Ban Ki Moon negocia com Obama a retirada dos peritos da Síria

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Ban Ki-moon informou, nesta quinta-feira (29), que os seus inspetores continuam a investigar o uso de armas químicas na Síria até esta sexta (30), e deixam o país no sábado (1º/9), mesmo dia em que devem apresentar os resultados preliminares da sua investigação.

Ban Ki Moon - Reuters

Inicialmente, os inspetores deveriam deixar a Síria apenas no domingo (2/9), e apresentar o seu relatório mais tarde, mas Ban disse ter conversado com o presidente norte-americano, Barack Obama, na quarta-feira (28), sobre como se poderia tornar o processo mais rápido, numa altura em que o crescendo para uma intervenção militar internacional contra a Síria sofre pressões em sentidos diversos.

No Reino Unido, cujo Parlamento vota nesta quinta-feira (29) a autorização para uma intervenção militar, o Partido Trabalhista apresentou uma moção para exigir que seja identificado claramente qual será o papel das Nações Unidas nesta ação.

Os trabalhistas já tinham obrigado o governo conservador do primeiro-ministro David Cameron a se comprometer com a espera pelos resultados das investigações dos peritos antes de participar em uma ação militar, submetendo-se a um segundo debate e votação na Câmara dos Comuns.

Além disso, um grupo de parlamentares estadunidenses enviou uma carta ao presidente Barack Obama, na qual afirmam que uma intervenção militar sem um debate político e o aval do Congresso seria uma violação da Constituição dos Estados Unidos.

Espera-se que os EUA tornem públicas as provas adicionais que dizem ter sobre as alegações de ataques químicos de quarta-feira (21), na região de Ghutta (arredores de Damasco), que mataram centenas de pessoas.

Acusações apressadas e inconsequentes

Os grupos armados, compostos em grande parte de mercenários estrangeiros e islamitas, são acusados pelo governo do presidente Bashar al-Assad e por autoridades russas que estiveram na Síria de orquestrar os ataques para desviar a atenção da equipe de peritos da ONU, convidada pelo governo desde março para investigar as denúncias de armas químicas no país.

Segundo o diário estadunidense New York Times, a apresentação das supostas evidências de que o Exército sírio usou armas químicas “poderá ser feita de uma forma simples, talvez através de um mero comunicado de imprensa”, o que deixaria muito a desejar, mais uma vez, para a legitimidade de tais acusações, que serviram como pretexto para uma agressão militar contra o Iraque, em 2003, e resultaram fajutas e arrasadoras.

Até mesmo o ex-secretário de Estado norte-americano Collin Powell, que advogou pela intervenção, na época, reconheceu que as supostas evidências que tinha contra o Iraque não eram legítimas, e que havia recebido inteligência incorreta.

“Concluímos que o governo sírio fez de fato estes ataques”, afirmou porém o presidente Barack Obama numa entrevista, divulgada nesta quarta (28) à noite, ao canal de televisão pública norte-americana PBS. Obama, mais uma vez recorrendo à espionagem (denominada por ele “vigilância”), disse ter interceptado conversações telefônicas de autoridades sírias sobre o uso de armas químicas.

“Se realmente decidirmos que o uso de armas químicas tem de ter repercussões, o regime de Assad receberá um sinal muito forte de que é melhor não o fazer outra vez”, declarou Obama à PBS, ao justificar a iminente agressão militar contra o país e uma intervenção forjada com base em acusações sem evidências legítimas em um discurso supostamente humanitário.

Além disso, a precipitação da retirada da equipe perita que investiga as denúncias de uso de armas químicas (e que tem sido requisitada no país desde março, pelo próprio governo sírio), prejudica enormemente o trabalho de perícia e arrisca a sua credibilidade, além de poder deixar de investigar regiões em que o uso de armas químicas é denunciado pelo governo contra os grupos armados.

Com agências,
Da redação do Vermelho