Deputados devem votar este ano biografias não autorizadas 

A Câmara dos Deputados deve votar, este ano, o projeto de lei que permite a publicação de biografias não autorizadas de pessoas públicas. A proposta, que rendeu muitas polêmicas no ano passado, altera o Código Civil para dispensar de autorização prévia à publicação de livros, imagens ou gravações que relatem a trajetória de artistas, políticos e outras pessoas de relevância social. 

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A matéria já foi aprovada em caráter conclusivo pelas comissões permanentes da Câmara e poderia seguir para o Senado, mas houve recurso assinado por 72 deputados para que o Plenário a analisasse.

Autor do recurso, o deputado Marcos Rogério (PDT-RO) justifica a iniciativa por considerar a mudança muito profunda. Ele afirma que a proposta coloca em conflito dois direitos fundamentais – à privacidade e à liberdade de expressão. Rogério defende que um assunto “tão complexo” seja debatido mais profundamente.

Na avaliação do autor da proposta, deputado Newton Lima (PT-SP), a regra atual tem um resquício autoritário. Atualmente, juízes costumam determinar o recolhimento das biografias não autorizadas, quando há questionamentos. Ele afirma que seu projeto proíbe a censura prévia, mas não impede o reparo a abusos eventualmente cometidos.

"Veja que nós estamos tratando de celebridades, que são aquelas que fazem a História – jogadores de futebol, artistas – como o caso do Roberto Carlos, ele mudou a minha geração e a geração de muita gente, com a Jovem Guarda, e a biografia dele está proibida”, exemplifica o parlamentar.

“Não é possível se contar a história adocicada só a juízo de quem é a celebridade. É justo que outros que são autores, biógrafos, estudiosos, professores, ao escreverem as biografias, deem a sua versão da história”, acrescenta Newton Lima. “Se cometerem abuso, se violarem a honra da pessoa biografada, a Constituição e a legislação estão aí para garantir a reparação, a posteriori.”

Decisão antes do Judiciário

Newton Lima espera que a Câmara decida sobre o tema antes do Judiciário. Uma ação direta de inconstitucionalidade, de 2012, está para ser julgada no Supremo Tribunal Federal (STF).

A Associação Nacional dos Editores de Livros questiona o artigo do Código Civil que está sendo modificado pelo projeto. Para o advogado da entidade, Gustavo Binenbojm, a mudança na lei não significa quebra do direito à privacidade.

"A pesquisa histórica, o levantamento de informações se dá no limite da legalidade, ou seja, com o resgate de depoimentos esquecidos, como foi aquele dado pelo Chico Buarque ao biógrafo do Roberto Carlos, Paulo César Araújo. Chico Buarque disse que não tinha dado a entrevista e Paulo César provou que a entrevista existiu, inclusive, pela gravação”, lembra o advogado. “Então, nós estamos a falar aqui das informações que são legalmente apuradas ou voluntariamente reveladas pelos seus detentores."

Conciliação de direitos

O assunto levou artistas a se manifestarem nas redes sociais. A associação Procure Saber reúne músicos como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan e Chico Buarque. Roberto Carlos também participava, mas depois se desentendeu com os participantes e retirou-se do grupo.

Eles divulgaram vídeo afirmando que não querem censura prévia e que confiam no Poder Judiciário para encontrar uma forma de conciliar o direito constitucional à privacidade com o direito, também fundamental, à informação. Eles argumentam ainda que se trata de juízo íntimo a decisão sobre o que é público ou privado em suas vidas.

O projeto que permite a publicação de biografias não autorizadas recebeu pedido de urgência e poderá ser analisado depois da liberação da pauta do Plenário da Câmara.

Da Redação em Brasília
Com Agência Câmara