Monique Lemos: Trocando figurinhas

Desde criança, sempre gostei de colecionar álbuns da Copa e papéis de carta (sim, eu sou da época em que se tinham pastas e mais pastas de lindos papéis de carta). Até colecionei alguns álbuns do Campeonato Brasileiro, poucos, não eram o meu forte. Mas de quatro em quatro anos, estava lá, eu, minhas figurinhas e meu álbum esperando ser completado. E só tinha um jeito de fazer isso: trocando figurinhas. 

Por Monique Lemos, no portal da UJS

álbum da copa - Reprodução

Na escola, na rua, entre os primos, no bafo-bafo… Que diversão!

Então, trocar figurinha é a única forma de completar nosso álbum. Por isso, eu queria te convidar para trocar umas figurinhas sobre a Copa.

Não. Não é com você que defende que não vai ter Copa, porque o Brasil está no abismo, e que está tudo uma porcaria, que eu quero dialogar. Nós não vivemos no mesmo mundo.

Eu quero trocar com você, que viu seu filho e filha entrar pela primeira vez na universidade, com você que viu o Bolsa Família distribuir renda e empoderar as mulheres, com você que viu o Brasil mudar pra melhor, e que por isso mesmo, consegue enxergar que ele pode mais, que nós podemos mais!
Pra você, que vê os hospitais públicos nas péssimas condições de funcionamento e a escola brasileira na “era do cuspe e giz”, uma primeira figurinha pra trocar: isso não tem nada haver com a Copa!

Não foi tirado nenhum centavo sequer dos orçamento das áreas sociais, pelo contrário eles cresceram. Aquém da necessidade, vocês dirão. E eu acrescentarei, muito. Mas não por causa da Copa. O problema é outro. A previsão para 2014 é que sejam destinados 1,002 trilhões reais para o pagamento de juros e amortização da dívida, comprometendo cerca de 42% do orçamento. Esse é o maior entrave para o desenvolvimento do Brasil.

Segunda figurinha: os bilhões gastos nos estádios. A Copa do Mundo consumirá de investimentos, 26 bilhões de reais, mas 70% desse recurso são obras de infraestrutura (mobilidade urbana, aeroportos, obras do PAC) e mesmo que algumas não fiquem prontas no prazo, o Brasil continuará aqui depois da Copa. Ou seja, esse é um grande legado e comprova não se priorizou a construção dos estádios em detrimento de outras obras. Quem disse isso falou besteira.

E uma última figurinha pra gente troca é a importância do futebol na formação do povo brasileiro. Aqueles que acham que a Copa é o “circo” para o povo não perceber seus problemas, para iludir as pessoas, não entenderam esse elemento fundamental. O futebol faz parte da história do nosso povo e continuará a arrastar multidões aos estádios como fazem o Santinha, o Mengão, o Corinthians, o Inter, o Grêmio, o Palmeiras… É da nossa cultura, tá no nosso sangue.

Defender a Copa não é negar os problemas do país, mas precisamos enxergar os lugares que eles realmente ocupam. Pra não enfrentarmos as consequências e não as causas.

Por exemplo, o problema da elitização do futebol, do padrão FiFA, é real, mas não é um problema da Copa. Prova disso, é que o aumento abusivo no preço dos ingressos está ocorrendo mesmo em lugares onde não haverão jogos na Copa do mundo.

Então não ter copa resolve o problema da elitização? Não! Para isso, será preciso uma intervenção do poder público e muita mobilização da sociedade.

Ir as ruas contra os reais problemas brasileiros, como os juros altos, a dívida externa, a reforma política e dos meios de comunicação, é mais do que legítimo, é necessário. Então, ocupemos as ruas, antes, durante e depois da Copa, enfrentando os inimigos reais.

Que venha a Copa, que venha o hexa e que venha meu álbum completo. Aliás, alguém aí, tem figurinha pra trocar?