Comissão da Verdade relembra 50 anos do Massacre de Ipatinga

O confronto de policiais militares com trabalhadores da Usiminas e que ficou conhecido como Massacre de Ipatinga completa 50 anos nesta segunda-feira (7). No dia 7 de outubro de 1963 os funcionários da Usiminas, em Ipatinga, Minas Gerais, protestavam denunciando as más condições de trabalho e a humilhação que sofriam ao serem revistados antes de entrar e sair da jornada de trabalho.

Massacre de Ipatinga

De cima de um caminhão, 19 policiais militares atiraram nos trabalhadores. Oficialmente, oito pessoas morreram (inclusive uma criança no colo de sua mãe) e 79 ficaram feridas.

Para relembrar o episódio, considerado uma prévia da repressão militar que tomaria conta do país a partir de 1964, a Comissão Nacional da verdade (CNV) realiza uma audiência pública no Fórum de Ipatinga para tratar do assassinato dos trabalhadores. A intenção é recolher depoimentos de sobreviventes e familiares que tragam novas informações sobre o caso. A principal dúvida que recai sobre o caso é quanto ao número de vítimas, que pode ser bem maior que o oficial. Estimativas do Fórum Memória e Verdade do Vale do Aço, organização da sociedade civil autora do pedido que levou à organização da audiência, apontam cerca de 30 mortos.

De acordo com a pesquisa realizada pelo Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão, da CNV, e pelo Fórum Memória e Verdade do Vale do Aço, os trabalhadores dos primórdios da Usiminas eram submetidos a condições salariais, de trabalho e de vida precárias e violadoras de qualquer concepção de justiça social. Para que a pauta reivindicatória e o comportamento dos trabalhadores não saíssem do controle da empresa, segundo ainda a pesquisa, eles eram mantidos sob o controle de violenta vigilância privada e também estatal, a cargo da Polícia Militar, responsável pela vigilância patrimonial da Usiminas, então sob ordens do governador Magalhães Pinto.

No dia 6 de outubro de 1963, véspera do massacre, ocorreu o prenúncio de conflito quando vigilantes e policiais a serviço da vigilância da Usiminas realizaram uma ação violenta de espancamento e prisão de cerca de 300 operários do alojamento Chicago Bridge. Diante da violência, os operários decidiram não entrar na Usiminas no dia seguinte e permaneceram em frente a um de seus portões exigindo melhor tratamento pela vigilância da empresa e pela PM.

De 2 mil a 5 mil trabalhadores foram até a frente da empresa, onde foram encurralados por uma cerca e um caminhão com 19 policiais militares armados, inclusive com metralhadora. O massacre foi fotografado por José Isabel Nascimento, fotógrafo amador, que foi um dos únicos a fotografar o ataque. Porém, foi atingido por vários tiros durante o episódio e faleceu dez dias depois na Casa de Saúde Santa Terezinha.

Além da audiência pública, também serão realizados uma caminhada e uma missa em Ipatinga para relembrar o episódio.

Fonte: Agência Brasil