Em clima tranquilo, Fernando Lugo vota assim que abrem as urnas

Acompanhado pela comitiva da Frente Guasu e com grande presença da imprensa paraguaia, Lugo depositou seu voto por volta das 7 h 40.

Mariana Serafini, de Assunção especial para o Vermelho

O domingo de eleições presidenciais em Assunção parece outro domingo qualquer, pouca gente na rua, ônibus quase não passam. Não fossem os cartazes, muros pintados, placas e adesivos de campanha seria impossível perceber que o país foi às urnas eleger um novo presidente.

Já para os candidatos o dia começou cedo. Desde às 5h da manhã já estavam sendo entrevistados por canais de TV com repercussão por todo o país. O presidente deposto, e agora candidato ao Senado, Fernando Lugo – Frente Guasu – entrou em rede nacional por volta das 6 h 20, e em seguida saiu para votar, acompanhado do candidato à presidência, Aníbal Carrillo, e uma comitiva da Frente.

No colégio Talavera Richer, mesa 22, Lugo depositou seu voto às 7 h 40, tendo chegado por volta das 7h10. Passou cerca de 30 minutos na fila, enquanto isso conversou com a imprensa e com alguns eleitores que já estavam no local. Passou a maior parte do tempo conversando com um “colega de fila”, um senhor que aguardava para votar depois dele.

Questionado sobre o futuro da Frente Guasu depois das eleições Lugo afirmou, “A Frente Guasu é uma força nova, e está crescendo e se consolidando, já é considerada a terceira maior força política do País, é uma coalizão que vai seguir apoiando a democracia no Paraguai”.

As pessoas que esperavam para votar pouco abordaram Lugo, ou Aníbal, pareciam mais interessadas em permanecer em suas filas e garantir seus votos. De acordo com um fiscal eleitoral – que já participou do processo em eleições anteriores – o índice de votantes este ano está menor que o normal. Ele acredita que 50% da população vá sair para votar. “Eu mesmo, se não fosse fiscal não teria saído para votar hoje, esse processo está em colapso, não só no Paraguai, mas por todo o mundo”, disse.

Em seguida, Lugo acompanhou Aníbal Carrillo – candidato à presidência pela Frente Guasu – que vota em uma igreja distante do colégio em que estavam. Lá o clima foi ainda mais apático. O caminho de volta para o comitê de campanha foi tranquilo e sem empecilhos no trânsito, ao contrário do que costuma ser a caótica Assunção do dia-a-dia.

Muito se fala que as pessoas estão desacreditadas do processo eleitoral devido ao golpe. Em entrevista exclusiva para o Vermelho, Aníbal Carrillo disse o contrário: “o Golpe vai levar as pessoas a votarem para que o processo democrático seja restabelecido”. Aparentemente isso não está acontecendo, muitas pessoas não se sentem motivadas ao voto depois que viram seu presidente ser deposto durante um impeachment de 17 horas.

Apesar da calmaria, as fraudes eleitorais não param ou diminuem o ritmo. As mesas de votação devem ser compostas por três pessoas, uma de cada partido, mas isso não aconteceu. Muitas mesas demoraram para abrir porque os responsáveis chegaram atrasados, em um colégio eleitoral nenhum dos responsáveis representantes do partido Unace compareceram e as mesas foram compostas por dois liberais e um colorado, processo ilegal.

Cada eleitor leva em média sete minutos para votar, as cédulas são depositadas em sacos plásticos identificados apenas com a bandeira do Paraguai, não existe uma numeração ou código de barras para controle. Depois de votar a pessoa deve manchar o dedo em tinta para provar que votou e ser impedida de repetir o processo.

As fraudes eleitorais denunciadas pela Frente Guasu no sábado (20) não foram resolvidas e três departamentos – Amambay, Caaguazu e Itapúa – seguem sem fiscais eleitorais para acompanhar o processo de votação. De acordo com o advogado da Frente, os fiscais foram impedidos, pela Justiça Eleitoral, de retirar suas credenciais.