UJS lança carta em seu 1º Encontro de Jovens Feministas

Em seu 1º Encontro de Jovens Feministas, que ocorreu entre os dias 13 e 15 de dezembro em Brasília, a União da Juventude Socialista (UJS) lançou uma carta pelo combate ao machismo, pela emancipação da mulher e maior participação nos espaços de poder. Confira a integra da carta:

Combater o machismo, emancipar as mulheres e construir o socialismo!
Mais mulheres nos espaços de poder!

Nós meninas e meninos, jovens socialistas ombreados no I Encontro de jovens feministas da UJS, nos orgulhamos de realizar este espaço que alça a luta emancipacionista das mulheres ao centro da nossa construção do socialismo no Brasil.

A história da exploração sexual do trabalho, em que foi relegado às mulheres o confinamento ao mundo privado, o mundo dos cuidados à família e o não reconhecimento de nossos direitos civis e políticos, potencializa a própria exploração de classes ao qual os trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo estão submetidos.

O Capitalismo, que vive desde 2008 sua maior crise sistêmica, tem como um dos pilares do seu aparato ideológico de dominação a propagação de modelos de sociedade baseada nos valores de individualismo, do consumo desenfreado, mas também do machismo, através do estabelecimento da divisão sexual do trabalho, dos esteriótipos de beleza, de comportamento alinhados ao padrão cristão de civilização, rebaixando o papel das mulheres na sociedade.
No ano em que a UJS inicia as comemorações dos seus 30 anos, precisamos contar não só nossa história pela lente do protagonismo juvenil, mas principalmente, dar visibilidade ao protagonismo feminino que é tão presente nas nossas raízes.

Nossa herança mais forte, a da Guerrilha do Araguaia, teve nas suas fileiras a bravura das mulheres comunistas, que no coração do Brasil, em Xambioá, aliou ao combate à ditadura, a luta pelo socialismo e a luta pela emancipação da mulher brasileira. E por isso, não só morreram, mas tiveram seus corpos duramente violentados, como uma tentativa de não deixar legados de questionamento à sociedade patriarcal. São as nossas heroínas Elza Monerat, Dinalva Oliveira Teixeira, Helenira Rezende, Maria Lúcia Petit, Dinaelza Santana Coqueiro, Luzia Reis, Suely Kanayama, Lucia Maria de Souza, Luiza Garlippe, Criméia Schimidt de Almeida, Áurea Valadão, Maria Célia Correa, Edilena da Silva Carvalho, Lúcia Regina Martins, Jana Barroso e Telma Regina Correa.

O ano de 2013 também entrará para nossa história, pois imensas foram nossas conquistas em que as mulheres também estiveram na linha de frente. A vitória da revogação do aumento da passagem de ônibus em centenas de cidades brasileiras mostra a força da juventude nas ruas. Conquistas históricas como a aprovação de 50% do Fundo social do Pré-sal e 75% dos royalties do petróleo para a educação e a aprovação do estatuto da juventude, foram lideradas pelas meninas presidentas da UNE, UBES e ANPG. Essas vitórias foram impulsionadas pelas ruas de junho e reforçam a convicção do papel decisivo que tem a juventude na luta pelo Brasil dos nossos sonhos.

A luta pelo socialismo com a cara do Brasil, no entanto, depende ainda da superação de muitos entraves que só poderão ser vencidos se avançarmos em reformas mais profundas, democráticas e estruturantes. Com centralidade para uma Reforma Política, que torne a política mais representativa do povo e das mulheres, assegurando o fim do financiamento privado de campanha, a garantia da paridade de mulheres nas listas partidárias e cotas de 50% de mulheres e alternância de gênero em todas as casas Legislativas do Brasil. A democratização da mídia, que reproduz cotidianamente os esteriótipos e valores hegemônicos de patriarcado e do machismo. Nossa luta pela verdade e pela justiça passará por, nos marcos dos 50 anos da ditadura que se dará em 2014, assegurar a Revisão da Lei da Anistia, a punição dos torturadores e a devolução dos restos mortais dos nossos guerrilheiros e guerrilheiras do Araguaia.

A nossa luta feminista deve ser transversal em todas as lutas e bandeiras levantadas pelo nosso povo. Não é possível construir uma sociedade sem classes e socialista, sem libertar metade da população mundial das opressões simbólicas e físicas constituídas historicamente. A dominação do corpo da mulher se constituiu como mecanismo estruturante da manutenção do sistema de dominação e para a manutenção dele o machismo deve ser reproduzido permanentemente.

A cultura cristã ocidental que nos enquadra entre os esteriótipos de pecadoras na figura de Eva ou de puras e castas como Maria, mãe de Deus, não permite expressar nossa diversidade de ser e de amar. Não somos putas nem santas!

Nesse padrão não cabem meninas que amam meninas, não cabem meninas que não tenham na maternidade seus principais objetivos de vida, não cabem profissionais das áreas de ciências aplicadas e altas tecnologias, não cabem meninas ocupando postos de poder.

Precisamos romper com esses símbolos que impedem o avanço de lutas importantes como o direito pleno ao corpo, a legalização do aborto, o avanço de políticas pelo fim da violência contra a mulher como a Lei Maria da Penha, a garantia de creches nas universidades e locais de trabalho e políticas que tirem da carga de trabalho da mulher as horas de trabalho doméstico, desse trabalho excedente não remunerado ao qual somos submetidas.

O machismo é uma das vertentes da luta de classes e só será superado no socialismo, quando romperemos com as amarras culturais que oprimem, mutilam e matam as mulheres. Nossa tarefa primeira sem dúvidas é ocupar os espaços de poder. Esse é um elemento que pode determinar o avanço da luta emancipacionista no Brasil, e, portanto, da luta pelo socialismo. Agora é a hora das meninas e o povo no poder.

Esse I Encontro de jovens feministas pavimentaram um caminho sem volta. A UJS deve somar sua energia na luta das feministas brasileiras. Ninguém segura mais as meninas da UJS e essa energia vibrante que será decisiva para os desafios que se avizinham em 2014.

Brasília, 15 de dezembro de 2013.
I Encontro de Jovens Feministas da UJS.