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O 8º Encontro e a história dos Encontros sobre a Questão Partido

Nossa luta pela estruturação partidária é um continuum e se dá por etapas. A linha político-organizativa é mais perene, amadurece em tempo próprio que, embora ligada umbilicalmente ao desempenho político, é diferente do tempo da orientação política.
*Por Walter Sorrentino

Devemos valorizar o que alcançamos, é muito significativo. Há uma linha permanente que vem dando resultados, malgrado as deficiências, e ela permanece, por um partido comunista de quadros e de massas de militantes, organizado em bases de variados tipos, sobretudo nos grandes municípios. Latente e prolongada, mas é uma linha definida; não é lícito desconhecê-la, a não ser adaptá-la à realidade e ao nível de maturação do partido em cada Estado.

Ela veio sendo elaborada com maior aceleração após os desafios postos com a vitória de Lula em 2002 e as históricas decisões da 9ª Conferência Nacional, em 2003. Abria-se a exigência e possibilidade de um partido extenso, influente e forte, realmente protagonista das transformações reclamadas pelo povo brasileiro. Seguiram-se os Encontros sobre a Questão Partido, de diferentes formatos, computados desde então. O primeiro lidou com a linha de estruturação partidária mais bem definida, capaz de unificar a linguagem e alcançar as bases. O 2º Encontro foi mais estratégico: em tempos de atualização do leninismo, e em face das profundas transformações no mundo do trabalho, visou a reiterar a atualidade do sujeito social fundamental, razão de ser do PCdoB, os trabalhadores. Do 3º ao 6º Encontro, foram se destrinchando vários aspectos da linha, dando-lhes concretude maior. Chega-se ao 7º Encontro, destinado a uma nova síntese, desta vez mais madura, envolvendo diretamente os 300 maiores municípios do país.

De permeio, o debate dos Encontros produziu pontos altos do saber coletivo, notadamente o Estatuto reformulado no 11º Congresso e a Política de Quadros para um partido contemporâneo, no 12º Congresso. Tudo ganhou agudeza quando se aprovou, enfim, o novo Programa Socialista do PCdoB, no mesmo 12º Congresso.

A própria história e circunstâncias desses debates – todos devidamente documentados – é uma forma de compreender o alcance e profundidade da linha atual, e é estimulante estudá-la. A linha permanente da construção partidária se faz em função do projeto político, num período todavia de acumulação de forças, visando construir nova hegemonia – que envolve de fato conquista de “poderes”, mas como meio e como produto de maior influência de suas ideias, ação política, ligação com o povo, identidade e força eleitoral – aliás, força eleitoral é a resultante dessa conjugação -. e responde às circunstâncias dos momentos em que se insere.

De conjunto, ela implica governar pelos quadros e alcançar uma extensa massa de militantes, mais filiados, mais simpatizantes e alcançar forjar um eleitorado próprio mais fidelizado aos comunistas. Essa é a parte mais difícil de assimilar, porque se identifica com uma estratégia determinada, cujo centro é construir nova hegemonia, num período de acumulação de forças. Ir conquistando casamatas, na luta de massas, política, de ideias, social, cultural. Esse o núcleo da questão: o Partido responde pela estratégia definida, e o centro da estratégia é a hegemonia. A construção de Partido responde por essa estratégia, a sustenta e impulsiona. Por isso falamos que essa é mais uma das exigências em extrair todas as consequências do Programa Socialista, dos caminhos e rumos traçados por ele.

Implica um partido capilarizado, presente em todos os aspectos da sociedade, gerando causas, uma cultura política, de valores, de identificação com interesses – enfim, maior senso identitário e de representação social e política. Uma comunidade de massas, mobilizável pela influência dos comunistas e que se transforme em força eleitoral. Por isso as bases, por isso e, por meio delas, os redutos eleitorais, militância presente como líquido se infiltrando em todos os aspectos da vida social, da sociedade civil e nos lócus das relações de opressão e exploração.

Definimos que esses lócus fundamentais envolvem as relações de trabalho, e as causas ingentes que envolvem mulheres e jovens. Os trabalhadores, desde que entendidos na nova realidade do mundo do trabalho, são o centro desse esforço e confundem em si mesmos esses estratos: trabalhadores, juventude e mulheres.

Não há défice de concepção nem de elaboração política. Pode-se dizer de certo alheamento à linha – se ela não alcança todos os quadros não tem eficácia, e encerra-se como política específica, reduzindo sua universalidade e eficácia. Pode-se dizer de défice de assimilação mais massiva da linha em toda a estrutura partidária – de fato ela é inevitavelmente complexa e carece de ser debatida e estudada, ajustada às situações concretas com flexibilidade, mas com norte bem definido. Pode-se dizer que falta maior

liderançano interior do Partido, da luta a travar pela sua implementação – de fato, esse é um problema real e implica o mais sintético papel dos secretários de organização, enlaçando em sua consecução o conjunto da direção. E pode-se falar em elevar decididamente a operacionalização da linha – faltam recursos materiais e humanos para tanto, mas isso reflete, hoje, uma subestimação dos esforços centrais nessa área.

O esforço do 8º Encontro foi bem sucedido. Em seu espírito e decisões, ele é filho legítimo e direto do 7º Encontro Nacional – Mais Vida Militante para um Partido do Tamanho de Nossas Ideias. Ele propõe um recorte concreto de diretivas oriundas das orientações do Comitê Central e das Resoluções mais de fundo do 13º Congresso (válidas para os próximos quatro anos), para 2014. Está nas mãos de todos tornar suas orientações vitoriosas ao longo deste ano, a começar do êxito eleitoral em outubro.

Walter Sorrentino, médico, secretário nacional de organização do PCdoB.