França mantém retórica contra a Síria enquanto acordo é debatido

Neste domingo (15), à televisão francesa TF1, o presidente François Hollande declarou que a opção militar contra a Síria continua sobre a mesa. O presidente francês defende a agressão, ainda que a proposta da Rússia (validada pelo governo sírio) de entrega das armas químicas do país árabe para a destruição ganhe consistência. O secretário de Estado dos EUA John Kerry chega à França nesta segunda-feira (16), para apresentar a Hollande o acordo que desenhou com a Rússia, anunciado no sábado (14).

François Hollande - Reuters

Na declaração que fez à emissora TF1, o presidente francês disse: “A opção militar precisa ser mantida; do contrário, não haverá pressão”. Hollande refere-se à alegação que alguns analistas e líderes políticos fizeram de que o acordo para a entrega do arsenal químico da Síria à supervisão internacional e sua subsequente destruição, como proposto pela Rússia, só foi possível devido à ameaça de agressão iminente contra o país.

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Hollande, Kerry, o chanceler francês Laurent Fabius e o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, têm uma reunião prevista para esta segunda-feira, para desenvolverem um projeto de resolução para o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que pode estabelecer a forma de a Síria assegurar a destruição do seu arsenal químico.

Além disso, os três também se empenham pela manutenção da retórica agressiva, com ameaças sobre as consequências de o governo sírio não cumprir com o acordo. Entretanto, o acordo-quadro anunciado pelo chanceler russo, Lavrov, e pelo secretário de Estado norte-americano, no sábado, estabelece que o assunto será decidido pelo Conselho de Segurança, e não pelo grupo imperialista, como vinha sendo declarado com relação à intervenção militar iminente até a semana passada.

Ainda na semana passada, o chanceler russo Serguei Lavrov propôs ao governo do presidente Bashar Al-Assad um plano diplomático de entrega do seu arsenal, e poucos dias depois o governo sírio enviou à ONU documentos em que demonstrava intenção de assinar a Convenção sobre Armas Químicas, que prevê também a destruição do seu estoque.

A demonstração de compromisso do governo sírio com uma solução política e a da Rússia com uma medida diplomática, alternativa à agressão propagandeada pelos Estados Unidos, pelo Reino Unido e pela França, foram interpretadas pelos imperialistas como uma vitória militar resultante da ameaça, ao invés de um ganho para a paz.

Apesar disso, o empenho diplomático da Rússia e da China são os únicos empenhos efetivos, atualmente, contra uma intervenção militar, pois são membros permanentes do Conselho de Segurança e votariam contra a agressão, caso houvesse uma votação sobre o assunto.

O premiê britânico e autoridades estadunidenses (como o secretário de Defesa Chuck Hagel) tinham manifestado a sua disposição para violar o direito internacional (que só autoriza o uso da força com o consentimento do Conselho de Segurança), ao ameaçarem agir sem o aval do órgão da ONU. Com o acordo-quadro proposto pela Rússia, a iminência de uma agressão é atenuada, mas “ainda está sobre a mesa”, como reiteram frequentemente as autoridades imperialistas.

Por outro lado, nesta segunda, o secretário-geral da ONU se reúne com os membros do Conselho de Segurança para analisar o relatório da equipe de peritos enviada pela organização à Síria, para a investigação sobre o uso de armas químicas, em episódios diversos que culminaram em um ataque no subúrbio de Damasco, em 21 de agosto. O documento foi entregue a Ban neste domingo (15), pelo líder da equipe, o sueco Ake Sellström.

Com agências,
Da redação do Vermelho