Embates entre Sarney e Nelson Carneiro

A serpente encantada e o Sarney democrático, III

Por Egberto Magno

O senador oposicionista Nelson Carneiro, do MDB, refuta com veemência as palavras de José Sarney, questionando o fato de o destino do país está nas mãos de um só homem – o presidente Garrastazu Médici, tendo este homem o direito de dissolver o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras de Vereadores, cujos membros foram eleitos pelo voto popular, e avocar para si as atribuições legislativas. “No Rio Grande do Sul, município de Canguçu, (…), nas eleições diretas foram eleitos um deputado, o prefeito e o vice pelo MDB. Todos foram cassados e o governo transformou aquele município em Área de Segurança Nacional”, sendo nomeado interventor o candidato da ARENA que havia sido repelido pelo povo nas urnas, denunciou Carneiro. Se dirigindo a Sarney, Nelson Carneiro o desmascara: “Me surpreende que um homem de formação liberal, ainda agora confessada, (…) na hora da sua maturidade política, venha a esta tribuna sustentar a necessidade de se manter esse estatuto, que é um opróbrio à consciência democrática da Nação!”.

Em discurso proferido no dia 16 de setembro do longínquo ano de 1971, o senador José Sarney, sem o menor constrangimento, confessa que “em dezembro de 1968 [se referindo ao decreto que instituiu o AI-5], quando o presidente Costa e Silva viu-se obrigado a editar o AI-5 e a colocar em recesso esta Casa, foi dito que faltou ao Governo o apoio político necessário para conjurar a crise. Foi preciso apoio militar para resolver uma situação eminentemente política”, demonstrando, claramente, a sua legitimação àquele ato de exceção. Ainda naquele mês, dia 21, Sarney tece elogios ao primeiro presidente após o golpe militar de 1964, Castelo Branco, considerado por ele uma das maiores figuras da história do Brasil e um dos grandes estadistas deste país. Com um estadista daqueles…

Nos anos que se seguiram o ainda quarentão senador manteve-se caninamente fiel às ações perpetradas pela ditadura, se revelando um dos melhores amigos do regime.