A imprensa brasileira em cinco títulos

A Rede da Democracia – O Globo, O Jornal e o Jornal do Brasil na Queda do Governo Goulart (1961-1964), publicado em 2010, e O Caso Última Hora e o Cerco da Imprensa ao Governo Vargas (2012), ambos de autoria de Aloysio Castelo de Carvalho, editados pela Nitpress-EdUFF, estão disponíveis nas livrarias e no site da editora da Universidade Federal Fluminense.

Por Maria do Rosário Caetano, no Brasil de Fato

O primeiro tem prefácio de Maurício Azedo e “orelha” de José Silveira. Azedo, depois de constatar que o livro não traz “qualquer réstia de tom panfletário”, comenta: “Carvalho faz serena análise dos textos sob um viés estritamente político, sem chamar a atenção para o tom raivoso e feroz com que estes escritos (em especial os de Carlos Lacerda, da Tribuna da Imprensa, mas não só) buscaram, com êxito, envenenar a opinião pública da qual se diziam porta-vozes. Essa serenidade é um dos muitos pontos altos deste trabalho, que enriquece a massa de informações sobre este momento desafortunado da vida nacional”.

Silveira, por sua vez, testemunha: “De todos os livros que li sobre este tema (o papel da imprensa na derrubada do governo Goulart), nenhum, tem a profundidade deste. Mesmo agora, depois da redemocratização e da liberdade de imprensa, em que o jornal pode opinar nos editoriais e nos destaques, eles operam em coro, principalmente no enfoque do noticiário”. E cita um exemplo: “Nas páginas (de nossos jornais contemporâneos), a Guerra Fria continua.

O Irã não pode enriquecer urânio porque o único país que jogou duas bombas sobre população desarmada, veta. Todos jornais acompanham”. Este livro de Aloysio Castelo de Carvalho vem acompanhado de CD com fac-similes de matérias publicadas nos veículos estudados, entre 22 de outubro de 1963 e 19 de março de 1964.

O Caso Última Hora e o Cerco da Imprensa ao Governo Vargas, publicado dois anos depois (2012) de A Rede da Democracia é fruto de tese de doutorado, defendida por Carvalho na USP, em 2000, sob orientação da professora Maria Aparecida de Aquino, ela mesma autora de um livro (Caminhos Cruzados: Imprensa e Estado Autoritário no Brasil – 1964-80), no qual estudou jornais como UH e Estadão. A “orelha” do livro-tese de Carvalho traz texto de Alberto Dines.

Dines, que comanda o Observatório da Imprensa, na TV Brasil (todas as terças-feiras, 20h), escreve (depois de relembrar as inovações trazidas pelo Diário Carioca, em 1952, e pelo Jornal do Brasil, 1956): “Na fase imediatamente anterior, está o lançamento de dois vibrantes vespertinos (A Tribuna da Imprensa, em 1949, e a Última Hora, em 1951), que se tornarão vetores deste apaixonante relato de Aloysio Castelo de Carvalho, dirigidos por dois extraordinários profissionais, ex-amigos e ex-camaradas (Carlos Lacerda, Samuel Wainer), que a paixão política e a Guerra Fria converterão em ferozes adversários”.

Vale registrar que o professor Aloysio Castelo de Carvalho, doutor em História Social pela USP, conhece o ofício de jornalista como poucos e foi coordenador de informação da CBN, no Sistema Globo de Rádio.

Minha Razão de Viver – Memórias de um Repórter

Minha Razão de Viver – Memórias de um Repórter, de Samuel Wainer. A primeira edição, com coordenação editorial de Augusto Nunes, saiu em 1987, pela Record. Ou seja, sete anos depois da morte do jornalista, que deixou seu depoimento gravado em diversas fitas. A Record lançou 10 reimpressões do livro. O prefácio, como pedira o editor de UH, trazia a assinatura de Jorge Amado.

Em 2005, a Editora Planeta assumiu o livro e relançou-o com maior apuro gráfi co e revelando segredo que Wainer pedira que só viesse a público depois de certa quantidade de anos: ele nascera, sim, na Bessarábia (na época território russo, hoje parte da Romênia). O nome do livro sofreu leve modificação: Samuel Wainer – Minha Razão de Viver – Autobiografia.

Wainer narra sua história como menino de família judia pobre, radicado no Bom Retiro paulistano, que se tornou jornalista e conheceu fama nacional ao entrevistar, em fevereiro de 1949, o ex-ditador Getúlio Vargas. O político gaúcho prometia regressar ao cargo de presidente da República (De Vargas para Wainer: “Voltarei como líder de massas”) disputando o cargo nas eleições de outubro de 1950. Foi eleito, tomou posse em janeiro de 1951 e “saiu morto” (dissera a Wainer: “Só morto saio do Catete”) do palácio presidencial, em agosto de 1954, antes de completar seu mandato.

Acuado por forças lideradas por Carlos Lacerda, “o Corvo”, Vargas suicidou-se. O livro mostra que, empossado, Vargas ajudou Wainer a viabilizar, via empréstimo do Banco do Brasil, o diário Última Hora, um “jornal vibrante, uma arma do povo”.

No dia em que Última Hora noticiou a morte de Getúlio Vargas, 800 mil exemplares foram vendidos (há foto no livro que mostra populares disputando um exemplar). O próprio Wainer registra, em suas memórias, o que ouvira de seu chefe de oficina: “No Brasil, jornal que passasse dos 15 mil exemplares virou macho”. Defensor atuante do monopólio do petróleo (e da criação da Petrobrás), UH cresceu bastante. E causou grande incômodo aos opositores de Vargas. Até CPI foi instalada para investigar os capitais que possibilitaram sua afirmação.

No Governo Goulart, Última Hora continuou crescendo e incomodando seus adversários (com Lacerda sempre à frente). O jornal definhou com o triunfo do golpe de 64. Suas edições carioca e paulista ganharam sobrevida com outros proprietários. Mas nos anos de 1970, o jornal era uma sombra do que fora outrora.

Na página 278, Wainer conta que um coronel do Exército, insatisfeito com Prá Não Dizer Que Não Falei das Flores (1968), de Geraldo Vandré, promoveu um concurso de poesias que servissem de resposta ao compositor. Oito mil aspirantes mandaram seus versos.

UH publicou o soneto vencedor, de autoria de um tal Bastos. Wainer tinha opinião formada sobre o que sairia na capa de seu combalido jornal: “um soneto primário, uma coisa ridícula”, que versejava: “Tu, Vandré, que andas pela noite no chopinho do Castelinho, que sabes de nossa Pátria?”. O texto saiu na capa do jornal, que ao longo dos anos 1950 e, até 1964, estivera na vanguarda da imprensa brasileira. Todas as edições do livro (da Record e da Planeta) estão esgotadas.

Jornalistas e Revolucionários – Nos Tempos da Imprensa Alternativa

“Jornalistas e Revolucionários – Nos Tempos da Imprensa Alternativa” – De Bernardo Kucinski. Primeira edição, pela Scritta, em 1991. Segunda edição revista, ampliada e fartamente ilustrada, pela EdUSP (2003). As duas edições estão esgotadas. Este livro é fruto de tese de doutorado, defendida pelo jornalista e cientista político, Bernardo Kucinski, na USP.

O pesquisador recupera a memória de importante período da imprensa brasileira, aquele em que circularam jornais como O Pasquim, Opinião, Movimento, Coojornal, Versus, Em Tempo, entre outros vinculados ou não a partidos políticos de esquerda. Todos foram implantados em tempo de dura censura à imprensa imposta pela ditadura militar (1964-1984).

Bernardo Kucinski foi jornalista ativo nos jornais Opinião, Movimento e Em tempo.Hoje é professor da USP. Foi assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro governo (2002-2006).

A Regra do Jogo, de Cláudio Abramo

A Regra do Jogo, de Cláudio Abramo (Companhia das Letras, 1988) – Coletânea de textos e depoimentos do jornalista Cláudio Abramo (1923-1987), organizada por seu fi lho, Claudio Weber Abramo. Integrante de uma família de artistas e intelectuais de esquerda, de origem italiana (a atriz Lélia Abramo, o gravador Lívio Abramo), Cláudio participou da renovação gráfica de O Estado de S. Paulo (1952-1963) e da Folha de S. Paulo (1975-1979).

O livro tem prefácio de Mino Carta, criador do Jornal da República, de curta duração, e da revista Carta Capital – nas bancas, primeiro mensalmente, depois semanalmente, há 20 anos, já beirando as 800 edições.

Fonte: Brasil de Fato