Nádia Campeão avalia o primeiro ano do governo de SP

Contribuir para enfrentar os problemas e tentar melhorar a qualidade de vida do povo de São Paulo, segundo a vice-prefeita da capital, Nádia Campeão, é a sua energia. Animada com o resultado de um ano de trabalho, ela faz questão de afastar o dístico de pessimista que a imprensa tenta colocar no governo.

Por Ana Flávia Marx, da Redação do Vermelho-SP


“Mudar a cidade é o que me motiva todos os dias. A gente vai com espírito de luta, de enfrentamento, acreditando que o mandato que nos foi dado tem que ser cumprido com determinação e competência, coerente com o programa que defendemos”, garantiu Nádia, que recebeu a redação do Vermelho-SP para falar sobre o primeiro ano de gestão na maior cidade do país.

Para Nádia, que é filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a busca por mais recursos através de projetos estaduais e federais e o enfrentamento de problemas sociais e estruturais são a marca da gestão neste primeiro ano.

Logo nos primeiros meses, a meta era ajeitar a casa para garantir os principais pontos do seu programa de governo. O fim da taxa da inspeção veicular e a implantação do Bilhete Único mensal são citados como exemplos de compromisso com o programa de governo pela vice-prefeita.

Outro tema que teve mais relevo na agenda do governo em 2013 foi o transporte. O assunto foi o ponto de virada para a vitória de Haddad, quando houve a polarização com o então candidato Celso Russomano. A mobilidade urbana ganhou ainda mais a agenda do governo após as manifestações de junho.

“Passamos a ter apoio popular para fazer mudanças que foram adiadas por muito tempo. Nós conseguimos apoio para fazer corredor de ônibus, dar prioridade ao transporte coletivo, porque se já há resistência quando você faz 300 km de faixa exclusiva, em que tem gente achando que os carros estão sendo prejudicados e não pensam que as pessoas ganharam 38 minutos por dia, imagina se não tivesse tido as manifestações de junho”, refletiu a vice-prefeita.

Sobre a tarifa, Nádia lembrou que já na campanha a coligação dizia que o valor pesava no bolso das pessoas e, principalmente, no dos trabalhadores paulistanos. “A nossa proposta era jamais ter reajustes da tarifa acima da inflação; segundo, implantar o bilhete único mensal e, naquela ocasião, nós só podíamos falar do ponto de vista dos ônibus, que é de responsabilidade da Prefeitura, porém nós conseguimos fazer com que o governo do estado aderisse. Hoje nós tem o bilhete único para ônibus e metrô, ou para ônibus e trem, que é um avanço extraordinário.” 

“Evidentemente nós temos a marca de valorizar o transporte público coletivo da cidade, foi esse enfrentamento feito através da implantação de 300 km de faixa exclusiva de ônibus, a projeção dos corredores de ônibus que serão contratados, a organização do Conselho dos Transportes, que está em funcionamento, a licitação de uma auditoria internacional sobre o sistema de transporte público de SP que vai dar base para que a gente faça a nova licitação dos contratos de concessão”, defendeu Nádia.

IPTU Progressivo

Questionada se faltou uma estratégia de comunicação do governo para esclarecer sobre as mudanças no IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano), Nádia acredita que o conflito de interesses econômicos e sociais pesou mais do que a comunicação.

“É um caso flagrante de uma medida que beneficia a cidade e a maioria da população, mas que a sua interpretação e análise foram apropriadas por setores mais conservadores, mais privilegiados, que têm acesso as ações judiciais de forma rápida para interditar isso. Assim o debate fica truncado”, disse Campeão.

Saúde

A saúde em qualquer cidade do país é objeto de preocupação por parte da população. Em São Paulo não é diferente. A fotografia recente da área é de filas nos postos de saúde, filas para exames e a estagnação do número de leitos hospitalares.

Segundo a vice-prefeita, a situação também está sendo enfrentada tendo como estratégia central ampliar os aparelhos do SUS (Sistema Único de Saúde), com a construção de três hospitais, a implantação de sete dos 32 ambulatórios da Rede Hora Certa e também com ações permanentes para realização de exames, em que a fila estava chegando ao número de um milhão e neste ano foi reduzido para 600 mil.

“Já identificamos os recursos e os locais para os três novos hospitais. O hospital de Parelheiros e o de Brasilândia já estão com os projetos bem avançados, já vamos iniciar a licitação e a ordem de serviço. E ainda descobrimos o potencial de outros hospitais que estavam desativados, eram hospitais privados que estamos recuperando para o SUS, como é o caso do Santa Marina, que será um hospital público, e a recuperação que nós estamos fazendo do hospital Sorocabana, que tem um ambulatório Hora Certa lá”, demonstrou.

Educação

Na área educacional o desafio apresentado era acabar com a aprovação automática, problema que estava se alastrando no município e que, é bom lembrar, é um câncer na educação paulista em que forma milhares de estudantes sem saberem direito ler ou escrever.

Para enfrentar o problema o governo realizou uma reforma educacional, com mudanças no currículo e na avaliação que estabeleceu novos ciclos do processo de aprendizagem.

“Acabamos com a aprovação automática. Estamos investindo no aprendizado, mas com controle é uma requalificação do sistema educacional que se inicia já em 2014”, garantiu Nádia.

Subprefeituras

Durante a campanha a proposta principal nesse assunto foi a descentralização da Subprefeituras. Alvo de queixas das comunidades para que sejam mais do que responsáveis pela zeladoria dos distritos, Nádia contou que essa ação está sendo encarada de forma processual.

“Esse processo tem que ser organizado e cumprido parcialmente. Você não pode mudar do dia para a noite algo que estava totalmente centralizado sob pena de desorganizar atendimentos importantes. Isso pede um cronograma, sobretudo orçamentário”, justificou.

Há também uma discussão para discutir a descentralização em áreas como cultura, transporte, verde e meio ambiente e tratar com mais cuidado a descentralização nas áreas da saúde e educação que são sistemas mais complexos.

Movimentos sociais

A agenda da sociedade civil organizada da cidade não parou. Foram diversas manifestações, de professores, estudantes, movimentos de moradia, taxistas, enfim, a relação entre o governo e esses movimentos teve mais dinamismo no primeiro ano do mandato.

Assunto que a vice-prefeita encara com muita tranquilidade, pois os partidos que dirigem a Prefeitura têm profundas relações com os movimentos sociais. Por isso, rejeita qualquer forma de resolver problemas sociais com medidas policiais, repressivas ou autoritárias e reafirma que o governo é aberto ao diálogo na busca de soluções comuns.

Diálogo não é só ouvir reivindicações, mas exige também da parte dos movimentos organizados haver disposiçã“o de ouvir os argumentos do governo e interagir com eles. Então, às vezes, a gente se depara com alguns movimentos que não querem ouvir os planos da administração, os projetos, os tempos, as possibilidades. Aí não é um diálogo.” A mesa de negociação, de acordo com Nádia, “no geral tem resultado em soluções positivas”.

Democracia participativa

Nesse assunto a mudança é perceptível. Atitude inédita na cidade, o governo implantou o Conselho da Cidade, um espaço para discutir os problemas, apontar soluções e propor políticas públicas com lideranças de diferentes áreas.

Outra ação importante foi a eleição de 1.125 pessoas no Conselho de Representantes da Prefeitura, que há anos existia a lei, porém não era executada.

“Era uma reivindicação antiga da cidade, que desde que foram criadas as Subprefeituras, existe o anseio da população. Isso ficou parado durante oito anos por falta de vontade política e por discordância da importância desse Conselho”, afirmou a vice-prefeita.

Aprovação do governo

O mandato tem enfrentado os problemas que a população exigiu nas urnas em áreas que têm grande impacto na vida da maioria da população, como por exemplo, a implantação das faixas exclusivas que têm aprovação de especialistas e dos usuários do transporte público. Contudo, a anuência das ações não se reflete na aprovação do governo.

Para a vice-prefeita, não existe imediatamente uma identificação entre a medida positiva e a imagem do conjunto do governo ou do prefeito, em função de muitas outras coisas que acontecem na cidade. “A cidade de SP é uma cidade complexa, com um conjunto de interesses econômicos e sociais conflitantes, tem uma mídia muito ativa, mas que tem os seus pontos de vista que nem sempre são o de levar em conta os interesses da cidade e da população. Isso tudo confunde muito.”

Copa do Mundo

O evento esportivo mundial é uma das atribuições da vice-prefeita, que está à frente da SPCopa.

A preocupação de Nádia sobre o evento versa sobre dois pontos. O primeiro de cumprir os itens indispensáveis para a realização da Copa, ou seja, finalizar o estádio, finalizar uma série de empreendimentos e iniciativas de obras.

O outro é o desenvolvimento de ações que beneficiarão a região da Zona Leste e a cidade de São Paulo transcendendo em muito a Copa, porque o estádio estará ocupado durante um mês com as atividades da Copa, mas depois disso ele continuará em Itaquera e terá uma vida longa. “Nós vamos reocupar muitas áreas do entorno para novos projetos, a construção de escolas, centros culturais, empreendimentos que vão gerar emprego na região. Tudo que estamos fazendo está levando em conta o desenvolvimento da Zona Leste”, discorreu Nádia Campeão.