De dezesseseis passamos a dezesseis

Por José Reinaldo Tavares

José Reinaldo Tavares
Explico: o valor total do nosso PIB colocava o Maranhão em décimo sexto lugar entre os demais estados brasileiros já há vários anos. Mas foi com grande euforia que o senador Sarney anunciou que o estado estava experimentando uma enorme fase de crescimento, muito maior do que a de qualquer estado brasileiro e agora éramos o décimo sexto estado brasileiro em tamanho do PIB. Agora vejam isso: quando a oligarquia anuncia um grande crescimento é porque o estado se manteve no mesmo lugar. Um alívio!

Voltei a receber tentativas de ataque do senador José Sarney em seu artigo dominical no seu jornal. Falou que não podia esquecer que um ex-governador era o verdadeiro culpado pela péssima fama do Maranhão, porque teria colocado outdoors em todos os estados, divulgando que o Maranhão era o mais miserável do país.

Segundo ele, esse terrível outdoor teria mudado o nosso estado de uma tal forma que hoje é conhecido como o mais pobre e miserável, possuidor dos piores indicadores sociais do Brasil. Considerando o que diz, certamente tudo herança e consequência desses terríveis anúncios.

Examinemos agora a verdade: Primeiro que todo o contido nos outdoors era verdadeiro. Não inventei e tampouco aumentei nada. Segundo, ele não contou as coisas terríveis que fez para não deixar o meu governo funcionar, sendo a tentativa de não permitir a aprovação de um empréstimo do Banco Mundial de 30 milhões de dólares para combate a pobreza o pior e o mais atroz desses movimentos, comandada pessoalmente por ele.

Tratava-se de recurso precioso e premente para milhões de maranhenses que estavam na faixa da pobreza absoluta. O poderoso outdoor – que na verdade foi um só – afixado em Brasília, era uma das últimas tentativas de chamar a atenção do Congresso para o que ocorria ali nos bastidores. O processo mofava há três anos nas gavetas do senado e o Banco Mundial já ameaçava arquivar o empréstimo, já aprovado pela diretoria do banco e pela Secretaria do Tesouro Nacional. E os senadores diziam que a ordem era para não aprová-lo.
O outdoor ajudou, mas o que fez os senadores colocarem o processo em pauta, votarem e o aprovarem foram os duzentos pequenos agricultores que foram para Brasília e para as galerias do senado com tanta força que chamaram a atenção para a terrível iniquidade que o senado estava prestes a promover. Com efeito, sob brados de protesto do senador Sarney e da sua filha, também senadora, os colegas parlamentares aprovaram o empréstimo. Isso causou profunda mágoa ao senador, que ele não esquece, já muito incomodado com a discussão que colocamos em pauta em que fazemos uma digressão sobre o IDH e os péssimos indicadores sociais do Maranhão.

A raiva é tão grande que ele não consegue citar o meu nome. Fala sempre em um ex-governador. Mas “esse cara sou eu”, se me permitem usar o bordão popularizado por famosa e recente canção de Roberto Carlos.

O senador José Sarney sempre foi muito bom de mídia. E procurou construir um império de comunicações para impor sempre a sua verdade, independente de o que diz ser ou não verdade. Fez aqui e fez no Amapá. Igual.

Isso deu a ele um grande poder no Maranhão e, por consequência, após a presidência da Republica e sucessivas eleições para presidente do Senado – aliando-se aos fatos que transformaram o ex-presidente Lula de inimigo em amigo do peito – amealhou para si um poder raramente experimentado por um político brasileiro. Poder esse usado basicamente para perseguir adversários políticos e consolidar cada vez mais sua eminência parda.

Mas tinha um grande calcanhar de Aquiles. Era a real situação do Maranhão – sua paixão, seu torrão – como repetia sem cessar. Contudo, mesmo na presidência da República, abandonou o estado. Deve ter achado que o seu grande poder midiático bastava e isso funcionou a seu contento durante algum tempo, quando mandava e desmandava aqui. Foi assim, do jeito que ele queria, até romper comigo em 2004, quando eu era governador e a sua filha queria que eu fosse apenas uma espécie de capataz, agindo sob ordens.
Ele e Roseana nunca se importaram com a real situação do Maranhão e estariam até hoje saudando o grande crescimento do estado se o meu governo não tivesse introduzido na pauta de nossa discussão interna do governo, o IDH e todos os demais indicadores sociais, que, a despeito da onda de grande crescimento que só a oligarquia viu, permanece como os piores ou vice piores entre todos os demais estados brasileiros. Nenhum melhorou. e quase todos pioraram, desde que Roseana Sarney voltou ao governo.

Hoje todo o Brasil sabe da verdade. Somos o estado mais pobre e com, maior número de miseráveis e com o pior nível educacional do país.

Agora até a Rede Globo, associada ao império de comunicação que a família Sarney mantém no Maranhão, não tem mais como esconder o fato e o mostra para todo o país em toda a sua crueza. Essa é uma verdade que hoje o Brasil inteiro conhece e – pior para eles – sabe quem são os culpados. Sabem que isso é o resultado de tantos anos de domínio da nefasta família sobre o estado.

Não adianta querer politizar o assunto. Não adianta mais tentar se passar por vítima. As vítimas são o povo do Maranhão, porque durante algum tempo acreditou no que diziam, mas isso agora acabou, é passado.

Portanto, Roseana Sarney, que tinha anunciado fazer o melhor governo de sua vida, chega ao último ano de sua gestão isolada pelo povo e sem apoio, a tal ponto que não existe paralelo na história do estado. Enquanto isso, temos ainda que aguentá-la por uns meses uma governante com a pecha de mais mal avaliada da história do Maranhão.

Sim, porque, segundo as ultimas pesquisas, 80 por cento não se sentem seguros em morar em São Luís. A rejeição à governadora chega a 80 por cento. A segurança piorou em patamar que chega a 88 por cento, e a população crê que o maior responsável é o governo do estado. Como se não bastasse, 70 por cento dos entrevistados acham que ela deve renunciar e 90 por cento querem a intervenção federal.

É melhor sair logo! Atende o povo, Roseana!