Cláudio Ferreira Lima: Para entender a economia

Por *Cláudio Ferreira Lima

Estar em dia com o que oferecem os meios de comunicação, inclusive as redes sociais, não faz ninguém entendido no que se passa na economia. É que há no que se ouve, lê e vê muita informação misturada com manipulação, e, sem que, mediante espírito crítico, se separe uma coisa da outra, nunca se chegará ao âmago da questão e, enfim, à clara visão da realidade.

O campo econômico, como o político e o social, é conflituoso por natureza. Por esse motivo, o método para distinguir informação de manipulação consiste em identificar as forças em jogo e a razão da disputa. Vejamos a relação governo-mercado.

Para melhor visualizar a dinâmica dessa relação no Brasil – também válida para a relação governo-sociedade –, observemos que vigora no País o sistema de governo presidencialista, em que o Executivo, entre todos os atores, possui o maior poder de agenda, vale dizer, a capacidade de determinar, por exemplo, quais proposições serão levadas ao Congresso Nacional e quando serão elas apreciadas. Desse modo, a forma mais eficaz para se conhecer a relação governo-mercado é seguir os passos do Executivo no processo de fazer prevalecer as suas prioridades na Agenda Nacional.

A propósito, é bem ilustrativa a recente queda de braço entre o governo e o mercado (lobby dos juros) quando da fixação pelo Comitê de Política Monetária (Copom) da taxa Selic, juro básico da economia e instrumento de combate à inflação.

Como se sabe, a mídia foi tomada por uma campanha pelo aumento da taxa Selic. E aí, como havia sofrido alta estratosférica de preço, o tomate passou a desfilar por toda parte: no plenário da Câmara, nas rádios que tocam a notícia, em artigos de doutos economistas nos jornais de circulação nacional, na capa da revista semanal de maior tiragem, no jornal da noite de maior audiência, no programa de economia da TV por assinatura, nos blogs e nas redes sociais. Os chargistas, claro, não perderam a piada. Nem mesmo deixou de ornar o pescoço de apresentadora matinal de TV. Até a mídia estrangeira entrou na campanha; afinal, há o investidor externo. Noves fora tudo, a Selic aumentou, sim, mas apenas 0,25, abaixo do esperado pelo mercado. Será que a história termina aí? Já podemos com isso afirmar que estamos bem informados? Negativo.

Ninguém pode estar bem informado sem discernir o que se acha em jogo. Ora, todo esse barulho rentista só fez esconder o pomo da discórdia, que não se resume à inflação. O embate é, de um lado, o governo, que luta para baixar os juros, a fim de reduzir o serviço da dívida e incentivar o investimento produtivo, uma de suas principais prioridades; e, do outro, o rentista, que prefere viver de juros a ter de suar no lado real da economia. Em março último, o estoque de aplicações financeiras, concentradas em poucas e poderosas mãos, era, segundo o Banco Central, de R$ 3,2 trilhões, 73% do PIB brasileiro de 2012, calculado pelo IBGE! Está aí um dos grandes obstáculos ao desenvolvimento do País. É isso que nos revela a análise nua e crua dos fatos.

*Cláudio Ferreira Lima é economista

Fonte: O Povo