Comunistas apostam em união da esquerda para avançar nas mudanças

A proposta de um bloco de afinidade de esquerda que una forças para avançar nas mudanças, visando o desenvolvimento da produção nacional, ganhou destaque nas intervenções dos comunistas na manhã desta sexta-feira (15). A atividade, que começou por volta das 9 horas, no auditório do Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo (SP), deu continuidade ao debate das teses do 13º Congresso do PCdoB, iniciado na tarde de quinta (14).



Mesa desta sexta (15), formada por uma maioria de mulheres / Fotos: Clécio Almeida

"O Brasil teve uma das mais baixa taxas de juros, porém, a pressão do mercado financeiro acabou elevando novamente as taxas. É preciso regulamentar o sistema financeiro para que seja estabelecido um sistema de crédito para o financiamento da produção nacional e fomentar o desenvolvimento para garantir investimento em infraestrutura e tecnologia, como na construção de satélites e cabeamento submarino”, destacou a deputada federal Luciana Santos (PE).

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Para Luciana, que será indicada durante o Congresso a assumir a Presidência do Partido em 2015, “é preciso incluir o país na cadeia produtiva internacional”. A deputada também destacou a presença das mulheres na política fazendo uma saudação especial às comunistas presentes que compunham a maioria da mesa que coordenou a atividade.

O advogado Flávio Dino, presidente da Embratur e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), fez questão de mencionar a página 37 do caderno das teses propostas para o Congresso, onde está a sugestão da formação de um grande bloco político de esquerda nas instâncias parlamentares, nas esferas governamentais, nos movimentos sociais e no meio acadêmico.

“Não devemos perder a dimensão dos problemas reais. No ambiente geral do país, somos uma força de esquerda e que precisa se manter firme para influenciar o governo Dilma rumo à esquerda. A questão do Maranhão não é apenas específica dos maranhenses, mas também de todos os brasileiros na luta para derrotar as forças conservadoras”, enfatizou Dino que foi muito aplaudido. 

Atualmente, Flávio Dino é o nome mais cotado para assumir o governo no Maranhão.

Herança da ditadura

André Tokarski, presidente da União da Juventude Socialista (UJS), frisou dois pontos. Primeiro, de que é importante analisar os avanços e os limites do atual processo político não com base nos 10 anos de governos progressistas de Lula e Dilma, mas sim com base no programa socialista aprovado no 12º Congresso do PCdoB. “É com base nesse referencial que nós devemos tomar uma posição política frente às conquistas e os limites desse processo em curso”, declarou.

Outro ponto enfatizado pelo presidente da UJS é o de avaliar o atual processo político lembrando que ele começou lá atrás, no processo de redemocratização do país, desde a redemocratização de 1984 e da Constituinte de 1988. “O acordo político celebrado em 1984, na transição do regime militar para a democracia, foi também o acordo que celebrou as bases materiais que perpetuam o oligopólio midiático. Também na forma como a Policia Militar trata hoje os movimentos sociais e extermina a juventude negra na periferia. Temos a impunidade do regime militar, os crimes cometidos na ditadura militar, em especial contra a juventude, contra os direitos políticos e a submissão do Brasil ao processo econômico internacional, como um país exportador de riquezas para o capital internacional”, lembrou.

Outro ponto enfatizado por André Tokarski é que para avançar nas mudanças e alcançar as reformas estruturais necessárias como a democratização da mídia, as reformas política, agrária, do judiciário e tributária, não basta o acúmulo na frente eleitoral institucional. “Temos que ter mais democracia para realizar a democratização da mídia, para realizar a reforma política democrática, a reforma do Poder Judiciário, é preciso também conjugar de forma correta a aliança entre a frente institucional, a luta de ideias e a luta de massas porque a nossa expressão eleitoral não será outro senão fruto da influência do PCdoB em toda a sociedade”, concluiu, lembrando o papel de destaque da juventude nas próximas eleições, quando 40 milhões de jovens votarão.

Outra importante intervenção foi a do cacique Aruã Pataxó, do diretório estadual do Partido na Bahia, que chamou a atenção para a necessidade da derrubada e arquivamento da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215 de autoria do ex-deputado Almir Sá, de Roraima, que transfere a competência da União na demarcação das terras indígenas para o Congresso Nacional, encampada pela bancada ruralista, para enfraquecer a mobilização indígena.
 
“No sul da Bahia a questão de conflito está crítica entre índios e produtores rurais. Por isso, precisamos que a presidenta Dilma autorize o Ministério da Justiça a dar a carta declaratória para o território tupinambá de Olivença, Barra Velha e ao território Tubalalá”, afirmou Aruã, que é o primeiro índio a integrar um partido político na Bahia.

Aruã pretende entregar ainda nesta sexta um documento à presidenta Dilma durante o ato político previsto para as 19h30, juntamente com o ex-presidente Lula.

Homenagem

Maria Prestes, viúva de Luiz Carlos Prestes, subiu ao palco do Palácio das Convenções, na manhã desta sexta-feira (15), para fazer uma saudação especial aos delegados participantes do 13º Congresso do Partido.

“Quero saudar a todos os integrantes da mesa e todos os presentes. Conheço muito bem os problemas do Brasil e luto desde a infância por um país melhor. Fui presa no governo Barbosa Lima, no Recife, participei da luta pelo petróleo, na luta pela paz, contra a bomba atômica e faço questão de comparecer a eventos como esse porque acredito que temos o dever de contribuir para as reflexões do país sempre que possível”, declarou Maria Prestes.
 
A militante, que possui 70 anos de luta partidária, fez questão de chamar a atenção para a importância de se levar o conhecimento sobre as lutas do passado para as novas gerações. “O PCdoB com seus 90 anos de história, eu com meus 70 anos de luta partidária, somados ao tempo que vivi na União Soviética, que passei na África e em Cuba, acredito que temos condições de encampar a luta pelo socialismo no país”, concluiu.

Ao final de sua participação, foi Maria quem acabou sendo homenageada pelos presentes com uma salva de palmas.

Deborah Moreira
Da Redação do Vermelho, no 13º Congresso do PCdoB