Cúpula do Mercosul: Dúvida, temores e críticas no Paraguai

O Paraguai, suspenso de sua participação no Mercosul desde o golpe de Estado parlamentar de 2012, vê hoje seus líderes políticos debaterem-se entre dúvidas, temores e crítica diante do início da cúpula do bloco integracionista.

A destituição do presidente constitucional do país, Fernando Lugo, em junho do ano passado, desprezando os conselhos de 11 chanceleres da região presentes em Assunção para evitar o sangramento do processo democrático, causou a sanção do Mercado Comum do Sul e da União de Nações Sul-americanas.

A resposta dos autores do golpe foi aumentar a tensão, deixando sem efeito, mediante resolução congressional, sua adesão ao Tratado que inclui as clausulas de defesa da democracia, assinado por Lugo, e recusando o ingresso da Venezuela ao bloco.

A partir de então, a retórica política dominou todos os pronunciamentos sobre o Mercosul e os demais países membros por parte dos partidos políticos tradicionais e dos poderosos setores econômicos e midiáticos da nação mediterrânea.

Enfraquecendo a presença no poder do governo surgido da ilegalidade congressional que isolou internacionalmente o país, surgiu do processo eleitoral a considerada proposta mais racional da necessidade de regresso ao Mercosul.

Com surpresa para muitos, essa opinião correta converteu-se em uma promessa do posteriormente presidente eleito, Horacio Cartes, que advertia da importância das boas relações com Brasil e Argentina, os históricos sócios comerciais paraguaios.

No entanto, a pressão pública de grupos políticos retardatários, os quais são acusados de estarem em sintonia com manobras estrangeiras destinadas a golpear as estruturas integracionistas latino-americanas, impuseram um giro no processo de regresso ao Mercosul.

Esse retrocesso levou os mais recalcitrantes opositores a aproveitá-lo para impedir também a conformação de acordos sobre uma plataforma parlamentar que incluía o apoio à volta ao Mercosul e à colaboração nas tarefas de integração regional.

Ao mesmo tempo, surgiram pretensões de exacerbar a opinião interna com propostas de ordem nacionalista, solicitando ao bloco voltar atrás nos passos dados, entregar sua presidência ao ainda suspenso Paraguai e excluir a Venezuela como país membro.

Muito próximo da Cúpula, os setores da direita paraguaia parecem compreender a impossibilidade de satisfazer tais demandas, situação advertida claramente pelos partidos e organizações progressistas, e especialmente pela Frente Guasú.

A encruzilhada enfrentada agora pelo Paraguai e até a surpresa evidente de grupos que acreditaram que podiam impor condições impossíveis, provoca dúvidas e temores sobre o futuro a alguns, frustração a outros e mais críticas pela errônea estratégia.

O Paraguai, por obra e graça daqueles que elegeram o caminho político equivocado, mal pode desempenhar, neste momento, o papel de espectador diante da importante reunião iniciada em Montevidéu.

Fonte: Prensa Latina