Paraguai: Líder camponês é assassinado antes da posse de Cartes

O líder camponês Lorenzo Areco foi assassinado na tarde quarta-feira (14), por volta das 13h30, no município de Yby Yau, departamento de Concepción, Paraguai. Areco era secretário de Terra e Reforma Agrária do comitê executivo da Organização Campesina Regional de Concepción 

Por Mariana Serafini, especial para o Vermelho

De acordo com integrantes da Frente Guaçu – coalizão de esquerda dirigida pelo ex-presidente Fernando Lugo – há pouco tempo Areco sofreu ameaças da máfia “narco-política”. Arco era conhecido na Frente por sua honestidade, firmeza e trabalho intenso em favor do desenvolvimento da terra com justiça social.

A transição de governo acontece na quinta-feira (15). O atual presidente Federico Franco (PLRA) transfere o posto para Horácio Cartes (Partido Colorado). Depois de cinco anos distante, o Partido Colorado volta com força ao poder, eles dominaram a política paraguaia por mais de 60 anos, quando Fernando Lugo quebrou o ciclo em 2008.


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O clima em Assunção é um misto de alegria e apreensão. Comemora-se o Dia da Bandeira, e a cidade está toda coloria de azul, vermelho e branco. Em compensação, tanques de guerra e milhares de militares extremamente armados toma as ruas. A ideia é evitar manifestações durante a posse. Porém, movimentos sociais e professores já anunciam, pela internet, intervenções urbanas durante a posse.

O caminho ao redor de Assunção também está cercado de policiamento, e a movimentação nas rodovias é intensa, pessoas estão chegando de todos os lugares para participar da posse, ou das manifestações, o fato é que o Paraguai está mobilizado. 

A morte de Areco um dia antes de Horácio Cartes assumir a presidência com certeza não é o fim de um ciclo. O presidente eleito é acusado de ter envolvimento com o narcotráfico no país, atualmente o Ministério Público investiga denúncias feitas por ONGS paraguaias.

Esse já o terceiro “acerto de contas” – como os campesinos falam por aqui – feito com dirigentes sociais só no departamento (Estado) de Concepción nos últimos dez meses. O Golpe Parlamentar marcou o início de uma grande perseguição aos líderes de movimentos sociais. Já foram mortos Sixto Péres da organização Norte Pyahu e Benjamín Lezcano, dirigente sem-terra do assentamento Arroyito. Já em Curuguaty, onde aconteceu o massacre que terminou na morte de 11 camponeses e seis policiais, dias depois o dirigente Vidal Vega também foi assassinado. Ele era um líder empenhado no esclarecimento do massacre, outros camponeses falam em “queima de arquivo”.

Essas mortes estão longe de serem investigadas pela justiça paraguaia que está preocupada em encontrar culpados para justificar a morte dos seis policiais mortos durante o confronto. Apesar de acontecerem manifestações e existirem muitos movimentos socais empenhados nesta causa, a justiça resiste em mudar o curso das investigações.