Em Porto Alegre, greve dos rodoviários já dura 11 dias

Os trabalhadores do transporte coletivo de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, estão em greve há 11 dias. No princípio operavam com 30% da frota, mas agora a paralização é total. A prefeitura obriga que nos horários de pico as empresas operem com 70% dos ônibus e nos demais períodos com 30%, os trabalhadores se recusam a cumprir a ordem.

Por Mariana Serafini, do Portal Vermelho

Greve dos rodoviários de Porto Alegre

Para garantir um mínimo de mobilidade na cidade a prefeitura permitiu que vans escolares apanhem passageiros nas regiões mais carentes, porém, o preço abusivo que está sendo cobrado prejudica diretamente a população.

As empresas responsáveis pelo transporte coletivo anunciaram que vão descontar os dias de greve e amaçaram os funcionários de “possíveis demissões”. Durante a última audiência realizada do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-RS) na segunda-feira (3), o sindicato patronal propôs reajuste salarial de 7,5%, aumento de R$3 no vale-refeição e fixação da contribuição dos empregados no plano de saúde em R$10, em vez de R$40. Os trabalhadores não aceitaram a proposta que ainda está muito aquém do exigido.

As reivindicações dos trabalhadores são a redução da carga horária para seis horas diárias, aumento de R$4 no vale-refeição, reajuste salarial de 14%, fim do banco de horas e manutenção do plano de saúde sem desconto no salário. A categoria foi flexível com o setor patronal ao aceitar o reajuste do vale-refeição.

O PCdoB foi o único partido da Câmara Municipal de Porto Alegre a se posicionar em favor da greve. Uma nota foi emitida nesta quarta-feira (5), em apoio aos trabalhadores do transporte e à população que também está sendo prejudicada com a atual situação. O partido responsabiliza o prefeito José Fortunati (PDT) por ter deixado a questão do transporte público chegar neste ponto.

Em comunicado oficial o partido deixa claro: “O PCdoB segue reafirmando que executivo deve assumir sua responsabilidade em gerenciar o transporte público e garantir um serviço de qualidade como já foi outrora”.

A líder da bancada do PCdoB na Câmara de Vereadores, Jussara Cony, defendeu os operários. “Radicais estão sendo os empresários que cortaram o ponto e o plano de saúde dos trabalhadores”.

Confira na íntegra a nota emitida pelo PCdoB na Câmara Municipal:


“Transporte Urbano é Direito do Cidadão e Dever do Município

1) O ano de 2014 começa com Porto Alegre vivendo dias de muita instabilidade. Os trabalhadores rodoviários reivindicam, com razão, melhores condições de trabalho. E a população vivendo o verdadeiro caos, sem ônibus para se locomover. Esta situação é consequência do descaso da Administração Municipal com o transporte público.

2) Os graves problemas pelos quais passa a cidade não iniciaram há 10 dias e nem restringem-se ao transporte. Em 2012, ao longo da campanha eleitoral, em projeto antagônico ao do Prefeito, denunciamos o sucateamento da Carris e o descaso da Prefeitura com o transporte público. Naquela época, o Prefeito apresentou uma “cidade cenográfica”, que só existia na propaganda. A realidade é outra e quem a enfrenta no cotidiano é a população.

3) Até início dos anos 2000 eramos referência nacional em transporte público, com tarifa justa, frota renovada e ampla cobertura. Porto Alegre foi uma das primeiras a garantir acessibilidade a pessoas com necessidades especiais e ar condicionado nos ônibus. Em 1999 e 2001 a Carris foi considerada a melhor empresa de transporte coletivo do Brasil pela Associação Nacional dos Transportes Públicos. Outrora a Companhia Pública funcionou como reguladora do sistema de transporte da Capital.

4) Na última década a Prefeitura abriu mão do seu papel de gestora do sistema de transporte. Hoje, a Carris é uma empresa inchada pela quantidade de cargos comissionados (passou de 21 em 2010 para 63 em 2013) e tornou-se deficitária. A dívida da empresa passou de 6 milhões em 2005 para mais de 100 milhões em 2013. Fruto disso o povo sofre com a alta tarifa, ônibus lotados e poucos horários.

5) O descaso com o sistema de transporte público se reflete também vida dos trabalhadores rodoviários, em relação a salários, uniformes, vale-refeição, plano de saúde e condições dignas de trabalho. Enquanto a passagem subiu mais de 656% nos últimos 20 anos o salário dos trabalhadores subiu 326%, mesmo índice da inflação.

6) A Prefeitura deu continuidade à política equivocada das administrações anteriores de não licitação do transporte coletivo. Fazendo com que não exista transparência e estrutura tarifária inteligível e acessível aos usuários.

7) A ausência de política de mobilidade e gestão de transporte faz com que Porto Alegre corra o risco de perder recursos significativos da União. Havia previsão de investimento de 75 milhões do PAC da Mobilidade do Governo Federal para implantação do BRTs na cidade. Por incompetência da Prefeitura as obras não estão sendo entregues no prazo prometido pelo prefeito e não se sabe quando serão concluídas.

8) Diante dessa situação o prefeito Fortunati deve assumir a sua responsabilidade na solução dessa crise, que vai além da relação entre os empresários de ônibus e os rodoviários. A crise é de mobilidade urbana. A população tem o direito de saber os custos do transporte, ter um serviço de qualidade com preço justo. É preciso abrir as planilhas e a Prefeitura deve realizar imediatamente licitação e resgatar a Carris como referência no transporte de qualidade, que passa pela valorização dos trabalhadores deste setor. Defendemos a imediata regulamentação do art. 24 da Lei Orgânica do Município, proposta pela Bancada do PCdoB, que garante a eleição de representante dos trabalhadores para a diretoria das empresas públicas, como a Carris. A prefeitura precisa encontrar uma solução urgente para garantir o retorno da circulação de ônibus para a população.

PCdoB Porto Alegre”