Avançar com o povo nas ruas ou assimilar a derrota em 2014

Num esforço que demonstra sua vontade política de atender aos anseios das massas num novo quadro político, a presidente Dilma apresentou um elenco de propostas nos limites possíveis de enquadramento da sua governabilidade. As medidas visam estabelecer uma bem intencionada ponte entre seu governo e a insatisfação popular num complexo e contraditório terreno que, sob a atual correlação de forças, delimita fortemente o alcance da gestão presidencial.

Por Luiz Carlos Antero*

Entre as propostas que podem surtir um maior impacto, está o plebiscito pela reforma política — que, num debate mais amplo, pode contribuir para uma maior participação popular e para aprofundar a democracia no Brasil, destacando-se em especial aspectos como o do financiamento público de campanhas. 

Entretanto, ainda mais que compreender o que se passa no Brasil no atual momento, é indispensável e urgente o esforço da apresentação de um afirmativo e unitário programa popular e democrático enquanto fio condutor das lutas de rua — para as quais qualquer pauta institucional e toda pausa na movimentação terá um sentido provisório e cumulativo, distante do improvável êxito do pensamento ou desejo de uma nova acomodação.

Isto se dá, em suma, a partir do profundo exame, em suas raízes, dos acontecimentos que agitam hoje o país. A partir daí, desde uma visão estratégica, a questão central se apresenta em seu cerne do seguinte modo: urge a tarefa de colocar nas ruas e nas redes um programa baseado nas necessidades mais imediatas e sentidas do nosso povo, focado no aprofundamento da democracia política e estrategicamente voltado ao combate e superação da ditadura do capital financeiro — que impede ainda hoje os avanços do governo federal, eleito pelo voto popular, rumo ao atendimento das demandas sociais e do desenvolvimento nacional soberano, justo, progressista e de combate à concentração da renda e da riqueza.

É este o norte estratégico que deve orientar as demandas apresentadas nas ruas. E isso se dá de modo mais concreto no mais avançado prumo de interesse da maioria do povo: ao lado da proposição dos royalties e dos recursos do petróleo para o financiamento da Educação e seus programas conquistados, as lutas pelas múltiplas e profundas reivindicações vinculadas à mobilidade urbana, do passe livre ao transporte público de qualidade, redução das tarifas de energia, do custo de vida, por melhores serviços de Saúde, entre diversas outras, deve-se sinalizar numa grandiosa campanha popular pela redução das taxas de juros e dos fabulosos lucros dos banqueiros — de uma minoria que acumula, ainda sob os auspícios do Estado, fortunas na jogatina do mercado financeiro.

Um programa que extrapola os estreitos limites macroeconômicos estabelecidos pelo receituário da responsabilidade fiscal, do controle inflacionário e cambial, das medidas de estabilização engessadas pelo superávit primário, pela Desvinculação das Receitas da União e contingenciamentos das rubricas sociais — entre as amarras próprias da camisa de força requerida pelo centro hegemônico financeiro mundial.

Trata-se da forma adequada de condução do combate ao golpe em preparação pela direita e seu comando conservador, sob o programa antagônico que coincide com a busca ou manutenção e conquista de um novo patamar de acumulação para o capital financeiro — conjunturalmente influenciado ainda pelas mudanças de política no Banco Central dos EUA, o FED, que volta atrair para sua economia os voláteis capitais “ciganos” em tour pelo mundo —, somando-se aos reacionários setores aliados internos e externos nas ameaças à democracia. Desse modo, um combate que se dá sob uma embaraçosa,mas dissimulada situação de economia ameaçada, no vértice, em sua subordinação à ciranda monetária do capital.

É este o atual pantanoso terreno da luta de classes no qual se deve disputar cada milímetro da influência que a direita tenta estabelecer sobre as massas em movimento. E no qual, em síntese, é indispensável a clara consciência de que, em instância superior, confronta-se, de modo determinado e sem vacilações, a ditadura do capital financeiro.

Sob a crise, golpe ou avanços, de 20 centavos a R$ 1 trilhão

Num primeiro saldo positivo da onda de manifestações que se alastrou pelo país, emerge com vigor inusitado a consciência da necessidade da reorganização, requalificação e revitalização da expressão política organizada da sociedade.

Neste ambiente se incluem os partidos de esquerda e sindicatos ofendidos pelas correntes de neofascistas ou simplesmente pelos incautos que conhecem mais a engrenagens de equipamentos eletrônicos que a trajetória histórica do Brasil. E nele jogam papel decisivo as organizações de forte inserção na juventude, a exemplo da UNE e da Ubes, dos trabalhadores urbanos, com suas centrais sindicais, e rurais, com a Contag e MST, além das diversas entidades mais avançadas e representativas das minorias sociais.

Tal unidade e avanços podem levar a um novo patamar a democracia política no Brasil, não apenas pela interrupção do golpe antidemocrático em preparação, mas pelos avanços na qualidade das liberdades, da participação social na política e na conquista de uma economia que altere sob alguns aspectos centrais e enfraqueça a dominação do grande capital, voltando-a mais para as aspirações, demandas e necessidades do nosso povo. É esse jogo de forças que requer um progressivo e unitário programa popular e democrático enquanto fio condutor das lutas de rua, de sua continuidade, de sua qualidade, substância e amplitude anti-golpista.

Nos últimos dias, sob a percepção das ameaças de golpe à democracia e do caldeirão de insatisfações em ebulição nas ruas, ganha notável destaque a acomodação que alimentou e prorrogou, sob a lógica sequencial das transições negociadas, as consequências da ação corrosiva produzida pelos conservadores ao longo de 21 anos de regime militar e mais 12 de neoliberalismo. Uma acomodação objetivamente articulada à ação estratégica das elites brasileiras, desde os sinais de total paralisia e ameaças de retrocesso à notável instabilidade da frágil República brasileira.

Sob um quadro de forte, difuso e represado desejo de renovação e de um amplo e múltiplo leque de aspirações, pulverizado e disseminado da cultura moral e política aos serviços públicos, as ruas e praças do Brasil foram ocupadas por multidões que superaram no seu auge o volume anunciado de um milhão e 200 mil pessoas, das quais algo mais do que a metade jovens, ou pessoas que nunca se manifestaram nas ruas, a maioria, saindo do mundo virtual para o corpo a corpo real, convocada pelas redes sociais.

Somente isso, na forma da inevitável ruptura da letargia estrutural dos movimentos sociais, já se destacaria enquanto primeiro e destacado saldo qualitativo, ainda que “anárquico”, da onda de manifestações. E que seria imediatamente positivo, caso seus objetivos fossem tão claros quanto o ímpeto de mudar por parcos vinte centavos ou pela imaginável fábula de R$ 1 trilhão que prenderia o Brasil pela cauda à banca financeira internacional — numa relação que remeteria à amarras do Orçamento da União as causas profundas da escassez de recursos ao fomento e alimento das demandas sociais e nacionais pelo desenvolvimento.

Da anestesia subjetiva à difusa luta nas ruas…

Pois no começo não se conseguia estabelecer, além do transporte coletivo, uma compreensão mais visível acerca das razões pelas quais, desde o início deste junho, um acelerado volume de pessoas manifestava-se nas ruas — e, nessa crescente viragem, a heterogênea e dispersa progressão de pensamentos, propostas e ações sangrando o carisma presidencial. Em suma, um caldo de cultura propenso, à esquerda ou à direita, a pender para o lado que de modo mais rápido e capilar se enfronhe no inconsciente coletivo, atribuindo-lhe norte e consciência.

Nesta e noutras diferentes circunstâncias e conjunturas, em todas as experiências de ascenso do movimento de massas, estaria a influência e mediação pelo proprietário por excelência do Estado, o grande capital e sua mídia autorizada, a quem caberia pactuar o aval da condicional estabilidade aos governos impostos pelas armas, na ditadura militar, ou eleitos pelo voto popular.

Uma relevante particularidade nas condições de hoje, quando pipocam, pulverizadas, inúmeras questões imediatas e sentidas da população embaralhadas e confundidas com aquelas, também difusas, que a expressão midiática apresentou para martelar diariamente e à exaustão (impostos, corrupção, inflação, violência, PEC 37, etc.), entretanto todas unívocas num só objetivo de desviar as atenções do povo quanto à questão central: a contradição antagônica entre a vigência da ditadura do capital financeiro e a democracia política de massas em construção desde 2003.

… e a encruzilhada à frente

Uma contradição que coloca o país diante de uma encruzilhada — para lembrarmos João Amazonas — à qual chegaria de modo inapelável a atual experiência de construção democrática, que contrariou de modo tímido, mas progressivo, não obstante os demarcados limites da “Carta aos Brasileiros”, o polo conservador — a cada aproximação de uma agenda progressista que requeria, ainda sem a efetiva participação popular, solução para as questões de fundo e impasses interpostos aos avanços requeridos pela sociedade.

No entanto, testando em seu conjunto a ousadia do governo quanto às emblemáticas questões proibitivas, da sacralidade dos contratos aos ganhos especulativos, transitando pela regulamentação da mídia, trato da verdade histórica à base de pactos negociados nos cânones de leis como a da Anistia, entre outros formidáveis penduricalhos estabelecidos como intocáveis questões de Estado.

Foi então, no vácuo dos avanços e nas condições de desgaste e ausência de um uníssono ponto de vista programático, que eclodiu a movimentação oriunda do (pedagógico) represamento, ocasionado por diversos fatores entrelaçados, sob a inércia relativa dos partidos políticos e organizações de esquerda e de massa, institucionalmente estabelecidos numa base de governo delimitada pelo impasse quantos aos avanços e hegemonizada pela centro-direita do PMDB.

Ao longo de todo um "pacífico" período, inúmeras questões afetaram cumulativamente, em boa parte sob a causalidade e astuciosa mediação da mídia conservadora, o imaginário das centenas de milhares de pessoas que acorreram caudalosamente às ruas neste junho de 2013, sob o controle “qualitativo” dominante — que, no entanto, viu-se, ele próprio, surpreendido pela imprevisível dimensão da ruptura.

Perdões pelos transtornos

Isto representou, ao termo do represamento, um salto ao qual não se atribui qualidade pelo valor subjetivo, posto que uma hegemônica fatia ou fração das forças políticas de esquerda (e aqui não se fala de direita, provida de uma tibieza que não ergue sequer um "Cansei") esteve muito ocupada nos últimos tempos, retida, sobretudo às malhas da ênfase institucionalista que a distanciou das massas e de seus anseios mais sentidos e profundos de resolução.

E, além disso, portanto, impedida de contemplar de modo panorâmico e dialético a realidade objetiva da qual brotou a intensa movimentação deste junho, acerca da qual não se pode lançar impunemente o manto da desconfiança quanto a um inesperado despertar de energias — vulgarizada pelo oportunista ou ingênuo mote do “acordamos’.

Ou simular espanto diante de seu repentino advento e compulsórias circunstâncias, descontando-se o "fenômeno" predatório dos “marombados” provocadores oriundos da infiltração programada da direita, de sua velha e reciclada “comunidade de informações” e "sugestões" da emblemática mídia golpista e conservadora, articulada a uma prazerosa contribuição do lumpesinato marginal e do seu funcional séquito de meliantes que orbitam na esfera do narcotráfico.

Todos esses aspectos condenados de modo cuidadoso e sem minúcias pela Presidente, ao tempo que destacava como simpática a sentença do front pacifista de manifestantes: “Desculpem o transtorno, estamos mudando o Brasil”. Aliás, mudanças que por sinal, requeridas ao seu governo, foram travadas a contragosto ou postergadas por vacilação.

Para nosotros, contudo o que efetivamente se destaca é a prodigiosa erupção da realidade objetiva. E nenhum espanto. "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem", diria em outros tempos Bertolt Brecht. Do mesmo modo que não se pode exigir que seja "uníssono" seu ostensivo perfil e que disponha de um programa unitário, desde que, em consenso, trata-se de uma movimentação tão heterogênea quanto a espontaneidade e diversidade das suas motivações.

“O povo não é bobo, fora rede Globo

E, nessas circunstâncias, de um fator subjetivo surpreendido “com as calças na mão”, é simbólico e sintomático que a erupção de massas tenha sido impulsionada por uma bandeira tão vulcânica quanto a das tarifas dos transportes coletivos — algo em nada estranho às táticas de impulso das forças de esquerda, em especial quando se trata da força potencial das palavras de ordem particularizadas no percurso impactante das grandes mobilizações.

Além disso, abrigada sob o sensível teto de zinco da mobilidade urbana em cidades inviáveis, destruídas e congestionadas por um caduco modelo tão anacrônico quanto a incapacidade dominante de gestão histórica na resolução das profundas questões estruturais.

Em circunstâncias nas quais, em décadas, não se fez notável um movimento sequer para reverter, ainda que nas estreitas margens do capitalismo, as sequelas de um caos nominado pelo paraíso das montadoras, no qual o transporte de massas ocupa um lugar insignificante, tratado como estorvo e apreciado tão somente do ponto de vista do intocável e sacrossanto lucro dos empresários do setor — como se viu nas negociações conduzidas pelos gestores públicos acuados entre o tucanato e as massas, tão atordoados quanto aquelas vítimas da queda livre nos caminhões de mudanças.

E a bandeira específica abriu o descoordenado leque de insatisfações acumulado e parcialmente pautado — tão farto quanto o espectro das classes e camadas envolvidas nos limites interpostos pela sangria do grande capital. E para acender uma vela ao invés de praguejar sobre a escuridão do ambiente e atordoadas trevas de intelectuais e formadores de opinião, os fatores subjetivos avocados correm atrás dos prejuízos desses anos de letargia e modorra, no inesperado ponto de partida que os fatos em si concluíram.

Pois, mesmo diante da oscilante convicção de que ainda não se impõe uma hegemonia de direita entre as massas, não pode haver dúvidas que este é um cenário privilegiado da luta de classes nas condições do Brasil de hoje.

E em circunstâncias que fogem ao tradicional controle da mídia global e golpista, pois essas manifestações — “para o bem e para o mal” — transitaram essencialmente nas redes sociais, à margem da elaborada receita da sua veia tucana, que não logrou influir sobre os resultados dos processos eleitorais, sofrendo suas derrotas nas urnas e afundando no charco da mentira e das armações ilimitadas no estilo "Mensalão" — fabricado no aconchego das suas cavernas que pretendem ser Millenium.

E que repicou, com bruscas mudanças editoriais, no repúdio popular ao seu trabalho de reportagem e sob furiosas palavras de ordem: “o povo não é bobo, fora rede Globo”. O recado das ruas não foi desse modo destinado apenas aos “senhores políticos”, como disse Renato Machado diretamente de Londres acerca da rejeição aos partidos e às bandeiras. Ou o assustado coelhinho Arnaldo Jabour, desmanchando-se em reverências aos manifestantes.

Dos limites representativos aos anseios participativos

Neste ambiente das interpretações ao inusitado, clareia-se algo do cenário no qual a importância da disputa leva seu polo para as ruas. Em seu bojo, não obstante o saudável-embora-antipático-caos — Ulysses Guimarães diria que “a única coisa que bota medo em político é o povo nas ruas” —, despontam generosas sugestões para as forças políticas e para a Presidente na urgência de se tocar os avanços no Brasil.

Sem admitir que esvaiu-se o grau de articulação do respeitável pensamento intelectual, quando muitos se engessaram na confusa torre de interpretações — e antes de proferir abobrinhas sobre a natureza e multiplicidade dos movimentos —, é saudável, portanto, penetrar numa rica e diversificada realidade concreta, e de espírito aberto auscultar tal miscelânea que, no seu lado inteligente, pode se diferir na essência da agenda dos partidos de direita ausentes do governo e da coluna de centro-direita — de coloração oportunista e hegemonismo fisiológico presente no governo, aspirando empolgá-lo.

Sem sacrilégios a quem se julga esperto — sem sê-lo —, trata-se "apenas" de perceber que a essa massa das ruas, no limite da indiferença exclusiva, pouco interessa a pauta “não participativa” que tramita no palco palaciano e parlamentar, de escassa discussão ou consultas mesmo à sociedade e aos movimentos sociais organizados.

Do mesmo modo que é desconhecida essa mais ampla participação nas necessárias, concorridas e periódicas conferências setoriais promovidas pelo governo. Noutro aspecto, dificilmente alguém, sobretudo desta novíssima geração cyborg da terceira revolução tecnológica, distanciada da literatura básica ou da política institucional, tomou conhecimento da essência da MP dos Portos ou dos leilões do petróleo.

O grau de influência da direita em suas propostas dependerá, no entanto, da inserção e sinergia das ideias empregadas no paradoxo às forças antagônicas aos seus propósitos. É este território no qual deve ter curso a difusão do programa unitário formulado. As forças progressistas e da esquerda, com a militância sobre o governo federal, e na corrida contra o tempo, dispõem então de uma selada oportunidade ao reverter, no âmbito da base governista e com uma maioria extraída das ruas, a tal hegemonia fisiológica adesista, desde a identidade com uma disponível e grandiosa base de massas em ampliação e sequiosa de participação nos mais ousados desafios.

Ou, olhando-as com a desconfiança intelectual de quem admitia tacitamente o fim da História, amaldiçoá-las e entregá-las sem luta à direita, a mesma que pensa reeditar, mais na frente, já em 2014, a tragédia Aznar na Espanha. E exatamente neste caldo de cultura no qual a direita exerceu seu “direito” de interferir e capitalizar o sentimento golpista e de hostilidade à política e aos políticos de quem não se admite em pleno exercício da ação política nas ruas.

Com o povo na rua para avançar

Qualquer leigo em política saberia que “povo na rua” é um evento bem mais substancioso que pesquisas de opinião. Estas, não assimiladas visivelmente por Lula e Dilma para empolgar avanços mais encorpados com o apoio da sociedade. Embora Lula tenha lhe dito, no dia da sua posse, que procurasse o aconchego do povo nas horas difíceis. Simplesmente porque esta base transformadora adquire outra qualidade quando vem diretamente da canícula das praças e, ainda que em seu estado difuso e probatório, com qualidade e calor diferenciados da ênfase nas mornas avaliações de popularidade, que hoje se esvaem entre os dedos presidenciais.

A questão central reside, desse modo, na necessidade de se avançar com base de massas, numa intensa luta da militância de esquerda e do próprio governo, rumo à liberação de recursos para atender as demandas sentidas da sociedade por transporte público de qualidade, Saúde, Educação, etc. Metas que esbarram na sôfrega ditadura do capital financeiro, na esbórnia dos rentistas e agiotas em geral e, além disso, nos tais contratos privatistas que ornamentam a célebre "Carta aos Brasileiros", entre outros atualizados penduricalhos coloniais.

A presidente deve, desse modo, partindo das possibilidades apresentadas, localizar nas ruas, como acenou em seu discurso e medidas ao se referir ao seu manifesto recado, a popularidade para fomentar tais transformações de fundo, percebendo positivamente (como, aliás, declarou) a dimensão da energia que emana dessas multidões na busca do prumo emancipador.

Para isso, basta algo que brota da sinergia bolivariana. Sem aquele medo de ser feliz de uma atualizada e enérgica Frente Brasil Popular. É a única saída vitoriosa, revalorizada por sua histórica firmeza, à margem do risco de crepitar sob o fogo da derrota; ou de assimilar vaias das vozes sujas e dissonantes nos estádios da Copa, proferidas, sem direito a ilusões, pela identificada malta golpista posta em ação e estado de guerra, em contraponto a sua presença no governo e a sua reeleição. A mesma malta que hoje busca, febril, a massa média que respaldou nas ruas aos generais golpistas de 1964.

E que ganha espaço diante da relutância ou pusilanimidade de quem permanece nos cargos de governo tão somente para acalentar projetos e conveniências pessoais. É, por exemplo, o caso dos bajuladores da rede Globo e dos banqueiros de comprovada folha corrida criminal.

Enfim, o inapelável enigma se impõe: ou avançar com o povo nas ruas ou fenecer no espinhoso impasse do petismo em crise, juntamente com os sonhos e esperanças de um Brasil melhor, mais justo, igualitário, soberano e progressista.

Aporta energicamente entre nós a crise que, na Europa e nos Estados Unidos, despencou mais consciente, num forçado despertar, milhões de pessoas às ruas, em manifestações da juventude e de trabalhadores nas falidas economias da Espanha, Portugal, Grécia, Itália, arrostando a França, a Inglaterra e até a mitológica prosperidade da Alemanha. E sem esquecer que, o berço das mazelas mundiais, nos EUA, abalou-se com o emblemático Occupy Wall Street, que mobilizou milhões em Nova Iorque e centenas de cidades americanas com um alvo eleito e determinado: a oligarquia financeira e seus biliardários especuladores.

É mais avançado, estratégico e de interesse da grande maioria dos brasileiros — ao lado das suas mais sentidas reivindicações — unir-se às incontroláveis e compulsórias lutas dos povos na grande campanha mundial contra a jogatina do mercado financeiro. São estes os verdadeiros responsáveis pela crise que, transnacional, percorre o mundo e, nessa elevada instância, também sacode o Brasil.

Os caminhos apontam um claro e indicativo horizonte para o nosso povo. Vamos, a tempo e à luta, para vencer.

* Luiz Carlos Antero é membro da equipe de Pautas Especiais do Vermelho