Mercantilização do livro: O que os jovens desejam ler?

Com seu tom crítico e genial, que apimenta a programação da Rádio Vermelho, o jornalista e escritor Urariano Mota reflete sobre a cultura dos best sellers e a mercantilização do livro. "Se ao terminar um livro, ele não tiver acrescentado nada, mudado seu imaginário, ele não cumpriu com o objetivo e, portanto, não serve para nada", refletiu o escritor nesta edição do "Prosa, Poesia e Política".

Joanne Mota, da Rádio Vermelho em São Paulo

Ao narrar diálogo que travou com um jovem pernambucano, Urariano Mota levanta a questão sobre o que os jovens desejam ler e reafirma sua defesa sobre o potencial da literatura na formação social e como ela pode transformar a reflexão cognitiva de quem se atreve a mergulhar nas páginas produzidas pelos grandes autores brasileiros.

Acompanhe aqui todas as colunas do Prosa, Poesia e Política

Ao refletir sobre essa questão em outros momentos, Urariano destaca como a literatura deveria ser apresentada pelos professores aos alunos. “Um autor deve ser apresentado a partir de um problema. Nada como o conto Missa do Galo, de Machado, para todos os adolescentes. Eles entenderão até a última linha, vírgula e pontinho das reticências. Eles vão respirar todos os movimentos implícitos e insinuados da conversa da mulher solitária com um jovem. Eles são esse jovem. Eles sonham com essa noite ideal em que os espere uma senhora sozinha. Elas compreendem esse jovem e essa mulher. O conto tem todos os elementos de promessa de sexo e conflito com o pecado antes de uma missa devota…", externou o colunista.

Segundo ele, "ou se fala do que se conhece e do que se vive ou não se fala. Ponto. Deve-se falar do amor, sempre. E nisso não vai nenhum romantismo. Deve-se falar do amor, sempre, porque toda obra é a sua busca ou a sua negação, a sua falta ou plenitude".

"Apesar de até aqui ter falado de minha própria experiência, devo terminar com duas coisas ainda mais pessoais. Primeira: não consigo até hoje falar de Andersen com isenção e distância, quando me refiro ao conto A pequena vendedora de fósforos. Aquela trajetória da pequena menina que sai a vender fósforos em uma véspera de Ano Bom, nas ruas geladas de uma cidade, que vislumbra pelo vidro embaciado das janelas a ceia posta nas casas burguesas e com profunda fome fica encantada… E me fere mais, e aí não consigo ir adiante, quando Andersen realiza aquela imagem extraordinária: enregelada, morta, a pequena vendedora sobe “em um halo de luz e de alegria, mais alto, e mais alto, e mais longe… longe da Terra, para um lugar, lá em cima, onde não há mais frio, nem fome, nem sede, nem dor, nem medo”, acentuou o poeta pernambucano.

Acompanhe a reflexão de Urariano Mota na Rádio Vermelho: