João Vicente Goulart defende reformas democráticas

O filho do presidente deposto pelo golpe militar de 1964 João Goulart, João Vicente Goulart, participou de um encontro com sindicalistas paulistas na tarde desta quinta-feira (10), realizado no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo.

Por Mariana Serafini, do Vermelho

João Vicente Goulart - Mariana Serafini

Hoje à frente do Instituto João Goulart, João Vicente defende a continuidade das reformas de base, apresentadas pelo pai, então presidente, em 13 de maio de 64 no histórico comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro.

Para João Vicente, as elites são a parcela da população brasileira que mais impedem o desenvolvimento do país. “Tem que se mexer nos privilégios da elite, quer ela queria ou não”. Ele defende a reforma tributária, porque o sistema hoje visivelmente privilegia as classes mais abastadas, para ele, este é o princípio de grandes mudanças no país.

“O Instituto João Goulart luta para mostrar o quanto as reformas de base ainda são necessárias”. João Vicente defende a democratização dos meios de comunicação e acusa a imprensa hegemônica atual de ainda ser a mesma que apoiou e ajudou a construir a ditadura militar brasileira. “Hoje nós temos aí seis famílias que dominam os meios de comunicação, isso não pode ser aceito”.

A reforma política também é um ponto amplamente defendido por João Vicente, que acusa os parlamentares de terem compromissos com os grandes empresários financiadores das campanhas e não com o eleitorado. “Cada vez mais temos bancadas setoriais, bancada ruralista, farmacêutica, e por aí vai… o parlamento não tem compromisso com quem votou, e sim com quem bancou a campanha”, denuncia.

“A reforma agrária do Jango ia criar 1 milhão de novos agricultores, imagina um milhão de novos agricultores?! Isso significa um milhão de novas casas, de novas geladeiras… João Goulart ia desenvolver o mercado interno através da reforma agrária”, disse ao criticar o fato de 50 anos depois, o país ainda não ter proporcionado condições para esta reforma tão importante.
Lei de Anistia e investigação da morte de João Goulart

João Vicente pediu a revisão da Lei de Anistia e afirmou, sem titubear, que esta lei ambígua é um dos motivos para tanta impunidade diante dos casos de tortura registrados dentro da Polícia Militar. “Os torturados de ontem [na ditadura militar], são os Amarildos de hoje”.

João Vicente contou que o instituto abriu sozinho um processo contra os Estados Unidos acusando o país de estar envolvido na morte do ex-presidente. Ele critica ainda a omissão do Estado Brasileiro nessa investigação. “João Goulart lutou em pé contra o império, nós não temos medo de continuar lutando, temos medo dos ouvidos surdos de quem deveria também estar nessa luta”. Refere-se ao Ministério Público, que até hoje não abriu pedido de oitivas dos agentes norte-americanos, acusados de serem os enviados pelos Estados Unidos para a intervenção daquele país no processo democrático brasileiro.

O filho do ex-presidente contou ainda que o histórico comício de 13 de maio era só o primeiro de uma série que estaria por vir, se o governo não tivesse sido interrompido pelo golpe militar. Segundo ele, o próximo seria realizado no dia 21 de abril, em Minas Gerais, e hoje já existem documentos divulgados afirmando que haveria um grande atentado militar nesta ocasião, contra o presidente e o público presente no evento.