Grupo de Cristina mantém-se como 1ª força argentina

Domingo à noite ficou claro como cada força apresentará seus resultados. Mas mais claro ainda ficou que desta vez, diferente das primárias de 2011, as Paso [Primárias Abertas Simultâneas Obrigatórias] não encerram a campanha eleitoral à caminho de outubro, mas que lhe dão uma enorme força, sobretudo porque o oficialismo ficou frente a desafios em nível nacional e provincial daqui à 2015.

Por Martín Granovsky, no Página 12

Cristina emite seu voto na Província de Río Gallegos

O kirchnerismo escolheu apresentar como ponto forte a representação parlamentar, onde renovava menos bancas que o radicalismo. “Somos a primeira força nacional e também somos governo”, disse a presidenta, que sem citar Sergio Massa, o retrucou: “Os David somos nós”, afirmou. Massa havia se apresentado como David frente Golias, que seria o governo nacional.

Cristina Fernández de Kirchner apareceu depois das onze e meia da noite no Hotel Intercontinental e, depois das congratulações pelo alto nível de participação popular no pleito, começou dando sua opinião desta maneira: “Se o tomamos como uma pré-qualificação, estamos em condições de manter e de aumentar a representação parlamentar tanto no Senado como na Câmara de Deputados”.

Sobre Daniel Filmus e Juan Cabandié, os felicitou “por sua muito boa eleição em um distrito difícil”.

“Especialmente quero agradecer a um companheiro que até há um mês e meio era apenas conhecido por 20% do eleitorado da província de Buenos Aires e fez uma pré-eleição excelente”, disse sobre o prefeito de Lomas de Zamora, Martín Insaurralde, o primeiro candidato a deputado nacional da Frente para a Vitória que perdia por pouco mais de cinco pontos frente a Massa. Nessa altura prometeu trabalhar para aumentar o nível de conhecimento de Insaurralde.

Pronunciou várias vezes a palavra “Daniel” olhando, neste caso, ao governador Daniel Scioli. Uma forma, seguramente, de realçar a aliança de ambos daqui a outubro.

A presidenta não falou de derrota, mas lembrou quando, em 2009, “o homem que mudou a vida da Argentina reconheceu aqui sua derrota”. Se referia a Néstor Kirchner, candidato a deputado nacional pela província de Buenos Aires derrotado então por Francisco de Narváez. Aquelas não foram primárias, mas eleições definitivas. Aconteceram um ano depois da crise financeira mundial que desatou a caída de Lehmam Brothers e da crise política interna disparada por iniciativa da resolução 125 e o enfrentamento entre o governo e boa parte dos setores médios.

“Nestes dois meses e meio vamos duplicar o esforço e trabalhar”, disse Cristina. “Mas não esperem que nestes dois meses vá prometer coisas que não vou poder fazer.”

O oficialismo perdeu nos principais distritos (Buenos Aires, Capital Federal, Mendoza, Córdoba e Santa Fé) e também em outros como Santa Cruz, onde os seguidores da Presidenta superavam por pouco os do governador Daniel Peralta. O ganhador foi o opositor Eduardo Costa. Jujuy e La Rioja, distritos estes de forte tradição peronista, foram outros cenários de derrota.

Massa também deixou delineada sua campanha no domingo (11) à noite. “Quero agradecer aqueles que não nos elegeram esta vez e dizer que daqui até 27 de outubro e de frente ao futuro vamos trabalhar para que com confiança nos escolham”, disse o prefeito de Tigre, que citou o Papa e a ideia da “concórdia”. “Digamos basta ao confronto na Argentina”, insistiu em seu discurso de domingo. Como também falou da província de Buenos Aires como palanca nacional, seu discurso permite abrir as linhas de sua futura campanha:

– Uma, que Massa tentará confrontar com o kirchnerismo para polarizar na província de Buenos Aires, mas no possível não o designará com nomes e sobrenomes.

– Outra, que seu modo de confronto polarizante será deixando claro que este outubro é uma escala a outubro de 2015.

– A terceira, que é a mãe de todas as batalhas é a província de Buenos Aires como coração do peronismo.

Números

Mauricio Macri foi o primeiro a festejar, mas os números na Cidade Autônoma permitem prever uma campanha duríssima daqui a outubro.

Nos votos somados da Unem, ganhava Gabriela Michetti para o Senado por 1%, com 94% dos votos escrutinados. Nas candidaturas a deputado a Unem estendeu sua vantagem a 8 pontos de diferença sobre o PRO. O atual presidente do bloco radical, Ricardo Gil Lavedra, saiu em terceiro dentro da Unem. Serão candidatos nos primeiros dois lugares Elisa Carrió e o ex-ministro de Economia Martín Lousteau.

Michetti obteve 31% contra 27% que votou pelo candidato a deputado nacional Sergio Bergman. O “corte de boletas” foi significativo, e parte da vantagem pode ter ido para Carrió, com 50 mil votos a mais em sua postulação a deputada que Pino Solanas em sua candidatura a senador. Lousteau obteve 40 mil votos mais que seu companheiro de lista, o candidato a senador Rodolfo Terragno.

Quase não houve “corte de boletas” entre os que votaram pelo senador Daniel Filmus e os que o fizeram pelo atual legislador portenho e candidato a deputado Juan Cabandié. A diferença entre uns e outros não chegou a um por cento. Filmus obteve 19,83% dos votos e Cabandié 18,97%.

O kirchnerismo ganhou em Misiones e em La Pampa.

Em Mendoza, tal como estava previsto, o ex-vice-presidente Julio Cobos ganhou o primeiro lugar das candidaturas em uma província da qual foi governador entre 2003 e 2007.

Em Chubut, Norberto Yauhar perdeu com o ex-governador Mario Das Neves.

A província de Buenos Aires registrou novidades que explicam a diferença nítida a favor de Massa.

Na Terceira Seção eleitoral (os 19 partidos do sul da Grande Buenos Aires mais La Matanza) a Frente para a Vitória ganhou por 4,5%. Em La Matanza, com a metade dos votos escrutinados, o FPV ganhava por 9 pontos, 40,5% contra 31%. As 0h25min de hoje, também com a metade dos votos escrutinados, a Frente Renovadora ganhava da FPV na Primeira Seção por 19 pontos, 44 a 25%. A Primeira Seção abarca os municípios do norte da Grande Buenos Aires, de Vicente López ao Tigre.

Uma leitura possível dessas porcentagens é que o triunfo da FPV na Terceira Seção é desproporcional com respeito a vitória da Frente Renovadora na Primeira. Não apenas não obteve votos suficientes para compensar a diferença conseguida por Massa no norte, mas que perdeu sufrágios em mãos dos massistas.

Em Lomas de Zamora, sobre 62% escrutinado, a FPV de Insaurralde ganhou por 46% contra 25% da Frente Renovadora. Em Tigre, com 42% escrutinado, Massa ganhava por 64,3% a 15,3% da FPV. Em Almirante Browm a diferença foi menor. O prefeito e candidato a deputado Darío Giustozzi ganhou por 10%.

É provável que o voto a Massa na Terceira não tenha se originado apenas em setores médios, mas também em setores populares. Isso explicaria por que a FPV do prefeito Darío Díaz Pérez perdia em Lanús contra o massismo por cinco pontos, 32% contra 37%.

No interior da província, a FPV não conseguiu reter a superioridade em Tandil, considerado um distrito emblemático. Perdeu por 28 a 25%.

A vitória de Sergio Urribarri em Entre Ríos foi clara. Seus candidatos ganharam por 43,3% contra 21,7% da oposição.

Em Santiago del Estero o kirchnerismo obteve 78% entre os candidatos do radical oficialista Gerardo Zamora e 8% da Frente para a Vitória.

O candidato radical Ricardo Alfonsín se mostrou esperançoso em disputar votos na província de Buenos Aires a seu ex-aliado Francisco De Narváez e a Massa. Margarita Stolbizer e Alfonsín obtinham 12,1% contra 11% de De Narváez. Alfonsín voltou a perder em Chascomús. Saiu terceiro colocado, depois da Frente Renovadora e da Frente para a Vitória.

Em Córdoba o peronismo em sua versão delasotista obteve 30%. Segunda foi a UCR com 22%, terceiro o Pro com 12% e quarto a FPV com 10,8%. O juecismo sem Luis Juez como candidato ficou diluído em um módico 3%.

Em Santa Fe, Hermes Binner refrescou sua primazia com 41,4% dos votos. Ficou em segundo o macrista Miguel do Sel com 25,8%. O ex-governador Jorge Obeid, um peronista que terminou aliado ao kirchnerismo, ficou com 20,8%.

Tradução: Liborio Júnior, da Carta Maior