Palestinos precisam de garantias de Israel em prol de negociações

A jornalista israelense Amira Hass escreve, nesta segunda-feira (5), o que considera serem as garantias pedidas pelos palestinos a Martin Indyk, o enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, para a continuidade do processo de paz, cuja retomada foi anunciada na semana passada. Indyk foi nomeado para o cargo pelo secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que vem afirmando um “esforço” pelas negociações entre israelenses e palestinos.

Tzipi Livni e Saeb Erekat - AFP

Amira elabora o que acredita que o chefe da equipe palestina nas negociações, Saeb Erekat, diria a Indyk: “Caro Martin, nós definitivamente entendemos que Israel está preocupada com a sua segurança. É um fato. Nossa coordenação securitária é elogiada pela liderança militar israelense. A verdade? É algo lisonjeiro que a quarta maior potência militar do mundo, onde todos os cidadãos sabem como usar uma arma, tenha tanto medo de nós”.

E continua: “nossa capacidade militar nunca chegará perto da sua, Tzipi”, em referência à ministra da Justiça israelense, Tzipi Livni, chefe nas negociações. “Então, talvez você saiba algo sobre a nossa fraqueza que nós não sabemos?”, perguntaria Erekat aos israelenses, através de Indyk.

“É inimaginável que nós permitamos, durante as negociações, atividades militares contra os seus cidadãos, o que vocês chamam de ataques terroristas, certo? Faremos nosso esforço total para impedir isso, embora seja difícil garantir um sucesso completo. Quem sabe disso melhor que você? Veja quanto esforço vocês têm que fazer para impedir ataques terroristas ‘com uma etiqueta de preço’, ou ataques racistas contra seus cidadãos árabes”, continua Amira.

A jornalista cita ainda, na carta imaginada enviada por Erekat a Indyk, a preocupação dos palestinos com a presença constante dos soldados israelenses em territórios palestinos, inclusive para a “proteção” dos colonos judeus instalados pela administração israelense na Cisjordânia: “Se você está tão preocupado com a segurança dos colonos, quando eles nos atacam, por que não impor um toque de recolher a eles? Bricadeirinha…”

Amira continua, para falar do “acordo de não agressão” dos palestinos contra os cidadãos israelenses, “mas é preciso haver reciprocidade. Você precisa entender, caro Martin, que nosso povo vê o ato de lançar pedras ou o uso de armas como uma reação natural aos ataques israelenses. Para os nossos cidadãos, os ataques não são apenas realizados com explosivos. Isso, caro Martin, é algo que você precisa entender para ser um mediador bem-sucedido”, diria Erekat, segundo a jornalista.

“Por isso, pelo bem da reciprocidade e para não prejudicar as negociações nos próximos nove meses, Israel precisa parar imediatamente de realizar ataques contra nossos cidadãos palestinos e a sua segurança. E por ‘segurança’, entendemos o sentido amplo e inclusivo da palavra”, continua Amira, que exemplifica: “um teto sobre as nossas cabeças”; o fim à negativa do status de residentes aos palestinos que vivem em Jerusalém; planos para desmantelar comunidades rurais sob o controle israelense, da Área C, e expulsá-las para a Área A, sob o controle palestino, serão cancelados; a municipalidade de Jerusalém e o Ministério do Interior irão cessar as demolições de casas em Jerusalém Leste; a Administração Civil deterá a demolição de tendas e outras estruturas na Área C.

Além disso, Amira fala da “segurança alimentar” dos palestinos, quando cita os disparos da Marinha israelense contra os pescadores palestinos em águas da Faixa de Gaza, os disparos da artilharia israelense contra agricultores palestinos nas margens da Faixa de Gaza, e a restrição à movimentação dos pastores palestinos e agricultores no sul de Hebron e no Vale do Jordão (Cisjordânia).

Na seção “segurança empregatícia”, como classificaria Erekat segundo a jornalista, Amira faz referência ao ponto anterior, ao acesso permanente às áreas agricultáveis além da barreira de separação e próximas às colônias, laços comerciais entre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, envio de matérias-primas através das passagens na Faixa de Gaza, o fim ao banimento de estudantes de Gaza na Cisjordânia, e vistos de entrada e permissões de trabalho para cidadãos estrangeiros para darem aulas nas universidades palestinas.

“Segurança da água”, diz Amira: uma suspensão imediata da destruição de cisternas de água; a disponibilização do abastecimento de água garantido pela Companhia Mekorot às colônias israelenses também para todas as comunidades palestinas na Área C, que não têm essa infraestrutura; entre outras.

Além disso, escreve a jornalista, como se em nome de Erekat, “sobre os acordos securitários de uma solução final, exigimos as seguintes garantias: nenhum israelense continua a viver nos guetos dourados que vocês construíram para eles (e para os quais faremos trocas de territórios para deixá-los lá) atacará os nossos cidadãos”, por exemplo.

E continua: “Temos o direito de deter e julgar qualquer israelense vivendo em nossos territórios, que nos ataque, mesmo que venha rezar no Muro Ocidental [das Lamentações] ou na Tumba dos Patriarcas [a Mesquita de Abraão, em Hebron, Cisjordânia]; nenhum comandante militar israelense que se opõe ao acordo irá lançar incursões contra as nossas vilas além da fronteira”.

Amira também aponta questões mais abrangentes e militaristas, como o fim dos voos de aeronaves não tripuladas (drones) israelenses sobre o território soberano palestino, o fim do ataque israelense aos viajantes palestinos pelas estradas da Cisjordânia e também da que conectar a Cisjordânia à Faixa de Gaza, e outras.

“Por que você está tão aborrecido? O quê, você não considera a Faixa de Gaza parte do Estado palestino? Então por que está aqui sentado, falando?”, termina Amira.

Com Ha'aretz,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho