Congresso da UEE-SP homenageia estudantes presos em 1968

“Após 45 anos, o movimento estudantil volta à Ibiúna, interior de São Paulo, carregado da mesma coragem e força para dar seguimento a luta para a construção de um país verdadeiramente livre, democrático, mais igual e soberano”, declarou ao Vermelho Alexandre Cherno, presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), nesta sexta-feira (14), pouco antes do Ato de abertura do 11º Congresso da UEE-SP.

Joanne Mota, de Ibiúna/SP para o Vermelho

Foto: Daniele Penha

Mesa: O vice-prefeito de Ibiúna, Adalberto Marcicano; líder studantil em 1968, José Dirceu; Neusa Simões; Alexandre Cherno; estudante de 1968, Cláudio Tozzi; prefeito e Ibiúna, Eduardo Anselmo; estudante de 1968, Augusto Petta.

De acordo com o dirigente estudantil, realizar o 11º Congresso da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) em Ibiúna significa reafirmar o compromisso dessa geração com as gerações anteriores, com os que tombaram para fazer do movimento estudantil o que ele é. "Hoje, com essa homenagem, reescrevemos o que aconteceu aqui em Ibiúna em 1968. Os estudantes que saíram daqui presos e apontados como terroristas retornam a esta cidade como os verdadeiros heróis que resistiram contra a opressão e as atrocidades do regime militar", afirmou Cherno.

Cherno destacou que participam do Congresso em Ibiúna mais de 1.500 estudantes, que representam mais de 80% das universidades do estado de São Paulo. “Esse encontro da UEE-SP possibilitará um encontro de gerações. Apresentar o que a juventude de 1968 tem em comum com a juventude de hoje, e o que essa geração de agora tem como estratégia para avançarmos na construção de um Brasil mais justo e soberano”, pontuou o dirigente estudantil.

Monumento em homenagem aos estudantes presos em 1968 em Ibiúna.

O 11º Congresso foi aberto com a inauguração de um monumento, na entrada principal da cidade, em homenagem às lutas estudantis. A obra foi doada pelo artista plástico Cláudio Tozzi, estudante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP), de 1968. “É emoção enorme poder homenagear essa geração de 1968, homenagear o movimento estudantil que esteve na linha de frente da resistência à ditadura militar. Tentei traduzir através da arte o que significou essa resistência”, disse emocionado ao Vermelho o artista.

Foto: Daniele Penha

José Dirceu, ex-líder estudantil em 1968, marcou presença na homenagem e salientou que aquele momento era dos estudantes que deram suas vidas pela liberdade do país, pelo o direito de expressão que estava sendo exercitado naquele momento por cerca de 300 pessoas. Na luta contra a ditadura, salientou Dirceu, os estudantes não possuíam a mesma estrutura que possuía o lado opositor. “Nossas armas eram a ânsia de liberdade e a vontade de lutar por essa liberdade”.

Ao ser questionado sobre o papel da juventude em nossos dias, Dirceu reafirmou que “a nossa juventude está acordada, bem acordada, quem não está morta é a repressão, isso é um perigo. É preciso mudar essa polícia, especialmente a polícia de São Paulo. A juventude deve e precisa ter o direito de se manifestar”.

Foto: Daniele Penha

Para o coordenador-técnico do Centro de Estudos Sindicais, Augusto Petta, que também foi preso em 1968 em Ibiúna, aquele era um momento de forte emoção e que trouxe de volta lembranças de um capítulo de único da história política no Brasil. “O reconhecimento nos honra muito, mas a continuidade do que foi iniciado lá atrás é fundamental. E essa continuidade não terá êxito sem a juventude”, externou o dirigente.

Dyneas presente!

Ao final, Alexandre Cherno, muito emocionado, pediu uma grande salva de palmas para homenagear o dirigente comunista, falecido nesta quinta-feira (13), Dyneas Aguiar. “Não pedirei um minuto de silêncio, pois não foi o silencia que moveu Dyneas durante sua longa jornada de luta por nosso país. Viva a Dyneas Aguiar, viva aos que acreditam, viva a luta de todos os estudantes e movimentos do país”, gritou Cherno.

História em prosa e verso

Após a inauguração do monumento, os presentes seguiram em caminhada até a Praça Matriz de Ibiúna, onde cerca de 40 estudantes do ensino, da Escola Estadual Professora Laurinda Vieira Pinto, encenaram um musical que cantou em prosa e verso o que foi o Regime Militar no Brasil e qual o papel do movimento estudantil durante esse período.

“Os estudantes se empolgaram muito ao saber que a UEE-SP iria realizar o Congresso aqui em Ibiúna, especialmente sobre o porquê da realização. Eles se dedicaram um mês em ensaios para traduzir aqui um pouco do que foi a ditadura e do que acontecer aqui em Ibiúna em 1968”, disse ao Vermelho a professora Ângela Moraes.

Ao som dos clássicos musicais que motivaram as lutas nas década de 1960 e 1970, os estudantes contaram aos mais de 400 presentes o que significou o golpe Militar e as lutas dos heróis resistentes. Canções como Roda Viva, entoou os gritos de viva dos presentes e deixou claro qual o significado daquele luta para os cidadãos ibiunenses.

Batalha da Maria Antônia

O circuito das atividades de abertura do 11o Congresso da UEE-SP foi encerrado com a exibição , no Espaço Cultural de Ibiúna, do Documentário “A Batalha da Maria Antonia”, que foi dirigido por Renato Tabajós, estudante da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da USP, em 1968.

Muito emocionado, Renato declarou: “O sentimento aqui hoje exposto é de que a luta continua, de que as coisas ainda estão aí para serem feitas e de que nós somos fomos fundamentais para isso”.

“O filme ficou fiel ao que aconteceu. Ele expressou com fidelidade aqueles momentos que vivemos em 1968”, declarou ao Vermelho José Dirceu ao final da exibição do documentário.

Ele lembrou que “a chamada Guerra da Maria Antônia era um conflito liderado por uma minoria de estudantes da Mackenzie apoiados pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC), grupos paramilitares e pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) contra um dos símbolos da resistência à Ditadura, que era coordenado pelos estudantes da Faculdade de Filosofia da USP”, pontuou Dirceu.