Pimentel: O Brasil faz história

A vitória maiúscula de Roberto Azevêdo na disputa pelo cargo de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) diz muito sobre sua capacidade para o diálogo e construção do consenso.

Por Fernando Pimentel*

Essas qualidades, aliadas à competência técnica, foram essenciais para a decisão do governo brasileiro de afiançar sua candidatura.

Campanha encerrada, ganharam todos: o embaixador, a OMC e o Brasil. Em setembro, Azevêdo passa a ocupar um dos cargos mais cobiçados pela burocracia global.

É bom lembrar que algumas das mais importantes decisões da governança global no pós-guerra foram tomadas na OMC, no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional (FMI).

A OMC terá à sua frente um negociador hábil, com prestígio e influência entre seus pares –requisitos fundamentais para o fortalecimento da entidade.

O Brasil, por sua vez, reafirma a importância comercial e geopolítica que conquistou nos últimos anos.

Engana-se, porém, quem imagina que a eleição de Azevêdo facilitará a vida do Brasil no intrincado cenário do comércio internacional. Apesar de ser mais um brasileiro a nos orgulhar, não foi para defender o nosso país que o diplomata se candidatou ao cargo mais alto da OMC.

Sua eleição é antes reveladora da transformação em que o mundo está mergulhado.

Os que desconfiavam da capacidade de o Brasil se posicionar mundialmente não perceberam a força conquistada não apenas pelo país, mas pelos ditos emergentes.

Decepcionaram-se aqueles que até então não tinham enxergado o potencial da parceria entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Os Brics tornaram-se aliados importantes no processo que resultou na vitória de Azevêdo.

A política de aproximação da África, um acerto do governo Lula, mostrou excelentes resultados além do já conhecido salto registrado no fluxo comercial entre o Brasil e o continente. Do mesmo modo, o estreitamento de relações com a América Latina foi fundamental para o resultado positivo de uma corrida que teve como outro finalista um mexicano.

Essa rede que trabalhou em favor da candidatura de Azevêdo foi possível em razão da forma como o Brasil tem se posicionado no tabuleiro global, respeitando valores e costumes de nossos parceiros.

Também deve ser levado em conta o respeito do Brasil às regras da OMC. Como pleitear o comando de uma entidade da qual não se segue as normas? A despeito das acusações de protecionismo, o Brasil não teve de rever decisões de regramento do seu comércio exterior. O contrário já ocorreu.

Fomos vitoriosos em pleitos que contestavam o interesse de grandes economias mundiais- processos em que, saudável coincidência, a atuação do embaixador Roberto Azevêdo foi decisiva para o resultado favorável ao Brasil.

No mais, a vitória de Azevêdo, da Organização Mundial do Comércio e do Brasil foi resultado de muito trabalho.

Já é história a volta ao mundo por 86 países que o embaixador empreendeu nos últimos quatro meses. Também é história a conversa preliminar que tivemos, eu, ele e o chanceler Antônio Patriota, em dezembro de 2011, em Genebra, na primeira vez em que sua candidatura foi aventada.

É história o empenho pessoal da presidenta Dilma Rousseff, que colocou à disposição de Azevêdo um avião e uma equipe para lhe assessorar na campanha. É história o empenho da presidenta e de todos nós, seus ministros, numa campanha em que em todas as audiências com chefes de Estado e ministros estrangeiros pedíamos votos, na abertura ou no encerramento.

Que entre para a história pelas razões mais nobres uma gestão que resgate a importância do multilaterismo e devolva à OMC sua função de reguladora das relações comerciais globais.

* Fernando Pimentel é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Foi prefeito de Belo Horizonte (2003- 2008)

Fonte: Folha de S.Paulo