Assad Frangieh: Um dia de incertezas para o Egito

Uma contagem regressiva já começou no Egito. Dia 30 de junho, a Irmandade Muçulmana comemora um ano de presidência de Mohamed Mursi. O resto dos egípcios se comprometeu com uma grande manifestação popular de rua pela queda do mesmo. O resultado previsto é uma confrontação certa.

Por Assad Frangieh*, no Oriente Mídia

Os partidários de Mohamed Mursi estão determinados a protegê-lo e ameaçam abortar qualquer tentativa de derrubá-lo. Para o crescente numero de opositores egípcios, Mursi sequestrou a revolução e sua agenda é determinada pelos Estados Unidos, Israel e Arábia Saudita. Na guerra de mídia, os dois grupos afirmam supremacia, antecipam a vitória e estão se preparando para resgatar o Egito.

Enquanto isso, o país está mergulhando fundo no caos. Os sinais de recuperação da sua grandeza econômica e liderança política regional estão ausentes. É difícil para qualquer egípcio acreditar que a Irmandade Muçulmana trabalha pela nação e não por sua ideologia islâmica partidária que prega os poderes legislativos, judiciários e executivos antes das reformas sociais e econômicas do Estado. Ao molde do [presidente da Turquia Recep Tayip] Erdogan e seu partido mais otomano e menos turco.

As atitudes mais recentes de Mohamed Mursi em romper com Damasco demonstra um despreparo na liderança, deixando de agir como nação e se apresentando como chefe partidário. A massa maior dos egípcios não consegue entender como a Irmandade Muçulmana protege a Embaixada de Israel no Cairo enquanto os palestinos estão reprimidos em suas fronteiras. O Egito conta com um exército com função de polícia incapaz de estender a soberania nacional sobre uma terra sem lei no Sinai e nem mesmo resgatar seus oficiais e soldados por tribos e bandidos fora da lei. Um exército desmoralizado.

Há o medo de violentos confrontos. A Irmandade demonstra fascínio pelo poder e ignora as forças populares. Não introduziu as reformas e tão pouco apresentou um projeto político que receba credibilidade e suporte da força trabalhadora egípcia e dos setores produtivos da economia. Os egípcios foram se distanciando da prosperidade por muitas décadas e continuam sem perspectivas de um presente esperançoso e um futuro melhor.

A sociedade egípcia se demonstra heterogênea, sem coesão social, sem crença no Estado de Direito e na Justiça, distante de qualquer responsabilidade social e voltada apenas ao sustento básico da família. Apesar disso a cultura de milhares de anos e a consciência política inerente no sentimento árabe de luta continuam resistentes. É essa conexão que surpreendeu ao Mundo quando trouxe os egípcios juntos na Praça Al-Tahrir numa frente pacífica e unida sem distinção de idade, origem, crença e cultura.

Isso já aconteceu antes e poderá acontecer de novo. O que acontecerá nas próximas duas semanas poderá ser um novo episódio do processo de mudança. Os egípcios deverão reconstruir suas pontes de tolerância, compreensão, respeito e confiança. Mais grave do que uma crise política e uma crise econômica, seria uma crise de capital social.

Neste momento da História, as estações estão se mudando. O Egito não exige apenas cuidados. O Egito requer cuidados intensivos.

*Assad Frangieh é analista do GT Árabe