PCdoB-Fortaleza debate Golpe Militar de 1964

Recordar não para reviver, e sim para denunciar. Com esse sentimento o advogado e vice-presidente estadual do PCdoB, Benedito Bizerril, fez sua fala durante a Quinta Vermelha realizada no último dia 03/04, que debateu os 50 anos do Golpe Militar no Brasil.

Benedito, que na década de 60 era um jovem bancário filiado ao Partido Comunista do Brasil, relatou sua experiência, especialmente junto ao movimento sindical no período da ditadura militar. Com a voz mansa, mas tomado de emoção, foi contando com riqueza de detalhes como foi gestado o Golpe em 1964, as perseguições políticas, especialmente a partir de 1968, e o episódio de suas duas prisões. A primeira, em 1971, no dia em que os comunistas comemoravam o aniversário de 49 anos do PCdoB. “Coube ao comitê bancário pendurar estandartes do partido com palavras de ordem contra a ditadura. Fui pego e recebi uma condenação de 2 anos, deles passei 8 meses na cadeia. Retornei ao banco e fiquei até 1973, quando fui preso novamente. Foi nessa segunda prisão que fui conduzido à Casa dos Horrores, localizada num distrito de Maranguape e utilizada pelos militares para torturar e matar”.

Benedito conta como foi difícil retornar, após a segunda prisão, e ver a direção do PCdoB no Ceará toda dizimada. Com tristeza relatou como os companheiros foram brutalmente torturados e perseguidos e a dificuldade para retomar contatos. Mas mesmo com tantas dificuldades, fez questão de ressaltar a forma como foi retomada a organização comunista. “Aos poucos fomos nos reorganizando, o movimento de bairros foi ressurgindo, ocupações e mobilizações crescentes. O partido foi renascendo, sendo reconstruído na luta”. Para Benedito, nesse momento, durante o período de 77 a 82, foi importante o papel jogado contra a ditadura, pelo jornal O Mutirão e a contribuição do PCdoB em sua elaboração.

Ao finalizar, o advogado chamou a atenção para o momento político atual vivido pelo país. “Essa luta, essa construção da liberdade não está terminada, pelo contrario, temos muito ainda por fazer. Estamos hoje num momento crucial, devemos avançar e ter clareza sobre estes desafios. Os movimentos políticos precisam estar cada vez mais politizados para abraçar as bandeiras das transformações. A direita tenta colocar suas unhas de fora. As reformas, como a política, por exemplo, são fundamentais. A representatividade no parlamento está contaminada pela corrupção, que desvirtua a legítima representação do povo nas casas legislativas”, ratificou.

Falando especialmente para a nova geração de comunistas, Benedito falou das perspectivas atuais do PCdoB. “Nosso partido cresceu nesse processo de lutas, reconhecido como um partido coerente e agora está com essa tarefa de ajudar a construir ampla frente para que possamos avançar e chegar aos objetivos desejados por nosso povo”.

O dirigente finalizou alertando sobre como deve ser tratado o legado histórico que ficou. “Os que estão impunes precisam ser punidos, a verdade precisa ser contada. Não saber da história leva a população a desconhecer as atrocidades de um regime militar. O que ocorreu na época do golpe é que muitos achavam que era apenas contra os comunistas, mas depois viu-se que era contra todo o povo brasileiro”.

De Fortaleza,
Andrea Oliveira (Estagiária do Vermelho-CE)