Corte do Egito bane atividades da Irmandade Muçulmana

Uma corte do Cairo (capital egípcia) emitiu ordem, nesta segunda-feira (23), que proíbe todas as atividades da Irmandade Muçulmana no Egito. A ordem prevê também o confisco de todas as propriedades da Irmandade e de qualquer instituição afiliada ao grupo transnacional. A medida é implementada quase três meses depois da destituição do presidente Mohammed Mursi (cujo Partido Liberdade e Justiça é filiado à Irmandade) pelo Exército egípcio, e no contexto da detenção de vários líderes do grupo.

Egito protestos - AP Photo

De acordo com o portal Middle East Monitor, a ordem emitida por uma corte do Cairo se resume à proibição das atividades da Irmandade Muçulmana no Egito, inclusive através de outras instituições, como organizações não governamentais ligadas ao grupo.

A Irmandade Muçulmana foi estabelecida em 1928, no Egito, pelo acadêmico teólogo Hassan al-Banna, como um movimento político e sociológico islamita sunita, que está presente, atualmente, em cerca de 70 países. Entre os pontos altos da sua história, pesquisadores atribuem um papel importante à organização no golpe de 1952, que derrubou o rei Faroukh e instituiu a República no Egito.

O ex-presidente Hosni Mubarak, que governava o país desde 1981 (ao substituir o presidente Anwar Sadat, que havia sido assassinado), renunciou à Presidência em 2011, após quase 20 dias de intensos protestos populares.

Em seguida, no primeiro ciclo das eleições do Egito, a Irmandade angariou 65% dos votos. Perseguido sob o regime de Mubarak, o grupo ganhou força política, através do Partido Liberdade e Justiça, liderado por Mohammed Mursi, que venceu as primeiras eleições democráticas do país, propondo uma reformulação da Constituição.

Entretanto, a oposição ao governo de Mursi ganhou força devido às medidas que foram percebidas como autoritárias, inclusive na atribuição de maiores poderes ao presidente. A medida foi justificada por Mursi, à época, como provisória face à ameaça de retomada do poder pelo Exército, mas a perspectiva de uma islamização do país também contribuiu para a intensificação dos protestos contra o governo.

Após a destituição de Mursi pelo Exército (que afirmou responder à vontade popular, representada por protestos massivos e por confrontos entre opositores e partidários do presidente), as forças armadas detiveram mais de mil dos membros e simpatizantes da Irmandade Muçulmana, inclusive o próprio Mursi, entre outros líderes.

Além disso, o governo interino, instalado pelo Exército, autorizou a repressão violenta dos protestos que se seguiram, contra a deposição de Mursi, o que em conjunto com os confrontos de rua entre opositores e simpatizantes do ex-presidente, levou as cifras de mortos também ao milhar e causou a revolta dos membros e seguidores da Irmandade. Ainda, o governo interino do Egito liberou Mubarak da prisão e permitiu a sua detenção domiciliar, no final de agosto.

A repressão contra os membros e simpatizantes da Irmandade Muçulmana levou o vice-presidente interino, Mohammed El-Baradei, que conferia uma perspectiva de legitimidade ao novo governo, a se demitir, após apenas um mês no cargo, em 14 de agosto.

Por esses motivos, crescem os questionamentos sobre o papel do Exército egípcio no governo interino e os objetivos da “continuação da revolução”, como foi denominada a deposição de Mursi pelas forças armadas, lideradas pelo general Abdel Fattah el-Sisi.

Da Redação do Vermelho,
Moara Crivelente