Carlos Ayala Ramírez: América Central e o desafio das cifras 

Hoje em dia, sabe-se que a informação é um valioso insumo para fortalecer a transparência e a prestação de contas. Seu conhecimento e análise possibilita melhorar a qualidade do debate político e a participação cidadã, tão necessários nas sociedades onde predomina a propaganda, a demagogia e a manipulação da consciência coletiva.

Por Carlos Ayala Ramírez*, na Adital

Por isso, documentos como o ‘Estado de la Región: estadísticas de Centroamérica 2013’ ou ‘Bienestar infantil en los países ricos: un panorama comparativo’, da Unicef, são sumamente úteis na aproximação à realidade de nossos países. Do primeiro documento, expomos, a seguir, alguns pontos que representam verdadeiros desafios para o istmo e para os países que o constituem.

Durante os últimos 50 anos, a população da América Central aumentou em aproximadamente 30 milhões de pessoas: passou de 12,7 para 42,7 milhões entre 1960 e 2010. Destaca-se o fato de que um em cada 3 habitantes da região é guatemalteco. Por outro lado, a esperança de vida em cada região aumentou em 17,5 anos: de 56,5 anos, em 1960 para 74, em 2010. E todos os países conseguiram alcançar uma esperança de vida maior aos 70 anos. No entanto, atualmente, El Salvador, Honduras e Guatemala têm esperança de vida que a Costa Rica tinha há 30 anos.

Dado o crescimento da população, a América Central teve, em 2011, aproximadamente 3 milhões mais de pessoas pobres do que em 2000: passou de 17,8 para 20,8 milhões durante esse período. A Guatemala é o país mais desigual da região; no outro extremo está a Nicarágua, com o menor índice de desigualdade. Nesse marco, o grupo populacional que faz parte da força de trabalho ativa aumentou em cerca de 5 milhões de pessoas durante a última década: de 13,5 milhões em 2000 para 18,5 milhões em 2011. O desemprego atinge mais às mulheres. El Salvador e Honduras são os únicos países nos quais a taxa de desemprego dos homens é superior a das mulheres. Em 2011, a diferença foi de 3,8% e 1,1%, respectivamente.

Segundo sua participação no mercado intrarregional, os países da América Central se dividem em três blocos. Para a Guatemala e El Salvador, esse mercado tem sido o destino de 30% a 40% de suas exportações; para a Costa Rica, Honduras e Nicarágua representam entre 10% e 15%; enquanto que para o Panamá representa somente 1%. No que se refere às remessas, em média, estas passaram de 4,7% do PIB regional em 2000 para 7,7% em 2011. Honduras é o país da região onde a participação das remessas na economia é maior, com 15,8% de seu PIB em 2011.

Em conjunto, os países da América Central conseguiram reduzir sua dívida externa durante a última década. Assim, a dívida da região passou de 50,3% do PIB em 2000 para 31,5% em 2011. Honduras e Nicarágua foram os países que mais diminuíram sua dívida externa em dito período (39 e 87 pontos percentuais do PIB, respectivamente). Em contraste, na década, Belize e El Salvador aumentaram sua dívida externa em 7 e 12 pontos percentuais do PIB, respectivamente. Em estreita relação, durante os últimos três anos (2009-2011) todos os países, exceto a Costa Rica e o Panamá mostraram certo incremento na carga tributária. No entanto, somente em Belize e na Nicarágua os impostos representam mais de 15% do PIB. Cabe ressaltar que esse é um umbral muito baixo em relação à média da América Latina (18,4% do PIB), e mais ainda ao se comparar com as nações mais desenvolvidas do mundo, onde esse indicador atinge 36,3% do PIB.

Na área do investimento social, a Costa Rica ampliou a brecha no gasto público em saúde como porcentagem do PIB em relação aos demais países da América Central. Além de ser o país que destina uma maior porcentagem do PIB para esse fim, aumentou a relação de investimento durante a década de 2000-2011, passando de 5% do PIB para 8,7%. Em contraste, o país que menos destina à saúde é a Guatemala, com somente 1,1% do PIB.

Com exceção da Guatemala e do Panamá, o gasto público em educação como porcentagem do PIB aumentou durante o período 2000-2011 na região. O país que mais proporção de seu PIB destina para esse fim é a Costa Rica, com 7,1% do PIB em 2011; e o que menos o faz é a Guatemala, com 1,6% do PIB também em 2011. A porcentagem de analfabetismo dos países da América Central reduziu-se à terça parte em 40 anos: passou de 38% em 1970 para 12% em 2010. Somente na Nicarágua ainda atinge mais de 20% da população.

Apesar da ausência de conflitos armados, a América Central é a região mais violenta do mundo. A taxa regional de homicídios praticamente duplicou durante a última década, ao passar de 22 para 40 por cada 100 mil habitantes entre 2000 e 2011. Como um parâmetro a considerar, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que taxas superiores a 10 para cada 100 mil habitantes evidenciam um problema de saúde pública. Na década de estudo, registraram-se na América Central cerca de 168 mil homicídios; 87% desses foram registrados nos três países do triângulo Norte. Honduras é o país com a maior taxa de homicídios do mundo, tendendo a aumentar durante a última década até alcançar seu máximo histórico em 2011: 86,5 homicídios por cada 100 mil habitantes.

Finalmente, entre 2000 e 2011, na América Central, registraram-se um total de 181 eventos naturais que se converteram em desastres e deixaram uma cifra de 4.856 vítimas mortais (80% delas em El Salvador e na Guatemala). No futuro, se prevê que, caso não seja fortalecida a gestão de riscos e da vulnerabilidade, essa quantidade tenderá acrescer, pois o istmo é assinalado como "ponto quente” mais vulnerável à mudança climática dentre as regiões tropicais do mundo.

Esses dados, entre outros, nos mostram com realismo a região que temos e na qual vivemos, com suas tendências demográficas, sociais, econômicas e políticas. É claro que, por detrás das cifras, há pessoas, grupos e estruturas que requerem a formulação de políticas nacionais e a implementação de ações regionais que nos levem à América Central que queremos: inclusiva, democrática, solidária e justa. O acesso a -e difusão de- informação pertinente, veraz e objetiva é um aspecto de primeira importância na busca desse propósito.

*Carlos Ayala Ramírez é diretor da Rádio YSUCA
(Tradução: Adital)