Direita chilena vive dicotomia e Matthei não deve vencer Bachelet

Como se não bastasse a difícil tarefa de reverter a diferença de 21,7% de votos, registrada no primeiro turno, a candidata governista no Chile, Evelyn Matthei, ainda tem que sofrer com os problemas provocados por seus correligionários, os quais colocam em dúvida sua capacidade de surpreender Michelle Bachelet na decisão do próximo domingo (15).

Por Victor Farinelli, de Santiago para a Opera Mundi

Matthei na reta final da eleição no Chile - Paola Cornejo/Opera Mundi

Os problemas começaram quando o governo de Sebastián Piñera lançou, recentemente, algumas das medidas que estavam contempladas no programa de governo de Matthei. O sistema de avaliação dos juízes, proposta que visa pressionar os magistrados que concedem benefícios carcerários a condenados, foi considerado um dos sucessos eleitorais de Matthei no primeiro turno, mas foi recentemente anunciado como medida conjunta dos ministérios do Interior e da Justiça. Outras apropriações foram a de um subsídio estudantil especial e outro financiamento para compra de material de construção, ambas as medidas exclusivas para províncias mais afastadas da capital.

O afã do governo chileno em lançar como medidas próprias as ideias contidas no programa oficialista é lido por alguns analistas como uma sabotagem à candidatura e como um reflexo da dicotomia que vive a direita chilena hoje, dividida entre o desafio de eleger Matthei e a missão de salvar a popularidade de Piñera (que subiu de 39% para 43% segundo pesquisa recente do instituto Adimark) enquanto ainda há tempo.

Outro problema surgiu quando o senador conservador Antonio Horvath se reuniu com a candidata oposicionista, na primeira semana da campanha do segundo turno. Após o encontro, o ex-líder no Senado do partido RN (o mesmo do presidente Sebastián Piñera) foi ameaçado por outras lideranças do setor. Porém, quatro dias depois de também se reunir com Matthei, Horvath deu uma declaração dizendo que tinha “mais sintonia com programa de Bachelet”.

Ameaçado de ser expulso do partido após essa decisão, Horvath disse planejar formar uma nova sigla política dedicada a lutar pelos interesses das províncias – ele representa a região patagônica de Aysén e já teve diferenças com o governo quando este entrou em confronto com líderes regionais que lutavam por mais autonomia, em fevereiro de 2012.

Mas não foi a única divergência. Durante a mesma semana, outros dois senadores governistas deram entrevistas para a imprensa local dizendo estarem dispostos a uma candidatura presidencial em 2017: Manuel José Ossandón, recém-eleito pelo distrito de Santiago Oriente, e Alberto Espina, senador pela região da Araucania e que foi chefe programático da campanha de Matthei no primeiro turno.

A polêmica aumentou ainda mais quando surgiu a notícia de um registro de domínio na internet “pinera2017.cl”, realizado por um grupo anônimo, o que desvendou um provável interesse do presidente em regressar ao cargo nas próximas eleições.

“São aspirações legítimas, mas o momento é o mais inoportuno. Para o eleitorado, isso passa a impressão de que até mesmo dentro da direita todo mundo já jogou a toalha e que a candidata foi abandonada à própria sorte”, opina Guzmán a Opera Mundi.

Os problemas na candidatura oficialista foram frequentes desde o começo da campanha. Basta lembrar que o setor sofreu com duas renúncias antes de lançar o nome de Matthei. Antes mesmo das primárias, o ex-ministro de Minas e Energia Laurence Golborne, herói do resgate dos mineiros em 2010, foi acusado de enriquecimento ilícito e deixou a disputa interna da direita. Foi substituído em seu partido por Pablo Longueira, que venceu as primárias do seu setor, mas abandonou a corrida eleitoral quinze dias depois, alegando sofrer um quadro profundo de depressão.