Termina ultimato do Exército e Mursi sugere governo de coalizão

Dezenas de milhares de egípcios saíram às ruas nesta quarta-feira (3), quando terminou o controverso ultimato emitido pelo exército para que o governo do presidente Mohammed Mursi achasse uma solução política para a crise no país; o presidente afirmou que manterá o seu governo mesmo que isso lhe custe a vida. Os egípcios preparam-se para ouvir as declarações do exército a qualquer momento, ainda nesta quarta.

Egito - Reuters

No fim da tarde desta quarta-feira (3), no Egito, ao fim do ultimato, enquanto o exército egípcio ainda não havia emitido uma declaração, Mursi declarou que “a presidência prevê a formação de um governo de coalizão e consenso para gerir a nova eleição parlamentar”.

Tropas egípcias estavam fazendo a segurança dos estúdios de televisão de Cairo enquanto o fim do prazo se aproximava. Shoukry Abu Amira disse, de acordo com o jornal estatal Al-Ahram, que a Guarda Republicana estava assegurando e protegendo o prédio havia vários dias.

O Ministério do Interior avisou à polícia sobre uma resposta firme contra qualquer violência, depois de uma semana de confrontos (que já deixou quase 50 pessoas) intensificados entre oponentes e apoiadores de Mursi.

Os oponentes de Mursi acusam-no de ter traído a revolução ao concentrar o poder nas mãos da Irmandade Muçulmana e seus aliados islamistas, e de colocar a economia em uma queda livre.
Seus apoiadores dizem que ele herdou muitos problemas, e que deveria ser permitido completar o seu mandato, até 2016.

Às vésperas do fim do prazo dado pelo exército para que Mursi “cumpra as demandas do povo”, o general Abdel Fattah al-Sisi teve reuniões com oficiais de alto nível, segundo uma fonte da agência AFP.

Sisi, que também é o ministro da Defesa, também teve reuniões com o líder da oposição, Mohamed el-Baradei, o patriarca cristão copta Tawadros 2º e o xeique Ahmad al-Tayeb, grande imã de al-Azhar (universidade e mesquita, fundada como uma escola sunita de teologia).

Um porta-voz da Irmandade Muçulmana disse, nesta terça (2), que o braço político do grupo, Partido Liberdade e Justiça, tinha se recusado a participar da reunião.

As conversações foram mantidas enquanto milhares de manifestantes opositores do governo de Mursi lotavam a praça Tahrir, do Cairo (epicentro do levante de 2011 que derrubou o regime de Hosni Mubarak), depois de o líder islamista ter dado um discurso televisionado em que rejeitava as demandas pela sua demissão.

Pronunciamento do exército

Os egípcios ainda aguardam por um pronunciamento do exército após o fim do prazo dado a Mursi para encontrar uma solução política à crise, de acordo com uma fonte militar, que não informou uma hora específica para a declaração.

Alguns dos opositores do presidente concordaram com o ultimato de 48 horas, que foi seguido de uma série de demissões no seu gabinete.

Por outro lado, alguns acusaram os generais de prepararem um retorno ao regime militar dos meses entre a queda do ex-presidente Mubarak, em fevereiro de 2011, e o juramento de Mursi, depois da sua eleição, em 30 de junho de 2012.

O diário al-Ahram, do governo, noticiou sobre detalhes das demandas do exército, que previa uma administração interina de até um ano, incluindo o chefe da suprema corte constitucional e um ator proeminente do exército.

A constituição controversa, aprovada pelos aliados islamistas de Mursi em dezembro, seria suspensa por até 12 meses, enquanto uma nova seria elaborada e proposta para um referendo, antes das eleições presidenciais e legislativas.

A oposição da coalizão Frente 30 de Junho disse que estava pronta para somar-se às conversações urgentes para a transição negociada convocada pelo exército.

Com informações do portal Al-Akhbar