UE anuncia retoricamente que reverá as relações com o Egito

A União Europeia (UE) afirmou neste domingo (18) que vai rever as relações que mantém com o Egito. Desde quarta-feira (14) o país é marcado por confrontos violentos entre as forças de segurança e manifestantes pró-governo interino contra manifestantes pró-Mohammed Mursi, o presidente deposto pelo Exército em julho. O número de mortos já chega a 750, segundo um balanço não oficial.

Protestos no Egito - Amr Abdallah Dalsh/Reuters

Após diversas críticas sobre a atuação internacional, especialmente do Ocidente, os Estados Unidos e, agora, a União Europeia dão declarações retóricas, assentadas no pedido de "comiseração" entre os egípcios, sem colocarem em prática, entretanto, medidas mais eficazes que contrariem seus próprios interesses, como seria a suspensão do financimento anual de 1,3 bilhões de dólares dos EUA às Forças Armadas egípcias.

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Em comunicado conjunto dos presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, Van Rompuy e Durão Barroso, respectivamente, a UE afirma que vai manter firme o seu empenho na “promoção do fim da violência, retomada do diálogo político e retorno a um processo democrático”, princípios vagos e frequentemente utilizados pela UE e pelos EUA para manipular politicamente situações internas de países em crise, principalmente quando dependentes de ajuda externa.

“Para esse efeito, e em conjunto com os Estados-membros, a UE vai rever com urgência, nos próximos dias, as suas relações com o Egito e adotar medidas destinadas a alcançar esses objetivos”, afirma a nota.

Van Rompuy e Durão Barroso disseram que é da responsabilidade das autoridades interinas e do Exército pôr fim aos confrontos. "A violência e as mortes dos últimos dias não podem ser justificadas ou toleradas. Os direitos humanos devem ser respeitados e mantidos. Os prisioneiros políticos devem ser libertados", defende a nota de Bruxelas.

A UE afirma que "não há alternativa ao diálogo" e que todas as forças políticas egípcias devem empenhar-se no "futuro democrático do país e inciar um processo político que leve à realização de eleições antecipadas e ao estabelecimento de um governo civil".

O comunicado de Bruxelas surge após um novo apelo a manifestações pela Irmandade Muçulmana, depois da evacuação forçada de centenas de pessoas que ocupavam desde sexta-feira (16) a mesquita al-Fath, que servira de necrotério e hospital de campanha para as vítimas dos confrontos na praça Ramsés. Segundo o Ministério do Interior, 385 pessoas foram detidas depois de saírem da mesquita.

Por "motivos de segurança", a Irmandade Muçulmana cancelou duas manifestações convocadas para este domingo (18), em protestos contra o que consideram ser um “golpe de Estado”, que teve início com detenção do presidente Mohammed Mursi, em 3 de julho.

A Irmandade Muçulmana recusa-se a abandonar as ruas até que o presidente deposto seja reconduzido ao cargo, e acusa as forças de segurança de abrirem fogo indiscriminadamente contra os seus apoiantes.

O governo interino, tutelado pelos militares, afirma, por seu lado, que os apoiantes de Mursi pegaram em armas contra as forças de segurança e, em comunicado divulgado no sábado (17), o Ministério do Interior revelou que mais de mil pessoas foram detidas sexta-feira em todo o país.

Vários dos dirigentes da Irmandade foram acusados de "incitação à violência" e a imprensa pró-governamental refere-se aos manifestantes como "terroristas". Uma versão dos acontecimentos que ajudará a justificar a anunciada intenção de ilegalização do movimento.

“O assunto está sendo estudado”, revelou o porta-voz do Executivo, acrescentando que a proposta para a “dissolução legal” da Irmandade terá sido apresentada pelo primeiro-ministro Hazem el-Beblawi ao ministro dos Assuntos Sociais, a entidade responsável pela concessão de licenças às organizações não-governamentais.

Com informações do Público,
Da redação do Vermelho