Obama enfrenta situação embaraçosa com América Latina no G-20

Na Cúpula do Grupo dos 20 (G-20) que começa nesta quinta-feira (5), em São Petersburgo, na Rússia, o presidente estadunidense, Barack Obama, vai encarar os líderes latino-americanos em um momento político extremamente embaraçoso para o governo dos EUA, por conta de seu plano de ataque contra a Síria e os recentes escândalos de espionagem.

Obama sofre queda de popularidade - AFP

Na chegada ao aeroporto de Pulkovo, a mandatária argentina, Cristina Kirchner, deu o primeiro alerta repudiando de maneira rotunda o projeto de agressão contra Damasco, defendido veementemente pelo presidente que já foi premiado com um Nobel da Paz.

“Não achamos que as mortes se resolvam com mais mortes”, afirmou a presidenta em declarações à televisão pública russa logo que desembarcou no país. Cristina, que preside também o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) até finais de 2014, enfatizou que o tema da intervenção militar ainda não aparece na agenda oficial da Cúpula do G-20, mas ela acredita que isso irá caracterizar a atmosfera no Palácio de Constantino, sede do encontro.

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“Trata-se de uma situação de gravidade institucional global", comentou em referência à decisão da Casa Branca de atacar o governo do presidente Bashar al-Assad, "com base em um pretexto não confirmado pela principal estrutura jurídica da ONU”, disse Cristina.

As discussões em torno de mais uma intervenção militar dos EUA no Oriente Médio, e suas possíveis consequências, é que devem prevalecer nos encontros bilaterais entre os líderes. No entanto, outro assunto delicado para Obama em São Petersburgo será a resposta que dará à presidenta brasileira, Dilma Rousseff, sobre as denúncias de espionagem dos serviços especiais de Washington contra ela e assessores de seu governo.

Essas denúncias de espionagem pela NSA (agência de segurança dos EUA) podem ser o foco principal de conversas entre Dilma e Barack Obama. O Planalto não descarta cancelar a visita aos EUA, prevista para outubro. A presidente estuda um comunicado conjunto com os Brics contra "ações que afetam a soberania dos países". Para agradar a presidenta, Obama cogita dar apoio à pretensão brasileira de ocupar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.

A chancelaria brasileira exigiu no começo desta semana uma resposta por escrito dos Estados Unidos sobre essas acusações, e o próprio titular das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, convocou o embaixador Thomas Shannon para expressar o mal-estar de seu governo. Fontes do gabinete brasileiro informaram que até o momento todas as justificativas apresentadas por Washington foram falsas.

Em uma onda expansiva, o México também reagiu às revelações da imprensa brasileira de que o atual presidente mexicano, Francisco Peña Nieto, foi espionado pelos corpos secretos do país vizinho quando era candidato e ainda depois de vestir a faixa presidencial.

Porta-vozes do governo confirmaram que Washington pediu uma investigação detalhada sobre os relatórios de espionagem ilegal a cidadãos mexicanos, incluídas personalidades de muito alta prominência.

Obama e Pútin

A Cúpula do G-20 começa sob o risco ver sua pauta prévia – centrada em questões econômicas – atropelada pelos atritos entre Estados Unidos e a própria Rússia quando à iminente agressão estadunidense à Síria.

Obama vai defender a intervenção e buscar apoio de outros países, que resistem à ação armada. Também se reunirá com o presidente francês, François Hollande, principal parceiro do grupo de países que deseja atacar a Síria.

A maior oposição à ação armada deve vir de Vladimir Pútin, que se declarou contrário a qualquer intervenção militar no país árabe. O presidente insistiu que Obama, “como Nobel da Paz”, “antes de empregar a força na Síria, deveria pensar nas futuras vítimas”.

Para Pútin, em entrevista à Associated Press, no caso de existirem provas do suposto uso de armas químicas pelo Exército sírio, as medidas punitivas devem ser apresentadas ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Da Redação do Vermelho,
Com informações das agências de notícias