Altamiro Borges: A greve e a intransigência dos banqueiros
A greve dos bancários segue ganhando força em todo o país, segundo relatos dos sindicatos da categoria nos estados. Mesmo assim, os banqueiros mantêm-se totalmente intransigentes e garantem que não concederão aumento real de salário neste ano – fato que não ocorre desde 2003. Na maior caradura, eles alegam que passam por dificuldades em decorrência da retração da economia brasileira.
Publicado 01/10/2013 19:24
Os balanços financeiros, porém, provam que os bancos continuam como recordistas de lucro no Brasil, com taxas bem superiores as obtidas em outros países.
Segundo matéria da Folha, que expressa bem a visão da mídia rentista, "em ano de desaceleração da economia, os bancos já decidiram: não haverá aumento acima da inflação para os bancários. Se não cederem de fato, será a primeira vez desde 2003 que a categoria, uma das mais fortes nas negociações salariais, receberá só a reposição da inflação (6,1%). A negociação dos bancários serve de modelo para os acordos salariais de todo o setor de serviços, segmento de maior pressão para inflação".
"Ninguém está falando em cortar benefícios ou conceder zero de reajuste, o que seria um mau acordo. Ao repor o poder de compra, os bancários continuarão com os melhores salários do mercado, os melhores benefícios e a participação de lucros garantida em convenção coletiva", argumenta Magnus Apostólico, diretor de relações trabalhistas da Fenaban (federação dos bancos). A mentira é descarada e revela toda a arrogância dos banqueiros. Os salários da categoria são ridículos – o piso é de apenas R$ 1.519 e as condições de trabalho são desumanas e estafantes, com inúmeras doenças profissionais.
Como afirma Juvândia Moreira, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, "a proposta de conceder só a reposição da inflação é indecente. A greve continuará até que haja proposta melhor. Um setor que lucrou R$ 59 bilhões não pode dar aumento real? Mesmo que o lucro não tivesse crescido, ainda seria altíssimo. Não tem cabimento". Os bancários em greve reivindicam reajuste de 11,93%, sendo 5% de aumento real, além da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) no valor de três salários mais R$ 5.553,15 fixos, entre outros itens.
"No ano passado, foram nove dias de paralisação, que resultaram em reajuste de 7,5%, sendo 2% de aumento real. Em 2011, os bancários cruzaram os braços por 21 dias e voltaram ao trabalho com reajuste de 9% (1,5% acima da inflação). Foi a maior paralisação desde 2004. Patrões e empregados não sentam para negociar há três semanas. Cada um dos lados espera uma contraproposta. Segundo os bancários, 10.586 agências e centros administrativos nos 26 Estados e Distrito Federal foram fechados devido à greve. A Fenaban não divulga a adesão", relata a Folha.
*Altamiro Borges é blogueiro, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e Secretário Nacional da Questão da Mídia do PCdoB.