Protesto do “rolezinho” em Salvador tem caráter antirracista

O fenômeno do “rolezinho”, que teve início em São Paulo e que vem ganhando destaque desde o final do ano passado, gerou reflexos, também, em Salvador – considerada a cidade mais negra do país. Nada mais próprio, dizem os organizadores do movimento baiano, quando se leva em conta as questões de discriminação racial que se escondem por trás das reações contrárias ao “rolé” da juventude.

O “rolezinho” da capital baiana aconteceu no último sábado (1/2), no Shopping Barra, localizado no bairro de mesmo nome, e foi um protesto contra a tentativa dos shoppings de selecionar os freqüentadores, quase sempre pela cor da pele. Mobilizado principalmente na internet, o encontro reuniu dezenas de jovens, que promoveram uma manifestação pacífica, que contou com intervenções culturais.

Entre os participantes, estavam integrantes de entidades como a Associação Baiana dos Estudantes Secundaristas (ABES) e a União da Juventude Socialista (UJS), que tiveram participação ativa na organização. O presidente municipal da UJS, Alan Valadares, explica que a escolha do Shopping Barra se deu pelo fato de o estabelecimento ser “de elite” e que a luta é, principalmente, contra o racismo.

“Não é só pelo direito ao consumo. É muito mais que isso. Não dá pra entender por que um jovem negro não pode entrar em um shopping. Está acontecendo uma higienização social. A começar pelo fato de a prefeitura extinguir linhas de ônibus que levam as pessoas da periferia à Barra”, denuncia Valadares.

O caráter racista do movimento contrário ao “rolezinho”, comparado pelos freqüentadores mais elitizados dos shoppings à marginalidade, é confirmado pela coordenadora nacional de Combate ao Racismo do PCdoB, Olívia Santana. Segundo ela, a evidência está nos mecanismos que as administrações dos estabelecimentos comerciais paulistas adotaram para selecionar os freqüentadores.

“Uma coisa é ter mecanismos de coibir marginalidade, outra coisa é transformar em marginal todo e qualquer jovem pobre e negro, que possa acessar o shopping. Isso é inaceitável. O shopping precisa estar aberto a todas as pessoas que nele queiram entrar”, afirma Olívia.

Reflexos

A coordenadora parabenizou a juventude que se mobilizou, a partir do que aconteceu em São Paulo, organizando manifestações por todo o país. Para Olívia, o fenômeno do “rolezinho” tem servido para a volta da discussão sobre a discriminação racial e social no Brasil. Ela se diz otimista com os debates, que, segundo ela, devem refletir em uma mudança importante.

“A juventude tem dado uma resposta devida. Nós não podemos aceitar esses casos de discriminação. Esse é um movimento que educa as administrações de shoppings a não selecionar seus clientes pela cor da pele, pela condição social. Todos precisam ter livre acesso ao equipamento de maneira digna”, acrescenta.

Novos espaços

Apesar de movimento ser pelo acesso livre ao shopping, Alan Valadares explica que o protesto também é pelo direito a outros espaços para o lazer. “Pleiteamos mais espaços para a juventude, pois os shoppings não são os únicos lugares para os rolés. Temos que ter praças, espaços culturais e outros espaços públicos que a gente possa ter um lazer”, finaliza.

Um novo “rolezinho” está previsto para acontecer na capital baiana, no próximo dia 17 de fevereiro, em um outro shopping da cidade, que ainda não foi revelado.

De Salvador,
Erikson Walla