Capistrano: A CLT, o Sindicato do Garrancho e os Comunistas.

 Assistindo às comemorações dos 70 anos da Consolidação das Leis do Trabalho, lembrei-me das conversas que tive com velhos militantes comunistas e sindicalistas, entre eles José Moreira, o Zé de Rosa, um típico militante do Partidão; Lourival de Góis, um operário no estilo bolchevique; Chico Guilherme, líder dos trabalhadores das salinas, personagem do livro “Memórias do Cárcere”, do grande Graciliano Ramos; Joel Paulista, um líder carismático das lutas do Sindicato do Garrancho.

 Todos eles não estão mais entre nós. Todos, velhos camaradas do PCB. Eles marcaram presença na luta da classe operária mossoroense. Luta essa em busca de melhores condições de trabalho: jornada de trabalho de 8 horas, descanso semanal, férias remunerada, aposentadoria por invalidez e por tempo de serviço, 13º salário, entre outras reivindicações.

Luta que culminou com a aprovação, em 1943, da CLT, motivo de orgulho da classe trabalhadora, mas, que requer uma atenção especial com as investidas neoliberais contra essas conquistas. São as aves de rapina da mais-valia querendo retirá-las.

Não foi fácil conseguir transformar em lei as conquistas da classe trabalhadora. Hoje parece fácil, mas não foi. Lembro Zé Moreira me dizendo: “quem era pego com a Carteira de Trabalho, era preso”. A repressão ao movimento operário, aqui no estado, foi violenta. Quantos foram presos? Quantos foram torturados? Quantos foram assassinados? Foram muitos crimes, até hoje não esclarecidos ou mal contados.

Mossoró foi palco de históricas e bravas lutas da classe operária. Lutas que vinham sendo gestadas desde final do século 19, incrementadas com o surgimento do Partido Comunista no início do século 20. Em Mossoró, o PC nasceu sob a liderança dos irmãos Reginaldo. Eles estruturaram e organizaram o Partido Comunista na cidade. Um deles, Lauro Reginaldo, conhecido como Bangu, chegou a ser secretário geral do Partido. Era uma grande figura humana, um líder respeitado.

A professora Brasília Carlos Ferreira, grande estudiosa desse tema, no seu trabalho, “O Sindicato do Garrancho”, publicado pela Coleção Mossoroense em 2000, na página 79 registra, “Entre 1931 e 1935, todos os sindicatos fundados não apenas em Mossoró, mas em toda região Oeste, foram organizados pelo PCB”.

Com a vitória da Revolução Soviética (1917), a luta da classe operária deixava de ser uma utopia para ser uma realidade, proliferando por todos os recantos do nosso país os Partidos Comunistas e as organizações sindicais.

O Sindicato do Garrancho ainda hoje é um tabu, as escolas raramente falam nele, importante movimento ocorrido na década de 1930. Existem poucos trabalhos de pesquisa sobre esse acontecimento histórico. Alguns estudiosos das lutas populares (Brasília Carlos Ferreira, Homero Costa, Rubens Coelho, Wilson Bezerra) têm registrado os fatos que culminaram com o movimento conhecido como Sindicato do Garrancho, marcando com os seus trabalhos a importância da luta dos trabalhadores e do Partido Comunista na busca de condições dignas de vida para a classe operária.

Claro que esse não foi um movimento isolado, ele veio no bojo das lutas dos trabalhadores que ocorriam em todos os continentes e tem suas raízes, modernas, no Manifesto Comunista de 1848, na luta dos trabalhadores norte-americanos que resultou no massacre de Chicago ocorrido no dia 1º de maio de 1886, na presença do movimento anarquista na organização sindical e na criação do Partido Comunista do Brasil em 1922. Também em Mossoró o PCB vai ser o condutor orgânico dessa luta.

Esse “esquecimento” do movimento dos trabalhadores de Mossoró faz parte da estratégia das oligarquias de colocar no esquecimento histórico tudo que pertença ao povo. É mais proveitoso para eles mitificar o que ficou conhecido como Quebra-Quilos, o “primeiro” voto feminino e a “resistência” de Mossoró ao bando Lampião.

Os sindicatos dos trabalhadores do Rio Grande do Norte e os partidos de esquerda estão perdendo uma grande oportunidade de realizarem uma série de seminários, em todas as regiões do estado, sobre os 70 anos da Consolidação das Leis do Trabalho, resgatando as lutas populares e a verdadeira história da CLT.

É crucial que fiquemos alerta, o neoliberalismo não morreu, as suas investidas continuam buscando retirar conquistas históricas da classe trabalhadora. No sistema capitalista sempre quem paga a conta é a classe trabalhadora, basta ver o que vem ocorrendo na Europa, principalmente na Espanha, Itália, Portugal, França e Grécia. Portanto, trabalhadores de todo mundo, uni-vos. O capitalismo está vivo e faminto.
 

Antonio Capistrano – foi reitor da Uern, é filiado ao PCdoB.