Em artigo, diretor da FEEB trata da relação História X Ditadura

Nos 50 anos do Golpe Militar de 1964, muitos ainda se emprenham na análise daquele episódio que marcou negativamente o Brasil, principalmente pelas prisões arbitrárias, torturas e mortes cometidas. A ditadura militar representou um dos períodos mais duros da História do país e há quem tem encontrado justificativas para a ação dos militares.

A denúncia das novas interpretações amenizadoras quem faz é o diretor da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe (FEEB/BA-SE), Fernando Dantas. Batizado de “A História e o Golpe de 1964”, o texto de Dantas também é uma crítica ao monopólio da informação no país. Confira.

A História e o Golpe de 1964

Fernando Dantas*

O historiador Marc Bloch define a História como a “ciência dos homens, no tempo”, uma vez que estuda os homens, sua produção e suas relações sociais, políticas, econômicas e culturais, em um determinado espaço de tempo. Ou seja, a História tem a função de estudar o Homem (sujeito histórico) e sua ação no tempo e no espaço. Assim através da análise e da reflexão sobre os processos e eventos ocorridos no passado, é possível transformar o presente e projetar o futuro. Portanto, creio que precisamos, constantemente, revisitar o passado e tentar reavaliar nossos atos como atores sociais, não para buscar redenção, mas para tentar evitar novos erros.

No ano em que o Golpe Militar completa 50 anos (1964-2014), a sociedade reflete sobre os 21 anos em que o Brasil viveu sob o domínio do terror, da prática de prisões arbitrárias, das torturas e das mortes de pessoas que lutavam por liberdade. Por tudo isso, temos que continuar examinando aquele contexto. No estudo da História há uma premissa que diz: “quanto mais distanciado do fato histórico, melhor será a sua análise”. Deste modo, no decorrer do tempo, os historiadores, antropólogos, sociólogos e etc. se dedicam a investigar e interpretar os eventos, e, como resultado, podem surgir novas versões através da análise das fontes (entre documentos, vídeos, jornais, relatos), alterando ou não a interpretação dos fatos.

Entre as várias fontes que tentam analisar e debater o Golpe de 1964, algumas merecem atenção. O documentário “Dossiê Jango”, exibido pela TV Canal Brasil, sobre a deposição e a morte do ex-presidente João Goulart no exílio, em circunstâncias misteriosas, apresenta vários documentos e depoimentos que corroboram com a tese da existência de uma organização político-militar que atuou nos anos 70, chamada “Operação Condor”, com o objetivo de eliminar líderes de esquerda opositores aos Regimes Militares na América do Sul.

Outro material que chama a atenção é o editorial publicado pelas Organizações Globo em 31 de agosto de 2013, em que a empresa admite ter cometido um “erro” ao apoiar o Golpe de 1964, mas procura justificar a posição adotada, por seu proprietário, o sr. Roberto Marinho. Por mais que tentemos entender, não há como justificar esse erro histórico. Até por que, naquela época, a empresa de Marinho foi uma das mais beneficiadas pelo Regime Militar, se transformando em uma das maiores empresas do mundo no ramo da comunicação, o que nos leva a crer que os reais motivos não foram a “defesa da democracia” contra uma possível ditadura comunista, como explica a publicação, mas sim a ganância e o oportunismo.

Hoje, fazendo as devidas contextualizações, a conduta da Globo tem se revelado a mesma, pois a emissora continua sendo acusada de produzir notícias tendenciosas, de distorcer a verdade e de tentar desestabilizar a democracia conquistada após os anos de repressão, para se beneficiar. Nos programas de jornalismo da TV (nos canais fechado ou aberto), percebe-se uma posição retrógrada e golpista, externada por alguns dos seus principais profissionais.

O jornalista Alexandre Garcia, por exemplo, se apresenta como politicamente correto, mas, em seus comentários periódicos na Rádio Metrópole na Bahia, demonstra todo seu caráter reacionário quando comenta sobre o episódio de 1964. Segundo o mesmo, o Golpe foi um “contra golpe” para impedir a implantação de uma ditadura comunista no Brasil, semelhante a que havia na União Soviética, no entanto omite os prejuízos causados ao povo e a nação. Além disso, o jornalista critica as ações dos brasileiros que pegaram em armas para combater os militares, os quais denomina de “subversivos e terroristas”. Como podemos perceber, essa não é apenas a opinião particular de um profissional, mas representa a linha editorial das Organizações Globo, ao longo da sua existência.

*Fernando Dantas é diretor da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe (FEEB/BA-SE)