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E os Secretários de Organização?

A pergunta que não quis calar-se nos debates do 8º Encontro foi: como organizar o cumprimento dos desígnios traçados e o conjunto das diretivas? Realmente, aí reside o descompasso. Que síntese se pode fazer do desafio?
Por Walter Sorrentino*

O principal é ser capaz de traduzir politicamente esse debate no âmbito dos Comitês e Comissões Políticas, fazendo o enlace umbilical entre o rumo e projeto político e o rumo e projeto de construção partidária. Um todo orgânico. Por isso, e para isso, antes de mais nada, se coloca a liderança dos Secretários de Organização estaduais nesse debate.

Depois, a capacidade deles em voltarem-se para os desafios maiores envolvidos. No caso, as capitais. A nenhum deles é lícito delegar a capital às próprias forças.

Terceiro, concentrar-se nas tarefas organizativas que sustentam a aplicação do projeto político. Há demasiado desvios de função das Secretarias de Organização. É certo que eles são dirigentes gerais da atividade partidária, como membros da Comissão Política; às vezes integram também Grupos de Trabalho Eleitoral. Mas nada pode explicar que não se concentrem na realização da linha político-organizativa, líderes e executores dela, em primeiro lugar. Desvios de função como, por exemplo, ser coordenador geral de campanha de candidaturas, é dificilmente aceitável.

Se tudo isso é correto, resta alocar mais recursos financeiros e quadros suficientes para as comissões de organização. Fútil ilusão, ou falsa concepção, imaginar que se possa governar e controlar política-organizativamente um partido presente em 2.300 municípios, com mais de 100 mil militantes e 300 mil filiados, sem forte capacidade gerencial profissional para tanto. O caso é exemplar: é preciso liderar perante a direção geral, a alocação prioritária de recursos para a área de organização.

Tocou-se, por fim, em questão delicada: há um défice de debate no Partido sobre a política de organização e há sempre um público novo, fruto da renovação e alternância, para o qual é necessário repetir velhas coisas. A linha organizativa é complexa, tem muitas camadas e fundamentações. Em ano eleitoral é sempre difícil, mas será o caso de preparar novas publicações a esse respeito e organizar cursos ou debates para secretários de organização municipais. As ocasiões surgirão.

O fato, positivo, mas ao mesmo tempo desafiador, é que a renovação e alternância sempre colocam um conjunto amplo de novos quadros como responsáveis pela organização. Em suas escolhas devem ter pesado o estilo de trabalho, inclinação e talento específico; e supõe-se que estejam bem armados com resoluções congressuais. Mas nada disso assegura, de antemão, que tenham conhecimento profundo dos fundamentos e consequências da política de construção e organização partidária, que é realmente complexa e multifacética. Ela está formulada em 8 Encontros, 3 Congressos, diversas Resoluções da direção nacional e, finalmente, em centenas de artigos que a destrincham, bem como Normas e Regimentos elaborados – todos muito bem documentados.

“A olho” se pode fazer muito, mas sempre haverá dose desnecessária de espontaneísmo, paroquialismo provinciano, ou de trilhar experiências que não deram certo bem como desconsiderar experiências vitoriosas. É disso que se trata: secretários de organização precisam estudar a linha, beneficiar-se com o saber coletivo acumulado, e dedicar-se durante o período de gestão a pôr em pé os pilares que dão sustentação a essa política, deixando legados progressivos para o futuro.

Em especial, há pilares operacionais sem os quais não se pratica nenhuma política no terreno da organização, como a Rede Vermelha, a Rede Quadros, o Portal da Organização em rede, normatizações etc. Tudo isso é enriquecedor do trabalho organizativo. Por que esperar mais para construir isso de fato e de direito, como algo permanente?

Volto à premissa desta argumentação: só ajudará promover o estudo da linha e planejamento da ação organizativa entre os secretários de organização dos maiores municípios, dando a eles maior densidade.

*Walter Sorrentino, médico, secretário de organização nacional do PCdoB