Ato de "descomemoração" do Golpe de 1964 reúne centenas no Rio

Esta terça-feira, 1 de abril de 2014, marcou os 50 anos do golpe civil-militar covardemente aplicado na democracia brasileira em 1964, que levou o país a 21 anos de perseguições, tortura e assassinatos. Neste dia tão importante, centenas de pessoas participaram de um ato no centro do Rio de Janeiro em "descomemoração" ao golpe.

A manifestação reuniu trabalhadores, estudantes, líderes e militantes de partidos políticos, lideranças sindicais, entidades dos movimentos sociais. A concentração aconteceu na Candelária e a todo momentos bandeiras dos mais diversos partidos e segmentos políticos tremulavam e palavras de ordem contra a ditadura eram entoadas no centro da cidade.

A passeata seguiu rumo à histórica praça da Cinelândia e uma faixa com os dizeres "Ditadura Nunca Mais" era carregada por dezenas de manifestantes à frente do ato. Dentre eles estava o presidente estadual do Partido Comunista do Brasil (que foi perseguido na ditadura militar e recentemente anistiado pela Comissão Nacional de Anistia), João Batista Lemos. O PCdoB, que teve seus direitos políticos cassados, foi a organização política que mais sofreu perdas com os assassinatos do regime ditatorial; e foi um dos partidos que liderou a organização deste ato que coloriu o centro da capital fluminense, 50 anos após o maior ataque à democracia brasileira.

As bandeiras do PCdoB, que no regime militar eram proíbidas, tremulavam nesta tarde na Avenida Rio Branco, e os comunistas puderam marchar livremente na luta pela consolidação da democracia. João Batista Lemos salientou a importância deste ato de hoje, destacou como é fundamental relembrar aqueles anos, para que não se repitam mais:

"É muito importante essa descomemoração dos anos de terror da ditadura, foram 21 anos de terror, entreguismo, de concentração de renda nas mãos de poucos. Esses foram anos de exceção em nosso país e agora nós marchamos aqui na Rio Branco para mostrar que ninguém pode parar a roda da história, a história continua e hoje nós devemos avançar no processo de mudanças iniciado por Lula, devemos reeleger Dilma e fortalecer as forças populares com as massas nas ruas. Porque a massa é a verdadeira protagonista das transformações sociais em nosso país", afimou o líder dos comunistas no Rio de Janeiro.

A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) também esteve à frente da construção e consolidação da manifestação desta tarde. Paulo da Rocinha, dirigente estadual da CTB, também fez questão de frisar a importância do momento para os trabalhadores e para o povo brasileiro:

"Esse é um ato simbólico que retrata toda a luta do povo nesses 50 anos, o povo que conquistou essa liberdade que temos hoje, a liberdade de estarmos nas ruas, de termos partidos, a liberdade dos sindicatos, dos movimentos sociais. Esse ato é muito importante para todo povo brasileiro, em especial para os trabalhadores. O povo trabalhador foi a maior vítima da ditadura, sobre os ombros dos trabalhadores pesaram os tanques, as balas, as mortes, os desaparecimentos. Milhares de famílias hoje ainda choram por seus parentes. Precisamos falar muito aos nossos filhos que a luta continua, que a liberdade que a gente tanto almeja só será plena quando os trabalhadores conseguirem implantar o socialismo", destacou o dirigente da CTB-RJ.

A União da Juventudes Socialista (UJS) também teve grande participação no ato, a juventude comunista levou suas bandeiras e gritou bem alto contra a ditadura. O presidente estadual da UJS e ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, afirmou:

"Descomemorar o golpe de 1964 é uma oportunidade para a juventude brasileira ir se apropriando de sua história, saber que a ditadura militar serviu justamente para calar isso que está acontecendo aqui hoje. A nossa geração não se acostuma e não se acomoda mais com essa cultura do silêncio e do esquecimento do que aconteceu. Nós queremos mudanças profundas, queremos que o povo seja dono dos destinos do nosso país, e isso só é possível com democracia, protagonismo popular e com as ruas cheia de gente e cheia de sonhos da juventude e do povo brasileiro", destacou o líder da UJS-RJ.

O presidente municipal do PCdoB no Rio de Janeiro, Waldemar Souza, também falou sobre a necessidade de se valorizar e aprofundar a democracia:

"Esse vitorioso ato é fundamental para elevar nossa consciência, nossa unidade, nossa mobilização da necessidade de se defender a democracia. A democracia é o terreno fértil para a luta dos trabalhadores, das mulheres, para fazer o Brasil avançar e melhorar. E nós comunistas somos os maiores interessados, pois quando cai a noite da repressão o primeiro partido que eles atacam é o Partido Comunista", finalizou Waldemar.

O ato foi acompanhado durante o percusso por um carro de som, em que as diversas representações políticas presentes tiveram direito à voz. A manifestação foi encerrada na Praça da Cinelândia.

*Por Bruno Ferrari