Anistia chama de ‘racismo envergonhado' ação contra ‘rolezinhos’ 

O diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, Átila Roque, vê na reação da Polícia Militar de São Paulo e dos shoppings aos chamados "rolezinhos" como uma "atitude discriminatória e ilegal, de acordo com a legislação brasileira". Os “rolezinhos” são encontros surpresa de jovens da periferia que geralmente acontecem em estacionamentos de shoppings, no intuito de promover um rápido show de funk, tomar cerveja e se divertir. 

De acordo com relatos publicados na imprensa nesta segunda-feira (13), sem indícios de que se tratavam de criminosos, a PM revistava e coibia a entrada de alguns jovens nos shoppings, com ameaças do tipo "vou te arrebentar se te ver por aqui de novo".

Enquanto a barbárie acontecia em Itaquera, do outro lado da cidade, na Vila Olímpia, Zona Sul, o shopping JK Iguatemi ingressou com uma liminar na Justiça para impedir a realização de outro evento chamado "Rolezaum no Shoppim", que aconteceria no mesmo sábado. O evento se tratava de uma piada criada por um professor indignado com a "fobia" dos shoppings contra os jovens da periferia.

Para Átila, a atitude da PM e do shopping JK Iguatemi mostra um "racismo envergonhado”. Ele afirma que “em geral se aceita é que para o negro jovem e pobre possa frequentar um shopping de luxo, ele tem que estar ou com o uniforme de segurança ou de babá. Se ele não está vestido assim, está fora do ‘seu lugar’".

“O racismo envergonhado é que incomoda de forma tão desproporcional os donos e frequentadores desses shoppings. Simplesmente pela presença física do outro que não é igual ou não segue o ideal de normalidade que se convencionou para aquele local. Pra essa turma aquele é um local apenas reservado para um tipo de pessoa e classe social. Eu vejo expressão política e bem-humorada desses jovens a favor da afirmação de direitos. Com uma certa provocação até, claro. Mas uma provocação muito criativa”, avalia.

Ele se diz absolutamente chocado com o grau de violência da PM na ação do shopping Itaquera e afirma mais uma vez estar preocupado com a escalada de violência das forças públicas contra os jovens. "Estamos de novo mostrando a natureza extremamente discriminatória que persiste na sociedade brasileira", declara.

A Anistia Internacional é uma das principais entidades de defesa dos Direitos Humanos no mundo. No Brasil tem sede no Rio de Janeiro.

Fonte: Terra Magazine