênero, combater o racismo e a homofobia a partir da participação dos estudantes no movimento estudantil?

Combater a diversidade de gênero, o racismo e a homofobia é debater esses temas no cotidiano da escola, os Grêmios Estudantis precisam organizar rodas de conversa que quebrem os tabus e desconstruam a opinião que a mídia e a parcela conservadora da sociedade impõe.

Nas jornadas de junho e julho de 2013 os estudantes paulistas se destacaram nas manifestações contra o aumento e contra a forte repressão da polícia militar. Essa pauta deve reaparecer na próxima gestão?

A bandeira do Passe-Livre com certeza está entre as principais reivindicações dos estudantes, vamos organizar junto aos Grêmios e entidades municipais muitas manifestações e com certeza vamos conquistar a tarifa zero para os estudantes em muitas cidades.

O caos do transporte público é uma pauta permanente no histórico dos estudantes paulistanos. Sabemos que em algumas cidades a pressão do movimento estudantil tem colhido seus frutos, quais deles vocês destaca?

Recentemente os estudantes de Suzano começaram a usufruir do Passe-Livre, foram 12 anos de muita luta e manifestação, gerações de secundaristas foram às ruas no município junto a UMES Suzano e a UPES.

Das lutas permanentes que a UPES quer avançar ainda mais, quais são os desafios centrais a ser enfrentados na nova gestão?

Precisamos reconstruir a escola paulista: precisamos de mais estrutura, de democracia e da reformulação da grade curricular. Vamos também enfrentar a batalha pela aprovação da reserva de vagas nas universidades estaduais.

Iniciando um novo período, qual é a mensagem de coragem para gestão que se inicia?

Vamos ocupar as ruas do estado de São Paulo, conduzir essa gestão com muita rebeldia, com a cara dos estudantes e transformar a UPES numa entidade do tamanho dos sonhos paulistas.