A Copa vai, as obras ficam

Por Aldo Rebelo*

Obras da Copa 2014

Um antigo ditado ensina que “na guerra, a verdade é a primeira vítima”. O provérbio vale não apenas para a luta armada, mas também se aplica à batalha da informação. E a exatidão dos números é a primeira a ser abatida no campo dos combates midiáticos. Esse é o pano de fundo das “informações e cálculos” que circulam acerca de remoções de pessoas atingidas por obras da Copa do Mundo de 2014.

Falam-se em centenas de milhares de famílias a serem removidas, mas levantamento feito para o Ministério do Esporte, com base na Matriz de Responsabilidades das obras relacionadas à Copa, demonstra que 5.744 imóveis estão na rota de desapropriações. As famílias residentes somam 3.914, das quais 2.319 já foram reassentadas.

Sair do antigo lar é um transtorno, senão um trauma, para as pessoas que o conquistaram com esforço de uma vida. Por isso as intervenções do Poder Público têm de se basear em respeito e compensações. Mas não se deve perder de vista que as “obras da Copa” – aeroportos, portos, avenidas, viadutos, vias de trânsito rápido, veículos leves sobre trilhos – são bens coletivos que constam do Programa de Aceleração do Crescimento e independem do evento da Fifa. Se a Copa fosse cancelada hoje, as obras prosseguiriam, porque seu propósito é servir ao povo brasileiro.

Já está sobejamente demonstrado que a Copa e as Olimpíadas são um grande negócio para o país-anfitrião. Geram investimentos, aumento do Produto Interno Bruto, empregos, crescimento de negócios e de impostos, melhorias nos serviços públicos. A onda econômica dos grandes eventos esportivos vai gerar recursos para mais investimentos em educação, saúde, transporte. De quebra, aceleram obras já previstas, necessárias, urgentes.

Tome-se o caso da Transcarioca, via expressa de ônibus articulado de 39 quilômetros, que ligará o aeroporto do Galeão, na Ilha do Governador, à Barra da Tijuca, passando por 14 bairros do Rio de Janeiro. Trata-se de uma importante inovação para o transporte de massa na cidade, integrado a trens e metrô. Quinhentos milhões de reais serão usados na desapropriação de 1.842 imóveis e reassentamento de 1.660 famílias. A Copa acaba em julho de 2014, mas a obra ficará como legado de melhoria na locomoção diária, aí sim, de centenas de milhares de pessoas.

*Aldo Rebelo é ministro do Esporte

Fonte: Diário de S. Paulo