Farc e governo dão mais um passo pela paz na Colômbia

 As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP) e o governo colombiano retomaram, nesta segunda-feira (19), as negociações pelo fim do conflito armado. Após recesso de pouco mais de uma semana, as partes discutem agora o segundo ponto da agenda preestabelecida, que trata da participação política de ex-membros do grupo guerrilheiro e da garantia de oposição no país.

Farc e governo dão mais um passo pela paz na Colômbia - Radio Mundial (Venezuela)

No Palácio de Convenções de Havana (Cuba), inicia-se uma nova rodada de diálogo, a décima terceira desde que o processo começou há nove meses. Até o momento, os envolvidos já conseguiram chegar a um acordo na questão de terras e desenvolvimento rural (em maio deste ano).

As Farc propuseram uma reforma política e uma Assembleia Constituinte, mas o governo afirma que esse tema não está em discussão. A guerrilha também defende um processo de descentralização regional e a criação de um fundo de compensação para o desenvolvimento do país. Outras propostas do grupo dizem respeito à democratização da informação e à criação de um Conselho Nacional de Políticas de Informação e Comunicação.

Enquanto a mesa se reúne, internamente o governo do país articula apoio ao processo. O presidente Juan Manuel Santos reuniu, na semana passada, todos os 32 governadores dos departamentos (equivalente a Estados) colombianos em uma Cúpula da Paz. Lá, pediu respaldo aos governantes.

Nesta mesma reunião, Sérgio Jaramillo, alto comissário para a Paz no país e um dos negociadores, explicou aos governadores que o processo em Havana não diz respeito ao “que fazer com as Farc”, mas a encerrar o conflito armado de meio século. “Temos que imaginar uma verdadeira campanha de mobilização cidadã. Assim como fizemos campanha para a guerra, temos que agora fazer uma campanha pela paz”, defendeu Jaramillo.
O representante do governo nas negociações, Humberto de la Calle, disse que se o conflito termina, a situação política no país será mais polarizada. “Com a paz, as armas desaparecerão, mas a política será mais aguda, mais controversa e mais ideológica. Temos que nos preparar para isso”, opinou.

"Nunca se chegou tão longe", declarou De la Calle na semana passada, ao ressaltar que "passo a passo" esperam conseguir um acordo sobre a incorporação das Farc ao sistema democrático em "direta relação" com o fim do conflito.

Guerrilheiros das Farc assassinados

Enquanto as negociações continuam, a pressão militar do governo sobre a guerrilha também é mantida. Dois membros das Farc conhecidos como “Jaimito” e “El Burro” morreram no sudoeste do país em uma operação das forças de segurança, informou a imprensa local.

Os guerrilheiros faziam parte do bloco ocidental das Farc e morreram em um bombardeio realizado em uma área montanhosa do povoado de Toribío, no conturbado departamento do Cauca.

Os corpos de inteligência do Estado conseguiram localizar o acampamento onde estavam os dois rapazes, segundo diversos meios locais, versão que não foi confirmada oficialmente.

Apoio à greve

As Farc apoiaram a greve agropecuária que acontece nesta segunda, na Colômbia, em uma declaração lida perante a imprensa por seu chefe negociador, Ivan Márquez, pouco antes do início das mesas de diálogo.

"Que não se criminalize o direito ao protesto social", pediu Márquez. O líder também afirmou que espera que o "costume" do governo de identificar "toda manifestação de insatisfação social e popular" com as Farc não dê motivo para "tratamentos violentos" contra os setores grevistas.

O protesto foi convocado há dois meses pelo movimento Dignidade Cafeteira, que agrupa um setor dos produtores de café do país. Outros sindicatos do setor anunciaram sua intenção de se somar à greve, assim como caminhoneiros e trabalhadores da saúde. Os grupos reivindicam mais atenção e ajuda do governo.

A delegação guerrilheira solicitou ainda a revisão dos Tratados de Livre Comércio que, segundo eles, foram assinados com os Estados Unidos sem considerar a realidade econômica nacional e desconhecendo a situação precária dos setores produtivos.

“O livre comercio significa tarifa zero, zero benefícios, zero barreiras tarifárias, o fluxo livre de bens e serviços, tudo dentro de um quadro competitivo. Nada disso foi levado em consideração pelos negociadores colombianos", reclamou o representante.

Conflito em Catatumbo

No texto divulgado, as Farc questionam também a postura do governo de não entregar títulos de propriedade aos camponeses que durante anos habitaram as terras de Catatumbo e outras regiões próximas.

Os protestos na região se converteram na mais longa greve que o governo do presidente Juan Manuel Santos enfrentou desde o início de seu mandato (54 dias). Os camponeses lutam por um plano piloto para a substituição de cultivos ilícitos, por maior investimento social e subsídios para a alimentação.

Da redação do Vermelho,
Com informações da Prensa Latina, Agência Brasil e agências internacionais