Jornalista resgata história esquecida da Guerra do Contestado

O livro "A Sangrenta Guerra do Contestado" conta de modo didático parte de nossa história que ficou esquecida nos anos da Primeira Guerra Mundial. O jornalista catarinense Paulo Ramos Derengoski reconta na obra um dos maiores massacres da história brasileira, comparável a Canudos.

Guerra do Contestado - Reprodução

O livro foi lançado no final do ano passado em função dos 100 anos do aniversário da Guerra do Contestado, que foi de 1912 a 1916. A grande dificuldade em narrar a história do conflito sempre foi a falta de registros, pois, na época, a recém-nascida imprensa brasileira voltava seus olhos para os conflitos europeus que culminariam na Primeira Guerra Mundial. Além disso, ao contrário da história de Canudos, relatada por Euclides da Cunha, a Guerra do Contestado não foi documentada por ninguém além do próprio exército.

Contestado

Derengoski afirma que “quis fazer uma coisa didática, mostrar as causas da Guerra do Contestado, porque os pesquisadores tinham a suas teses, tinha tese sociológica, tese econômina, mas nenhum deles falavam das causas de um modo didático”. O livro foi feito em 1985, mas desde então o jornalista teve acesso a muito material novo, o que o levou a publicar uma nova edição. Segundo ele, “esse assunto é meio maldito porque foi um massacre contra o povo, então não é muita gente que escreveu sobre isso, alguns acadêmicos escreveram sobre isso mas com um enfoque acadêmico”.

A Guerra aconteceu entre a jovem rebública e um exército de caboclos, em sua maioria de Santa Catarina. Ná época, a região era coberta de plantações de erva mate, que eram exploradas por autoridades do Paraná, como a família Leão (da marca Matte Leão, hoje propriedade da Coca-Cola), e os catarinenses não aceitavam esse controle.

Estrada de ferro

Mas o problema mais sério de todos foi a construção da estrada de ferro entre São Paulo e o Rio Grande do Sul, que foi entregue a um empresário estadunidense financiado pelos ingleses. Ele exigiu como parte do pagamento terras às margens da estrada de ferro que eram reservas de pinheiro brasileiro, madeira que ele exportava para o exterior via Argentina.

Segundo Derengoski, quando ganhou essas terras, ele expulsou os moradores da área e criou a maior madeireira do mundo na época, a Southern Brazil Lumber. Além disso, a Igreja Católica não tinha influência na região, então aquele povo que trabalhava nas plantações em condições deploráveis, ou colhiam pinhão, ou criavam porcos, que se alimentam do pinhão, sofria as influências de profetas como aqueles que andavam pelos sertões.

Desterrados

A mistura de desterrados e profetas deu na criação de um exército errante que passou a criar redutos para abrigar essa população e ocupava terras do Paraná e de Santa Catarina. Segundo o autor, “ao contrário de Canudos, eles não se fixavam em lugar nenhum, e a coisa foi crescendo e a estrada de ferro começou a empregar gente, chegou a empregar 8 mil pessoas, o que ia engrossando a rebelião. O estado de Santa Catarina pensou se tratar de uma revolta monarquista, porque a população tinha simpatia pelo Império, que doava as terras ocupadas aos ocupantes, mas a república instaurou a necessidade do registro de propriedade, e a população não tinha esses títulos”.

No fim, um terço das tropas do Exército Brasleiro apareceu na região e cercou o reduto de Santa Maria. E ocorreu um dos maiores massacres da história do Exército Brasileiro. “A República venceu, a Igreja venceu, os corenéis ficaram com a terra e os os caboclos viraram mão-de-obra barata”, conta o jornalista. Estima-se que morreram cerca de 10 mil combatentes – em Canudos, estima-se 20 mil pessoas mortas.

Segundo o autor, durante muito tempo a história era relatada em favor do Exército Brasileiro, mas que há algum tempo, com mais acesso a informações de fato, a opinião pública começou a se tornar mais favorável aos caboclos. “Hoje existe a Universidade do Contestado, e um museu, que mostra o lado dos caboclos”.

Fonte: Caros Amigos