Vereador denuncia violência contra indígenas no oeste do Paraná

Uma índia foi mantida em cárcere privado, sofreu agressões e tentativas de abuso sexual, numa espécie de sequestro relâmpago, ocorrido na última sexta-feira (2) — quando se dirigia à sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) do Município de Guaíra-PR, onde trabalha como recepcionista.

A jovem é irmã do cacique Inácio Martins, da aldeia Tekoha Marangatu — uma das principais lideranças Guarani da região — e o seu sequestro teria ocorrido como forma de intimidar os indígenas e funcionários da Funai.

Esse grave episódio ilustra a escalada de violência sem precedentes contra os povos indígenas, no oeste do Paraná e indica que um conflito de maiores proporções é iminente. O alerta é do indigenista e vereador em Cascavel, Paulo Porto (PCdoB).

A área de maior tensão na região encontra-se entre Guaíra e Terra Roxa, um dos maiores sítios arqueológicos do Brasil e passagem de reduções jesuíticas. Na região, encontram-se 11 ocupações territoriais indígenas Guarani, porém nenhuma área está demarcada. Para o indigenista, esse ódio contra os povos tradicionais tem sido alimentado por uma intensa campanha anti-indígena promovida por diversas entidades de classe da região ligadas a setores ruralistas, em especial os sindicatos rurais patronais da região.

No 3º Pelotão da PM, em que foi registrado Boletim de Ocorrência, a jovem relatou que um dos agressores, portando uma arma, fez-lhe ameaças, obrigando-a a responder sobre se trabalhava para a Funai e que, diante da confirmação, um dos homens teria disparado ameaças às lideranças guarani da região e enviado um recado: “nós vamos acabar com a Funai e os índios; os fazendeiros não vão permitir que vocês fiquem aqui.”

A indígena também denunciou que vêm sendo cada vez mais constantes as perseguições e tentativas de atropelamentos de índios em Guaíra, por homens dirigindo veículos que exibem adesivos pelo fim das demarcações de terras tradicionais e a extinção da Funai.

Em seu relato à PM, a jovem detalhou que foi abordada nas imediações do Hotel Deville Express, por três desconhecidos, num veículo preto com vidros escuros, e, rapidamente, agarrada por um deles e forçada a entrar no automóvel. Foi mantida no veículo em trânsito, sofrendo agressões físicas, psicológicas e ouvindo ameaças endereçadas às lideranças indígenas e à Funai, por um período de tempo que não saberia informar, até ser solta em uma estrada abandonada do município.

Diante de mais este atentado, o vereador Paulo Porto cobra providências das autoridades de segurança pública para que não ocorra um cenário de violência sem precedentes. “É preciso uma ação rápida das forças de segurança, esta ação não pode – em nenhuma hipótese – ficar sem uma resposta exemplar de poder público”. Porto teme pela integridade física dos Guarani. “Temos o receio que estas ameaças se concretizem a partir de uma escalada de violência sem precedentes em relação aos povos indígenas na região”.

O vereador segue acompanhando os desdobramentos do fato, registrado como sequestro e cárcere privado, no Boletim de Ocorrência Unificado 2013/747092, pelo Subtenente Romualdo de Amorim, do 3º Pelotão PM-Guaíra e por ele encaminhado para a polícia civil a qual cabe investigar e encaminhar para o Poder Judiciário.

Por Júlio Carignano, com colaboração de Márcia Fantinatti