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A essência dos ajustes promovidos no 8º Encontro

O 8º Encontro promove ajustes em função da realidade e de nossa melhor consciência dos problemas. Pôs no centro das atenções a própria política de quadros e sua operacionalização, os esforços centrais nas capitais, atentando para a intervenção na realidade social em transformação, ajustando o papel dos fóruns de movimentos sociais.

Não temos todas as respostas, antes pelo contrário. Não temos sequer todas as perguntas corretas bem formuladas. Mas há uma pergunta nova ou em contexto novo e a formulamos: no quadro político real do país, com o projeto pelo que lutamos, como vamos elevar nossa representação eleitoral, como vamos formar novos redutos eleitorais? É uma pergunta válida, entre outras, mas de grande centralidade. E os grandes centros urbanos ocupam um papel central nisso, especialmente as capitais.

Está lançada a questão: o balanço eleitoral e da mobilização congressual demonstram a problemática. A constatação de que não temos redutos, e que é preciso construí-los, é simples e clara; a questão é “como?” porque envolve múltiplas determinações, nenhuma absolutizável. Mas nenhuma pode contornar a melhor conjugação de projetos políticos bem definidos, criar condições para candidaturas majoritárias próprias, mais luta de ideias e inserção na luta de massas, conjugando essa convergência numa luta prolongada por construir nova hegemonia de forças sociais e políticas.

O 8ºEncontro parte disso, de dar sustentação aos projetos políticos e eleitorais neste ano de eleição nacional. A elaboração desses projetos está em pleno curso no país. Envolvem habilidade política, clareza das forças em confronto, mas medidas decididas para preparar o Partido e sua mobilização coesa e vibrante.

Entre as medidas, o 8º Encontro focou os ajustes nas capitais, à luz da realidade social a estudar em suas transformações, e do projeto político atual do partido. Implica em uma “leitura” das cidades, capacidade em gerar uma “narrativa” como método próprio dos comunistas. E um projeto político para elas e para nós. Os grandes centros urbanos se evidenciam como centro de contradições que afetam cotidiana e continuamente centenas de milhões de pessoas do povo; neles se geram aos borbotões causas transversais que envolvem velhos e novos setores das classes trabalhadoras, e todas as camadas sociais. As grandes cidades são, assim, palco privilegiado da luta de classes – não tenhamos receio da palavra, desde que entendida como expressão poliédrica de contradições que nem sempre confluem para sujeitos sociais centrais, ou seja, surjam fragmentadas e corporativas em sua mais profunda dimensão.

A reforma urbana, a reurbanização para maior qualidade de vida, vai ao encontro dessas contradições. Fornece um elo de ligação entre o cotidiano e uma reforma estrutural no rumo do novo projeto nacional. Corresponde a um dos arranques centrais propostos pelo PCdoB em recente Resolução do Comitê Central.

É nas grandes cidades que se deve retomar a maior influência eleitoral dos comunistas. Na luta eleitoral transitamos para maior visibilidade com candidaturas majoritárias, mas não se pode escapar de opções concretas, no nível de determinação das forças em cada caso. O eleitorado oscila com as injunções das conjunturas políticas, mas tem que haver um núcleo básico, maior, mais permanente de eleitorado fidelizado ao PCdoB. Por isso, o ajuste debatido envolve campanhas de massa, encontrando os elos, plataformas e pautas para intervir nas causas em todos os poros da sociedade civil. Ouvir e saber interpretar as contradições reais da realidade, as que atingem todos os dias dezenas de milhões das camadas populares. Essa a missão do trabalho militante de base, desde que bem dirigidas pelos quadros responsáveis.

Nesse processo é que o PCdoB pode ir forjando um bloco político social, com um senso de identidade mais marcante, conjugando intervenção social, política, eleitoral e de massas, mas convergindo para bandeiras políticas, desde movimentos de base até as grandes batalhas pelas reformas democráticas estruturantes.

Todas são questões a inseminar em seminários ou encontros nas capitais: compreender o problema e a realidade como modo de reformular ou ajustar linhas de construção partidária nas capitais.

Está suposto nesse esforço o relançamento dos Fóruns de Movimentos Sociais nas direções estaduais, conjugando não apenas os movimentos sociais organizados, para dar esteio e perspectiva política às múltiplas causas a gerar manifestações, espontâneas ou organizadas, que têm lugar nas cidades – um caso extremo como São Paulo conhece manifestações realmente diárias!

Organizativamente, nas capitais, radicalizou-se a diretiva de elencar quadros pivôs de Bases. Foi proposto constituir Fórum de quadros de base como método de mobilização partidária por parte das direções estaduais e municipais. A vida política e organizativa das bases implica um projeto político para cada uma delas, pauta e agenda de atividades regulares, ancoradas em quadros pivôs cuja tarefa central é serem ativistas da mobilização e vida regular das organizações de base. Enfim, para enriquecer a vida das bases e valorizar a atividade militante.

Debateu-se que isso não implica desconhecer os comitês auxiliares nas capitais. Eles participam dos Fóruns, decerto. A questão é que se precisa superar o mal do delegacionismo, próprio de uma verticalização piramidal, onde uma instância delega a outra sucessivamente o debate e encaminhamento das diretivas traçadas. Não: as direções estaduais e municipais precisam ser capazes de falar diretamente aos militantes de base, e não bastam atividades de propaganda para isso, mas igualmente debater projeto das bases, pauta e agenda de mobilização, dando condições aos quadros pivôs de base de cumprirem efetivamente seus papeis.

O foco definido não altera a linha permanente que é a de envolver no mesmo esforço os grandes municípios de cada Estado. Ao contrário. O exemplo das capitais irradiarão. Por isso, onde se puder, desde já se podem realizar os mesmo Seminários nas demais cidades além das capitais; no mínimo, seus dirigentes podem ser convocados para os próprios debates nas capitais. Outra alternativa, é organizar esse debate a partir dos Fóruns de Macrorregião.

Walter Sorrentino, médico, secretário nacional de organização do PCdoB