Coalizão islamita propõe diálogos com governo interino do Egito

Uma coalizão liderada pela Irmandade Muçulmana no Egito anunciou que pretende entrar em diálogos com o governo interino do país, para colocar um fim ao impasse político atual, de acordo com a agência de notícias Associated Press, em matéria deste domingo (17).

Simpatizantes da Irmandade Muçulmana no Egito - AP Photo

A Aliança Nacional para Apoio à Legitimidade é a primeira proposta formal feita pelos simpatizantes do ex-presidente Mohamed Mursi, cujo partido é afiliado à Irmandade Muçulmana, e que foi deposto pelo Exército egípcio no início de julho.

Os militantes pró-Irmandade organizaram protestos quase diários pedindo o retorno de Mursi à presidência, enquanto ele continuava detido e passou recentemente por uma tentativa de julgamento, adiado para janeiro devido aos protestos.

Em uma mudança de estratégia, os apoiadores da Irmandade fizeram propostas que, pela primeira vez, não incluíram a exigência de retorno de Mursi ao poder.

O apoio popular demonstrado nas ruas à sua deposição foi amplamente reconhecido como uma desaprovação aos rumos tomados pelo governo do presidente islâmico, embora o processo de remoção e a subsequente detenção de líderes da Irmandade e a repressão às manifestações contrárias à medida tenham sido condenadas internacionalmente.

Ainda não está claro se a proposta da coalizão caberá dentro de um plano respaldado pelo Exército egípcio para o retorno do país à democracia. Depois de quatro décadas de ditadura sob o regime de Hosni Mubarak, os egípcios tinham participado pela primeira vez em uma eleição direta, que colocou Mursi na presidência por um ano. Mas protestos massivos, que levaram milhões de egípcios às ruas, rechaçaram diversas políticas adotadas e pediram a sua demissão.

O plano do governo interino é a convocatória de um referendo até o final do ano, com mudanças na Constituição remendada pelos islamitas. A medida seria acompanhada de eleições presidenciais e parlamentares até meados do próximo ano.

O vice-primeiro-ministro Hossam Eissa disse à Associated Press que os simpatizantes de Mursi deveriam aceitar um plano respaldado pelos militares como o seu ponto de início para as conversações.

“Um chamado ao diálogo deve ser baseado na aceitação dos sucessos (desde a deposição de Mursi) e os arranjos atuais”, disse Eissa. “Sem aceitação, não há dialogo”.

          Foto: AP
      
           Em julho, milhões de pessoas protestaram contra o ex-presidente Mursi.

Propostas de negociação

Mohammed Bishr, um membro da liderança da Irmandade, disse a jornalistas que a proposta da organização pede a libertação dos prisioneiros detidos depois da deposição de Mursi. A aliança de grupos islamitas também insta o fim das operações “securitárias” contra os membros da Irmandade e seus aliados, assim como a reabertura das emissoras que os apoiam.
  
Embora a proposta não tenha declarado assim, um porta-voz da Irmandade disse que uma forma de restaurar a legitimidade constitucional no país seria reinstalar Mursi na presidência brevemente, para que ele possa convocar novas eleições ou nomear um novo primeiro-ministro.

Enquanto isso, um painel de juízes opinou que o Egito deveria desmantelar a representação política da Irmandade, o Partido Liberdade e Justiça, e tomar todos os seus bens, de acordo com a agência de notícias estatal Mena.

O painel também deve concluir as suas sugestões para a proposta de Constituição nesta terça ou quarta-feira (20), enquanto membros da coalizão islamita criticam o seu trabalho.

“A posição inicial da coalizão é a de recusar qualquer resultado alcançado por uma autoridade não eleita”, disse o vice-presidente do ultra-conservador partido Salafi, Yousri Hamad, em declarações à Associated Press.

No sábado (16), o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel telefonou ao general Abdel-Fatah el-Sissi, que esteve à frente da deposição de Mursi. De acordo com um comunicado do departamento, Hagel saudou o fim de um período de três meses de lei de emergência e toque de recolher no Egito.

O país passou por diversos períodos como este desde 1958, o que se tornou contínuo desde 1967. A partir de 1981, com o assassinato do presidente Anwar al-Sadat, o Estado de Emergência foi declarado e renovado de três em três anos. Neste contexto, cortes militares podiam julgar civis e o governo podia detê-los por períodos de 45 dias renováveis, sem acusação, enquanto manifestações de rua são proibidas.

Com agências,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho.