Campinas faz ato em repúdio à ditadura

Cerca de 300 pessoas estiveram reunidas no Largo do Rosário, tradicional palco de manifestações populares no Centro de Campinas, para participar de ato público em repúdio ao golpe de 1964, que completou 50 anos ontem. O evento, organizado pela Comissão Municipal da Verdade conjuntamente com 40 entidades (entre elas sindicatos, ONGs e partidos), contou com a presença de trabalhadores, estudantes, militantes políticos e pessoas que foram presas ou sofreram tortura durante o regime militar.

atoCampinas - Bruno Ribeiro

O deputado federal Gustavo Petta falou em nome do PCdoB. Em seu discurso, Gustavo celebrou a atual democracia brasileira mas lembrou que ainda “há muito que avançar”. Ele pediu a desmilitarização da polícia, a aprovação de uma Lei de Mídia no Brasil e a revogação da Lei da Anistia: “A polícia militar guarda resquícios da ditadura na forma como reprime os movimentos sociais e os pobres; há veículos de imprensa que apoiaram o golpe e ainda hoje o apoiam; e quase 30 anos depois do fim do regime, nenhum torturador foi julgado e preso. Esse tipo de coisa permite que o autoritarismo continue ameaçando a democracia em nosso país”, declarou.

O estudante de Direito da PUC-Campinas, Marcos Paulo Silva, representando a União da Juventude Socialista (UJS), homenageou os guerrilheiros do Araguaia, mortos e desaparecidos no combate à ditadura: “A maioria (dos guerrilheiros) era formada por jovens do movimento estudantil. Os estudantes brasileiros têm o dever de continuar lutando por mais direitos, liberdade e justiça. É uma forma de manter viva a memória dos que morreram por nós”, disse.

Segundo Paulo Mariante, coordenador da Comissão Municipal da Verdade, Memória e Justiça de Campinas, o ato cumpriu o objetivo de chamar a atenção da sociedade para a gravidade dos crimes cometidos pela ditadura e a ausência de punição aos torturadores e financiadores do golpe: “Na época, nossa luta era por democracia; agora é para que os crimes cometidos pelo Estado sejam punidos. Ainda há torturadores vivos, bem como empresários que apoiaram o golpe. A Lei da Anistia tem que ser revista antes que esses criminosos morram”, disse.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, Eliezer Mariano da Cunha, também citou a participação de civis no golpe: “Não foi um golpe apenas contra Jango, mas contra as organizações de trabalhadores que estavam mobilizadas, no campo e na cidade. A Fiesp, por exemplo, pediu intervenção militar nos sindicatos e foi atendida”, disse.

Estima-se que o regime militar tenha detido 200 mil opositores ao longo dos 21 anos de ditadura. Destes, 11 mil foram acusados nos inquéritos das auditorias militares, cinco mil foram condenados e 10 mil brasileiros tiveram que se exilar. Houve mais de 400 mortos e inúmeros desaparecidos.

De Campinas, Bruno Ribeiro