Caso Amarildo: PM tenta confundir investigação em telefonema

 "Ae, X-9, vou te pegar e fazer com você o mesmo que eu fiz com o 'boi'. Fica esperto." No jargão popular das comunidades, X-9 é quem delata e o "Boi", na ocasião, é o auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido da maior favela do Brasil, a Rocinha, desde o dia 14 de julho.

Desaparecimento de pedreiro motivou uma série de protestos pelo País
Foto: Murilo Rezende / Futura Press

Este é o conteúdo de uma ligação que teria sido feita por um traficante local, mas que, de acordo com Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ), foi realizada pelo soldado Marlon Campos Reis com o intuito de atrapalhar as investigações da Polícia Civil sobre o desaparecimento de Amarildo.

Uma perícia de voz realizada por uma especialista do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), junto com cinco depoimentos de policiais que trabalhavam na ocasião na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, foram determinantes para incluir os crimes de fraude processual e formação de quadrilha (além de tortura e ocultação de cadáver) na nova denúncia à Justiça, que incluiu outros 15 PMs responsáveis, direta ou indiretamente, pelo sumiço de Amarildo. Antes destas provas apresentadas pelo Gaeco, outros dez PMs já estavam presos.

De acordo com a promotora e integrante do Gaeco Carmen Eliza Bastos de Carvalho, um policial infiltrado tinha suas gravações telefônicas interceptadas por autorização judicial. Diante disso, o major Edson Santos, então comandante da UPP da Rocinha, "já tendo conhecimento de que este policial estava sendo ouvido, montou sua equipe para fazer essa tentativa (de atrapalhar as investigações), colocando a culpa no tráfico local".

A gravação do traficante em questão, o "Catatau", consta no inquérito da 15ª DP (Gávea) que, originalmente, culpou o tráfico de drogas pelo sumiço de Amarildo, dentro do operação Paz Armada. Deflagrada um dia antes do desaparecimento do auxiliar de pedreiro, a operação tinha como objetivo coibir o tráfico de drogas na comunidade. Após conflitos nas investigações, a Divisão de Homicídios da Polícia Civil assumiu as investigações.

Fonte: Portal Terra