PC Colombiano e Marcha Patriótica citam diálogo de paz das Farc

Dentre as 52 delegações presentes no Seminário Internacional do 13º Congresso do PCdoB, iniciado nesta quarta-feira (13), com o tema “Tendências da Situação Internacional”, a participação colombiana foi marcada pelas intervenções de Pietro Alarcón, do Partido Comunista Colombiano, e de Juan Pablo Tapiro, da Marcha Patriótica. Em entrevista ao Vermelho, eles falaram do processo de paz das Farc, um dos assuntos mais sensíveis para a América Latina.

Por Théa Rodrigues, da redação do Vermelho

Recentemente, as Forças Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP) e o governo do presidente Juan Manuel Santos conseguiram um importante acordo sobre a participação política da guerrilha, o segundo ponto de um total de cinco previstos na agenda dos diálogos. As partes negociam em Havana (Cuba) pelo fim do conflito armado que já dura mais de meio século. Em maio deste ano, eles fecharam também um consenso sobre o primeiro ponto da agenda, o tema agrário.

“Há uma vontade sincera por parte da insurgência e há também uma abertura por parte do governo colombiano. Claro que tem a ver com interesses econômicos, mas também com o desgaste da guerra e com a força que vem tomando o movimento social e popular”, disse Juan Pablo Tapiro, membro da Marcha Patriótica ao Vermelho.

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Apesar disso, há um avanço lento nas negociações, o que, de acordo com Pietro Alarcón, da comissão internacional do PC Colombiano, acontece fundamentalmente porque “o governo necessita não só instaurar os diálogos, mas iniciar um processo de reconsideração do modelo econômico e do regime político”.

Alarcón criticou a maneira como Santos está conduzindo o tema. De acordo com ele o mandatário trabalha por um “processo de paz precário”, o que chamou de “paz express”, referindo-se a “uma paz sem conteúdo, feita a qualquer custo, sem falar das necessidades de mudanças democráticas”. Contudo, o militante do PC Colombiano reconheceu que “houve um avanço pontual sobre a necessidade de outorgar garantias à oposição”.

Tapiro contou que antes simplesmente não havia participação da oposição porque eram “massacrados” e disse que com o acordo parcial sobre a participação política, o governo reconhece que não permitia qualquer inclusão da oposição na vida política do país. Assim confirma Alarcón ao declarar que “nunca houve uma autêntica oposição na Colômbia e as tentativas de oposição real foram afogadas em sangue”.

Em teoria, o mais recente consenso entre as Farc e o governo colombiano contempla os direitos e garantias para o exercício da oposição política para os setores sociais e novos movimentos que surjam depois do fim do conflito.

Contudo, uma das preocupações do membro da Marcha Patriótica é com o cumprimento dos acordos. “No primeiro ponto da agenda dos diálogos de paz, trabalharam a questão agrária e chegaram a um acordo parcial, mas há ambiguidades quando o governo se senta para negociar com os camponeses, o que pode ser visto principalmente depois da greve agrária. O governo está delatando as negociações e não avança na agenda de seis pontos proposta pelos camponeses. Então nos perguntamos até que ponto o governo está disposto a concretizar os acordos”, questiona Tapiro.

Por isso, segundo ele, é fundamental que haja a participação e o acompanhamento de movimentos e organizações internacionais em todo o processo. “Tem sido muito importante o acompanhamento do PCdoB e das organizações que são próximas ao partido como a CTB, a Conam, a Unegro, o Cebrapaz, a UJS, que entenderam que o conflito não é uma questão só da Colômbia”.

“Nós acreditamos que esses dois primeiros eram os pontos mais difíceis, especialmente em relação à participação política, mas os pontos que virão a seguir também não são fáceis, porque falar de cultivos ilícitos e de vítimas vai implicar que a insurgência reconheça qual é a sua relação ou até que ponto tem responsabilidade, todavia, mais difícil será o governo reconhecer a sua parcela de culpa nisso”, concluiu Tapiro.