Plano Condor: Itália espera que STF ponha fim à impunidade

1964-2014: meio século depois do golpe de Estado o Supremo Tribunal Federal (STF) mantem em vigor a (auto) anistia de Figueiredo além de permanecer na retaguarda das cortes sul-americanas em matéria de direitos humanos.

Agora, até a Justiça da Itália está expondo o estranho recorde do STF e sua convivência pacífica com a impunidade, ao abrir um processo sobre os crimes da Plano Condor. Essa rede terrorista, da qual a ditadura brasileira participou ativamente, é suspeita de ter urdido a conspiração que teria assassinado o presidente João Goulart em 1976, cujos restos foram exumados há dois meses para serem examinados em laboratórios estrangeiros.

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“Falei a semana passada com o procurador italiano Giancarlo Capaldo, da Corte Penal de Roma, que me manifestou a clara intenção de solicitar a colaboração do STF no Processo Condor. Eles querem a extradição de um repressor uruguaio, que está fugitivo no Brasil, assim como outros repressores sul-americanos que descobrimos aqui nos últimos anos”, declarou Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos.

“É preciso esperar que chegue de Roma o pedido de extradição do ex-coronel uruguaio Pedro Antonio Mato Narbondo para saber se o STF dará um sinal de sua vontade política de por um fim à impunidade do Plano Condor. Este é um ano simbólico, 50 anos do golpe, e quero pensar que os ministros serão sensíveis a esta situação. O Brasil não pode seguir sendo o lugar preferido dos repressores em fuga”.

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Gozando de sua impunidade no Brasil o repressor uruguaio foi fotografado boiando sobre as águas azuis e calmas de uma praia supostamente do nordeste, num gesto que parece zombar dos juízes italianos e sul-americanos que o processaram por sua participação no aparato repressivo montado pelas ditaduras sul-americanas nos anos 70 e começo dos 80.

“Pode-se afirmar que o coronel aposentado uruguaio Pedro Antonio Mato Narbondo está vivendo na cidade de Santana do Livramento, no estado do Rio Grande do Sul, ao lado da fronteira com o Uruguai”, assegurou Jair Krischle.

As denúncias e os minuciosos relatórios de Krischke foram decisivos para que o Supremo aceitasse deportar o militar aposentado uruguaio Manuel Cordero em janeiro de 2010 e o argentino Claudio “Gordo” Vallejos, em março de 2013, acusados de participar em 1976 da desaparição de Francisco Tenorio, o pianista de Vinicius de Moraes, quando este realizava uma série de shows em Buenos Aires.

O ex-coronel Mato Narbondo, que continua gozando de seu refúgio brasileiro, é acusado pela Justiça em Roma e Montevidéu de ter participado de ações orquestradas pelo Plano Condor que custaram a vida de italianos ou descendentes, além de sua suposta vinculação com o sequestro e assassinato dos congressistas uruguaios Zelmar Michelini e Héctor Gutiérrez Ruiz, ocorridos em maior de 1976, em Buenos Aires.

Em novembro de 2013, o juiz do Processo Condor na Itália, Alessandro Arturi, determinou o envio das acusações contra Mato Narbondo, o ex-ditador uruguaio Goyo Alvarez e outros líderes militares do Chile e da Bolívia com base nos autos elaborados pelo procurador Giancarlo Capaldo, após quase 15 anos de trabalho.

Fonte: Carta Maior